"Contemplar o mundo, distanciando-se dele, torna-se uma forma de “objetivação participante”, ou seja, torna-se um procedimento metodológico que busca, no inverso do pretendido por uma ciência positiva, os elementos epistêmicos cientificamente fortalecedores para o trabalho de campo elaborado pelo intelectual. Nas palavras de Bourdieu, a objetivação participante “visa objetivar a relação subjetiva [do intelectual] com o próprio objeto, o que, longe de levar a um subjetivismo relativista e mais ou menos anticientífico, é uma das condições da objetividade científica genuína” (Bourdieu apud Wacquant, 2006, p. 21-22).A ideia de consciência de si é um elemento importante para a percepção da íntima relação do intelectual com o mundo social. Ao objetivar a sua posição no universo social, a objetivação participante possibilita ao cientista social a ampliação da “vigilância epistemológica” (Bourdieu, Chamboredon e Passeron, 2002). O sujeito da análise surge como um produto historicamente produzido que, em constante relação com o mundo, encontrar-se-ia diretamente influenciado pela sua experiência de vida. Saber domar o “demônio individual” é uma interessante etapa para a análise do mundo social externo ao pesquisador."
Fonte: A prática sociológica como modo de vida: história e biografia no trabalho intelectual