SóProvas


ID
1298647
Banca
NC-UFPR
Órgão
DPE-PR
Ano
2014
Provas
Disciplina
Criminologia
Assuntos

“Deveríamos então supor que a prisão e de uma maneira geral, sem dúvida, os castigos, não se destinam a suprimir as infrações; mas antes a distingui-las, a distribuí-las, a utilizá-las; que visam, não tanto tornar dóceis os que estão prontos a transgredir as leis, mas que tendem a organizar a transgressão das leis numa tática geral de sujeições [...] Em resumo, a penalidade não reprimiria pura e simplesmente as ilegalidades; ela as diferenciaria, faria sua economia geral”. (FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir). Pode-se afirmar que, de modo coerente com o pensamento foucaultiano, o tema central em Vigiar e punir é

Alternativas
Comentários
  • A alternativa (A) é a resposta.

  • UMA VISÃO PANORÂMICA DA FILOSOFIA

    3.1 Um paralelo entre as diferentes concepções filosóficas

    Esse pensamento contemporâneo nasceu com os estruturalistas, não para definir uma única verdade, mas analisar o sujeito em sua própria existência e questionar “os sistemas”que desejava definir o sujeito partindo de uma teoria ou um método absoluto que excluía outras forma de pensar, considerando apenas um principio capaz de definir o homem, a saber o “eu pensante “, excluindo as diferenças, o outro, necessários para compreender o ser humano em sua totalidade, o que contemporaneamente Foucault chamaria de repressão.

    Diferente dos idealistas, que tentavam determinar o cotidiano através de uns pensamentos subjetivo que consideravam como o ideal aquilo que partia da consciência individual. Autores contemporâneos, como Foucault, através de vários livros escritos, Arqueologia do Saber, por exemplo, pretende questionar as ciências que tentam determinar a natureza humana a partir de um pensamento absoluto, ideal:

    “Temos que tratar de acontecimentos de tipos e de níveis diferentes, tomados em tramas históricos distintos; uma homogeneidade enunciativa que se instaura não implica de modo algum que de agora em diante e por décadas ou séculos, os homens vão dizer e pensar a mesma coisa, não implica tão pouco, a definição, explicita ou não , de um certo número de princípios de que todo resto resultaria como consequência” . (Foucault, pág.167)


  • A filosofia até a Idade Moderna tentava definir o modo de ser do individuo humano a partir de um princípio, descobertas e teorias, deixando de lado as diversidades culturais. Durante a idade moderna o humanismo(doutrina que considera o homem como objeto e beneficiário de seus esforços intelectuais) foi predominante, mas essa forma de pensar, que partia do pressuposto de que o homem é o centro de todo o conhecimento, partindo dessa concepção sem que esse sistema fosse questionado. Tal sistema tinha que ser visto como o princípio para todas as verdades, inclusive para determinar o modo de ser do individuo. O filósofo era aquele que fazia descobertas para determinar como individuo devia agir.

    Hegel, por exemplo, o último dos idealistas, que de certa forma influenciou o pensamento marxista (síntese-antítese), mas, diferente de Hegel, Marx parte de uma dialética todas as diferentes realidades existência social, enquanto Hegel (2001) acredita somente no conhecimento que parte das ideias sem considerar o temporal, a razão estaria voltada para a autonomia do individuo de articular as ideias, e pouca importância se dava a existência empírica, pela oposição entre mundo empírico e o mundo ideal, entre teoria e pratica. Esse foi um problema que autores contemporâneos a Foucault tiveram que resolver. A fenomenologiaheideggeriana trata do ser ontológico, o que para os gregos seria a existência que transcende a realidade sensível, alcançável somente por uma busca da razão ao espiritual, não mais como uma realidade transcendente que escaparia ao tempo, pelo contrario, o ser em si mesmo faz parte da própria existência, não está além do temporalidade e da intencionalidade. Para Heidegger, ser é a maneira como se torna presente, manifesto, entendido, percebido compreendido, e finalmente conhecido para o ser humano, para o “ ser-aí ” ou “ Dasein ”. Essa visão de Heidegger rompe com a visão tradicional da filosofia de resolver problemas políticos sociais através de um ideal, os problemas são encarados por Heidegger como fenômeno social, ou seja, ele fez uma abordagem fenomenológica da vida social e esses fenômenos seriam determinados pelas previsões humanas: “uma das características fundamentais do ser humano é a ‘perspectiva futura’, que podemos compreender, por exemplo, através das perspectivas a respeito das mudanças de tempo. Quer dizer, o que seria verdade absoluta para os gregos, transcendente ao mundo sensível, com Heidegger (2007) essa verdade em si parte da perspectiva humana e das previsões acerca dos fenômenos temporais, privilegiando a capacidade humana de fazer previsões que determina a existência dos fenômenos, como prever o tempo certo para plantar, não ir a praia porque faz frio, essas previsões constitui o ser em si mesmo, ou seja, o que determina a existência é a própria perspectiva humana acerca do futura.


