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ID
1953922
Banca
Marinha
Órgão
CSM
Ano
2013
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

Segundo Aleluia, citado por Gigliotte e Guimarães (2010), com relação à abordagem familiar no tratamento da dependência química, é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • De um modo ou de outro, se faz necessário abordar três pontos fundamentais:

    1. A falta de informação da família sobre a questão da dependência e sobre o adoecimento do sistema familiar.

    2. A necessidade da mudança imediata dos padrões relacionais disfuncionais.

    3. A necessidade de manutenção desta mudança, que viria com a aquisição de padrões mais saudáveis para o sistema.

  • As famílias chegam ao grupo perdidas e com muita culpa, e ao falarem para outras pessoas sobre sua história, ou ao ouvirem a história de outras famílias, têm a oportunidade de dar novo significado ao próprio sofrimento, percebendo outras formas de lidar com antigas dificuldades. A terapia se inicia pelo ato de desabafar angústias e dúvidas, inicialmente direcionadas para o terapeuta; com o passar do tempo, o grupo vai se tornando importante fonte de ajuda, orientação, apoio e fortalecimento de mudanças.

    A questão da motivação também é tema central da abordagem à família. Portanto, os tratamentos para familiares de dependentes químicos deveriam se ocupar tanto com a eficácia técnica como com a eficácia motivacional.

  • Neuburger chama a atenção para o fato de que o terapeuta deve incluir a família no tratamento, enfatizando que o grau de conhecimento que ela tem sobre o dependente é sua mais importante fonte de ajuda. Esta afirmação reforça a noção sobre a necessidade que os familiares têm de orientação sobre a problemática da dependência, fazendo deste fator um grande motivador para o familiar aderir a alguma proposta de mudança nos seus padrões disfuncionais.

    O tratamento, portanto, tem como objetivo mudar o foco, do pessoal para o relacional, em que todos estarão envolvidos.

  • Teoria familiar estrutural parte do pressuposto de que a família se organiza por meio de padrões que, uma vez conhecidos, decifram o entendimento de sua dinâmica, fornecendo diretrizes eficazes para diagnóstico e tratamento de diversas patologias.

    A estrutura familiar é formada por um conjunto de regras encobertas que determinam os relacionamentos entre seus membros. Essas transações relacionais localizam o espaço que cada pessoa da família ocupa, estabelecendo seu papel e a forma como este é exercido. Quando repetidas, as transações relacionais formam padrões permanentes que são chamados de padrões transacionais. São estes que dão a identidade e, ao mesmo tempo, mantêm a estrutura familiar tal como se apresenta, regulando o modo como seus membros se relacionam.

    Este fato pode ser observado nas famílias através de sua dinâmica relacional. O sistema familiar é dotado de fronteiras que delimitam quem está dentro ou fora, marcando seu espaço de influência.

    Cada indivíduo aprende a se relacionar no sistema utilizando-se de regras que podem, ou não, estar claramente verbalizadas. Quando, por exemplo, em uma família, as pessoas se sentam para conversar sobre o seu dia, batem à porta antes de entrar nos quartos ou quando toda e qualquer dor, seja física ou emocional, é prioritariamente tratada com a ingestão de medicamentos, estabelecem-se aí parâmetros relacionais de comportamento.

  • O desenvolvimento da dependência proporciona o estabelecimento de padrões transacionais rígidos e estereotipados que se perpetuam nas famílias. Tais comportamentos são desenvolvidos de maneira insidiosa, com o consentimento dos envolvidos, e são perpetuados por sua repetição.

  • É muito comum, no início da relação de abuso de substâncias químicas, o usuário contar com o apoio de pessoas que estão disponíveis para ajudá-lo em sua perda de controle. Quando o marido chega alcoolizado em casa, e a esposa trata de dar-lhe café para minimizar os efeitos, limpar sua roupa e ajudá-lo a ir para a cama, estabelece-se aí uma relação de cuidado em dois níveis. No primeiro nível, da esposa que cuida do marido que necessita de ajuda, e em outro, da esposa sóbria que cuida do marido alcoolizado. O primeiro nível poderia já estar na relação e ser esperado, contudo o segundo foi introduzido pelo fato de o marido precisar da ajuda da esposa por ter bebido demais.

    Duas mensagens muito importantes foram estabelecidas nessa situação: a primeira, por parte do marido, foi: ‘Bebi e preciso de ajuda”. A segunda, por parte da esposa, foi: ‘Quando você bebe desse jeito eu estou aqui para lhe ajudar”. A repetição destas atitudes, do marido e da esposa, forma o padrão transacional facilitador do comportamento de abusador de substâncias do marido e daquele de cuidadora do abusador referente à esposa. Estes papéis são complementares e se retroalimentam.

    Assim como a dependência química se estabelece no processo da relação disfuncional do usuário com a substância, no contexto familiar a dependência se desenvolve na interação da família, pelos padrões transacionais que facilitam esta dinâmica.

  • Uma das suas premissas mais importantes é a crença de que os pacientes são capazes de atitudes mais funcionais em um ambiente mais funcional. Pautado neste princípio, o terapeuta precisa exercer um papel bastante ativo e capacitado, para estabelecer um clima de confiança e de cooperação de todos no processo de ajuda

  • O terapeuta deve questionar e ouvir atentamente tudo o que a família tem feito para controlar o quadro patológico. Com essas informações, ele terá um material extremamente rico para basear estratégias, acordos e condutas.

  • Partimos da premissa de que a dependência se manifesta em um ambiente dependente e propício. Se esse sistema não estiver envolvido, as chances de fracasso terapêutico são muito altas. Por isso, incluir e qualificar a família enquanto fonte de recuperação é fundamental para garantir um bom grau de mudança. 

    Uma outra premissa importante da terapia estratégica é que, apesar do e terapeuta exercer um papel bastante ativo, ele não deve, de forma alguma, tentar resolver o problema da família. Muito pelo contrário, um terapeuta capacitado busca, junto com a família, alternativas para a modificação dos padrões que ajudam a manter a dependência no sistema. “Seu papel, portanto, consistirá em fazer o paciente reencontrar os meios de solução autônoma, a fim de poder mais tarde abrir mão desta ajuda. É a passagem de uma visão intrapessoal para uma dinâmica interpessoal.

    Na fase de manutenção, essas condutas precisam ser revistas para acompanhar e alimentar o processo de recuperação, que leva ao controle de si próprio e, consequentemente, à autonomia gradativa. Esse procedimento também trabalha a flexibilidade do sistema — condição fundamental para cultivar relações com padrões saudáveis de relacionamento.

    No início da recuperação, é comum, e muitas vezes indicado, que a família se responsabilize pelo sustento do dependente, mesmo que ele já possua a sua família nuclear, ou more sozinho. Na fase de manutenção, essa situação precisa ser revista, em razão do perigo de sustentar uma cronificação na situação de dependência financeira - que seria extremamente danosa para um adulto em recuperação.

    Se a primeira etapa ocorreu de forma mais ou menos tranquila, podemos esperar maiores turbulências aqui. Não mais havendo o consumo da substância ou o comportamento dependente, a família se defronta com os seus impasses naturais, que estavam encobertos