Trata-se de analisar as políticas sociais como processo e resultado das relações
complexas e contraditórias que se estabelecem entre Estado e sociedade civil, no
âmbito dos conflitos e luta de classes que envolvem o processo de produção e
reprodução do capitalismo, nos seus grandes ciclos de expansão e estagnação, ou seja,
problematiza-se o surgimento e o desenvolvimento das políticas sociais no contexto da
acumulação capitalista e da luta de classes, com a possibilidade de demonstrar seus
limites e possibilidades. [...] As políticas sociais são concessões/conquistas mais ou
menos elásticas, a depender da correlação de forças na luta política entre os interesses
de classes sociais e seus segmentos envolvidos na questão. No período de expansão, a
margem de negociação se amplia; na recessão, ela se restringe. Portanto, os ciclos
econômicos, que não se definem por qualquer movimento natural da economia, mas
pela interação de um conjunto de decisões ético-politicas e econômicas de homens de
carne e osso, balizam as possibilidades e limites da política social (BEHRING, 2009,
p. 304)
Errado. Embora com variações ideológicas às vezes relevantes, na concepção liberal clássica a miséria envolve o demérito individual, a falta de sorte e o acaso, a ordem natural e até providencial das coisas, mas nunca coloca em questão as relações econômico-sociais e as instituições políticas.
A tradição liberal é implícita ou declaradamente atravessada por um refrão social-darwinista: já que a miséria não questiona propriamente a ordem social existente, os pobres são os que fracassaram, aqueles que, por preguiça ou incapacidade, foram derrotados ou aniquilados no âmbito da imparcial "luta pela existência" da qual fala, antes de Darwin, o liberal Herbert Spencer; segundo este, não se deve ir contra a lei cósmica que exige a eliminação dos incapazes e fracassados: "Todo o esforço da natureza consiste em livrar-se deles, limpando o mundo de sua presença e abrindo espaço para os melhores". Todos os homens estão submetidos a uma espécie de juízo divino: "Se realmente tiverem condições de viver, vivem, e é justo que vivam. Se realmente não tiverem condições de viver, morrem, e é justo que morram".
Fonte: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista5/5rev2.htm