  • Já não tem mais, após o pensamento Heideggeriano, a pretensão da verdade absoluta, a verdade para todos, por se tratar de verdades que estariam ligadas às ideias perfeitas e atemporais, como o idealismo absoluto de Hegel que parte de uma dialética que não considera os fatos empíricos, mas somente o campo das ideias fora do temporal, ou seja, sem considerar os fenômenos temporais como Heideggeriano fez.

    A filosofia, então começa a utilizar da história para questionar o conhecimento positivista acerca do homem, que o definia a partir da psicologia, e usava esses mesmo conhecimento para definir o homem, por exemplo, como um ser racional, sem considerar a diferença entre um “grupo social”:

    “As formas culturais moram, religiosas,sociais, estéticas) que são as mais afastadas daquelas às quais nos identificamos “: Repousando provavelmente em sólidas bases psicológicas (“a cultura que me formou é forçosamente a melhor “), essa atitude se encontra em quase todas as sociedades. Porém, revela-se particularmente perigosa quando chega a negar o direito do outro à diferença: resulta então no racismo; no genocídio (extermínio sistemáticos de populações humanas) ou no etnocídio (destruição da identidade cultural de um grupo étnico” (Dicionário de Filosofia, pg. 171).

    A filosofia, com Foucault, então deixa de buscar a verdade no objeto positivamente, e parte da análise que determina esse objeto, um conhecimento que é capaz de dar sentido ao mundo, uma vez que essas realidades apresentam a condição humana.


    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    • ABAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Revista ampliada: Martins Fontes,2007.1026 P.
    • FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense,2007. 236 P.
    • HEIDEGGER, Martin.Ser e Tempo, 5. ed: vozes, 2007. 598 P.
    • HEGEL, Georg Wilhelm FriedrichA Razão na Historia: Uma Introdução Geral à Historia da Filosofia. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2001.

  • Conforme o próprio FOUCAULT (1999, p. 26), o objetivo de vigiar e punir é “apresentar uma história correlativa da alma (destaque do professor) moderna e de um novo poder de julgar; uma genealogia do atual complexo científico-judiciário onde o poder de punir se apóia, recebe suas justificações e suas regras, estende seus efeitos e mascara sua exorbitante singularidade”. Destaca-se que Foucault utiliza a terminologia “alma” justamente para enfatizar a questão da subjetividade, da personalidade e, portanto, do próprio sujeito.

    Nesse sentido, Foucault diz que “vigiar e punir” tem por escopo “estudar a metamorfose dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia política do corpo onde se poderia ler uma história comum das relações de poder e das relações de objeto. De maneira que, pela análise da suavidade penal como técnica de poder, poderíamos compreender ao mesmo tempo como o homem, a alma, o indivíduo normal ou anormal vieram fazer a dublagem do crime como objetos da intervenção penal; e de que maneira um modo específico de sujeição pôde dar origem ao homem como objeto de saber para um discurso com status “científico”” (FOUCAULT, 1999, p. 27).

    A assertiva que melhor se enquadra nos objetivos da obra, portanto, é a “a”.

    FONTE:

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis, 1999: editora vozes. 20ª edição.


  • Cada um faz uma interpretação de "FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir"; eu fico com a C.

    Abraços.

  • Mais uma para a coleção das "pérolas das questões de criminologia da defensoria pública"! Próxima questão!

  • Nitidamente, o gabarito dessa questão é de Filosofia e não está relacionada com Criminologia.

     

    Os comentários do colega sobre Hegel (idealismo) e Heidegger (fenomenologia) com Foucalt são bem explicativos, mas desbordam da Criminologia Hehehe

     

     

    Vida longa à república e à democracia, C.H.

     

     

  • Aprendi uma coisa no QC: quer ser defensor público? Leia algum resumo ou esquematizado de filosofia de esquerda. Não leia fontes primárias, vai acabar se confundindo nas questões.

