LETRA B
Chico Mendes, muito mais que um símbolo
Liderança à prova e as reservas extrativistas
Na década de 80, o movimento dos trabalhadores rurais sofreria um duro golpe. No fim da tarde de 21 de julho de 1980, Wilson Pinheiro recebeu um tiro na nuca dentro da sede do sindicato de Brasiléia. Sem cerimônia, um pistoleiro entrou na casa enquanto Wilson, desprevenido, assistia à novela com alguns companheiros.
Esse crime não passaria em branco. Em visita ao Acre logo depois do assassinato, o então presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, fundava com Chico Mendes o partido no estado e aproveitava a ocasião para realizar um ato público contra o assassinato de Pinheiro. “Está na hora da onça beber água”, disse. A frase, na boca de Lula e também na de Chico Mendes, foi considerada um ato de incitação à violência e de subversão, ainda mais depois que um grupo de seringueiros executou o mandante do assassinato de Wilson Pinheiro.
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A mesma ocasião também marca os primeiros passos da aliança dos povos da floresta, com a aproximação entre seringueiros e indígenas, antes inimigos históricos, resultando na idéia que nortearia o movimento a partir de então: a batalha pela instituição das reservas extrativistas. “Na preparação para o encontro nacional, em uma das reuniões, um seringueiro colocou a questão: por que eles não poderiam seguir um modelo de reserva semelhante ao dos indígenas? Daí surgiu a idéia da reserva extrativista”, conta o governador do Acre Binho Marques (PT), que conheceu Chico Mendes quando trabalhava como historiador no Projeto Seringueiro.
A reserva extrativista representava para os seringueiros do Acre a tradução da idéia de reforma agrária para o contexto local. Do modo que a redistribuição fundiária era discutida naquela época, com base no Estatuto da Terra, o modelo tornava-se totalmente inadequado para os trabalhadores rurais acreanos. De novo é o próprio Chico que explica o conceito. “A reserva extrativista é uma forma que nós descobrimos de se fazer uso racional da terra. Você pode plantar culturas permanentes, você pode continuar a extração da borracha, da castanha, de outros produtos extrativistas, inclusive aí se inclui também a questão das árvores medicinais e tanta riqueza que existe nessa mata. Pode-se usá-la e ela pode servir como uma forma de industrialização e se tornar uma região com um grande potencial econômico para o país.”
Leitura completa em: http://www.revistaforum.com.br/2012/02/09/vinte-anos-depois/