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ID
1407091
Banca
IBFC
Órgão
SEAP-DF
Ano
2013
Provas
Disciplina
Geografia
Assuntos

As transformações recentes do mundo rural e da relação rural-urbano têm desafiado estudiosos a construírem teorias e conceitos para explicar essa nova realidade. Por essa razão, diversas teorias surgiram, de forma que alguns estudiosos chegaram a decretar o fim do rural. Outros, porém, admitem o seu “renascimento" ou então, em uma via integradora, optam por uma análise que considera a leitura regional mais eficiente que a dicotomia urbano-rural. A questão agrária sempre esteve presente no debate dos rumos do país, permeando a formação sócio-territorial brasileira, assumindo posição às vezes secundária, às vezes estratégica nos projetos nacionais de desenvolvimento econômico. O papel do Estado, como gestor de projetos, deve ser enfatizado quando se analisam os processos econômico-sociais no espaço agrário, efetivados através de políticas públicas: as agrárias, que envolvem os projetos de colonização e reforma agrária; e as agrícolas, voltadas ao crédito e aos preços mínimos. Sobre essa temática, julgue os itens a seguir:

I. Desde o início do regime militar, o Estado adotou instrumentos políticos para exercer suas funções. No caso da agricultura, para promover o desenvolvimento rural elaborou políticas que contribuíram não só para expandir o capitalismo no campo, mas, principalmente, para promover, ainda que timidamente, a reforma agrária. O principal mecanismo da política agrícola foi o Sistema Nacional de Crédito Rural - SNCR (1965). A concessão de financiamentos subsidiados favoreceu a modernização tecnológica da agricultura e a desconcentração de recursos, beneficiando significativo número de proprietários. Guedes Pinto (1995) salienta que a maior parte dos recursos destinados à operacionalização da política agrícola e agrária atenderam direta ou indiretamente os interesses dos pequenos e médios proprietários, contribuindo para reduzir o grau de concentração da propriedade da terra no país.

II. A modernização tecnológica da agricultura iniciada no pós-guerra ganhou intensidade na década de 1970 e acarretou significativas transformações no espaço agrário, nos meios de produção e nas formas de exploração agrícola. Embora a modernização da agricultura não seja sinônimo de mecanização, o uso intensivo de máquinas e implementos foi importante indicador de mudança no padrão agrícola. Vários fatores contribuíram para incrementar a tecnificação da agricultura: a internalização da indústria de tratores e implementos agrícolas, os incentivos dos mercados interno e externo, a criação de linhas especiais de financiamento, os subsídios, a taxa de juros negativos e os longos prazos para pagamento (GONÇALVES NETO, 1991; ABRAMOVAY, 1992).

II. A concentração da terra e dos meios de produção provocou o êxodo rural. Na busca de melhores oportunidades de sobrevivência, os migrantes tiveram duas alternativas: as cidades ou as regiões de fronteira agrícola. Martine & Garcia (1987) sustentam que, ao contrário do que se pensa, a emigração do campo mais intensa não começou no Nordeste ou nos outros estados mais pobres, mas sim nas regiões de maior desenvolvimento. O forte êxodo rural dos tempos modernos se iniciou nas regiões onde o processo de capitalização e mecanização do campo ocorreu primeiro e mais intensamente.

É correto o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • Gab. D

    I- O SNCR acabou não atendendo o fim para o qual foi criado. "Criado em 1965, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), tem três componentes: o crédito de custeio, o crédito de investimento, e o crédito de comercialização. A lógica do sistema era clara. O crédito de custeio permitiria aos produtores a compra de insumos modernos, como fertilizantes e sementes melhoradas, o crédito de investimento era visto como mecanismo para acelerar a adoção de novas tecnologias, como mecanização, correção de solo, irrigação etc., e o crédito de comercialização financiaria a estocagem e os custos de comercialização. No começo os depósitos a vista eram a fonte de quase todos os recursos disponíveis. Os bancos comerciais eram obrigados a destinar um percentual de seus empréstimos para o crédito agrícola. Inicialmente, a taxa era de 10 por cento; mais tarde aumentou para 25 por cento e, em seguida, para 30 por cento. Os bancos privados resistiram diante das taxas obrigatórias e encontraram várias formas de "driblar" as regras. Como uma condição para a obtenção de empréstimos, os bancos freqüentemente exigiam que os clientes deixassem parte dos fundos em depósitos a vista, o que elevava a taxa real de juros. Além disso alguns bancos fizeram poucos empréstimos diretamente para a produção agrícola ou para investimentos. Muitas vezes com o seu próprio consentimento, os clientes desviavam os fundos para outras atividades. Nesse contexto, poucos recursos foram para clientes realmente engajados na produção." Fonte: http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/Revista%20de%20Politica%20Agricola%20-%20Ano%20VIII%20-%20No%2002%20-%20Abr%20-%20Mai%20-Jun%20-%201999.pdf


    II- Correta. Apenas complementando com o trecho de Amstalden, qdo ele diz que a modernização da agricultura não é sinônimo de mecanização: "Amstalden (1991: 07) se refere à modernização da agricultura como: ... o processo de utilização de técnicas avançadas como adubação química, controle de pragas por meios químicos, mecanização e desenvolvimento de novas espécies vegetais e animais etc., mas entendemos também o aprofundamento das relações capitalistas no campo. Essas relações capitalistas se dão pelo uso de trabalho assalariado, produção para um mercado (e não para autoconsumo) e constituição de verdadeiras empresas rurais, que nada têm a ver com antigas propriedades rurais familiares." 


    III- O aumento do número de máquinas, que substituem a mão-de-obra humana, articulado ao uso de agrotóxicos, diminuiu drasticamente a oferta de trabalho no campo, aumentando apenas a demanda por trabalhadores assalariados e temporários. A migração rural, portanto, não é diretamente proporcional aos níveis relativos de pobreza/desenvolvimento das diversas subregiões, mas à expansão das formas capitalistas de produção agrícola.