  • A) a descrição de uma alteração nas práticas históricas que culminaria na construção histórica das ciências humanas e de um novo sujeito, sob a égide de uma tecnologia de exame constante e estudo de “casos”. (correta)

     

    Exato, "Vigiar e Punir" é, de fato, um estudo de caso humano (foi realizado em uma prisão francesa), o qual ficou marcado na história. (Mas vamos continuar por eliminação das outras alternativas)

     

    B) a afirmação da liberdade fundamental do ser humano, inerente à própria natureza humana. (errada)

     

    Para Foucalt, o abrandamento das penas estava diretamente ligado a questões econômicas e políticas e não humanistas. A mudança de punir - "poder de punir". Por isso, nunca relacione humanização das penas com Foucalt, as penas deixaram de ser cruéis sim, a época é marcada pela humanização das penas (séc XVIII) sim, mas para o autor elas não se tornaram mais humanas para proteger o ser humano em si.

     

    C) a celebração da progressiva humanização das penas, indo das penas corporais às privativas de liberdade, menos invasivas quanto ao âmbito de autonomia individual. (errada)

     

    Para Foucalt, o abrandamento das penas estava diretamente ligado a questões econômicas e políticas e não humanistas. A mudança de punir - "poder de punir". Por isso, nunca relacione humanização das penas com Foucalt, as penas deixaram de ser cruéis sim, a época é marcada pela humanização das penas sim (séc XVIII), mas para o autor ela não se tornaram mais humanas para proteger o ser humano em si.

     

    D) a apresentação da essência do conceito de poder, que consiste na dominação exercida por um grupo de pessoas sobre determinada pessoa, sob a forma de uma vigilância constante, atualizando o conceito marxista de luta de classes. (errada)

     

    Foucalt não é Marxista, é teoria crítica.

     

    E) a evolução da ideia de justiça penal, antes marcada pela justiça divina e cada vez mais centrada no ser humano, e, portanto, mais justa. (errada)

     

    Para Foucalt, o abrandamento das penas estava diretamente ligado a questões econômicas e políticas e não humanistas. A mudança de punir, "poder de punir". Por isso, nunca relacione humanização das penas com Foucalt, as penas deixaram de ser cruéis sim, a época é marcada pela humanização das penas sim (séc XVIII), mas para o autor elas não se tornaram mais humanas para proteger o ser humano em si.

    --

    Em 20/11/19 às 18:00, você respondeu a opção A.Você acertou!

    Em 23/11/18 às 17:29, você respondeu a opção C.! Você errou!

    Em 20/10/18 às 01:33, você respondeu a opção E.! Você errou!

    O tempo em combinação com o esforço que dita a evolução.

  • Segundo Juarez Cirino dos Santos:

    "Desse modo, FOUCAULT insere o controle da criminalidade no horizonte político das lutas sociais, desde a exploração legal do trabalho, até o regime de propriedade da terra, fazendo pleno emprego de categorias marxistas: a lei penal é definida como instrumento de classe, produzida por uma classe para aplicação às classes inferiores; a justiça penal seria mecanismo de dominação de classe, caracterizado pela gestão diferencial das ilegalidades; a prisão seria o centro de uma estratégia de dissociação política da criminalidade, marcada pela repressão da criminalidade das classes inferiores, que constitui a delinqüência convencional como ilegalidade fechada, separada e útil, e o delinqüente comum como sujeito patologizado, por um lado, e pela imunização da criminalidade das elites de poder econômico e político, por outro lado."

    E aí, gabarito estranho né?

    Fonte:

    http://icpc.org.br/wp-content/uploads/2012/03/30anos_vigiar_punir.pdf

  • Foucalt estava preocupado com os gastos do Estado com os presos e não com os presos em si.

  • Quanto a essa questão vale salientar que o livro Vigiar e Punir constava no edital como bibliografia sugerida.

  • No livro Vigiar e punir (2008), Foucault vem retratar, além da ordem disciplinar, os dispositivos que a fazem ganhar força, pela ordenação espacial, sanção normalizadora e o exame.

    Na ordenação espacial, esgotou-se neste artigo a partir do quadro panóptico. As sanções normalizadoras se referem à imposição de ordem, escala hierárquica, dispositivos de comando e à previsão de comportamentos aceitáveis e eficientes. Quanto ao exame, Foucault (2008:154) insurge: (O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir. (...). É por isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente ritualizado. Nele vêm-se reunir a cerimônia do poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade.)

  • Exato, "Vigiar e Punir" é, de fato, um estudo de caso humano (foi realizado em uma prisão francesa), o qual ficou marcado na história. 

  • quando se abandona a fenomenologia dá nisso: o cara finge que sabe e os outros fingem que entendem. a única forma de se chegar à alternativa é por eliminação.

  • Para mim a D é a questão correta, mas somente a A fala em "tecnologia"..

  • Alguém saberia dizer por que não é a alternativa D?