SóProvas


ID
2062948
Banca
FUNRIO
Órgão
IF-BA
Ano
2016
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

A concepção de interculturalidade que vem sendo incorporada ao discurso oficial de estados e organismos internacionais e que não questiona o modelo sociopolítico vigente na maior parte dos países compreende-se como interculturalidade

Alternativas
Comentários
  • Em recente trabalho apresentado no XII Congresso da Association pour la Recherche Interculturelle (ARIC), realizado em Florianópolis, em 2009, Catherine Walsh, professora da Universidad Andina Simon Bolívar (sede do Equador) e especialista no tema, em sua palestra de abertura do evento, distingue três concepções principais de educação intercultural hoje presentes no continente latino-americano. A primeira intitula de relacional e refere-se basicamente ao contacto e intercâmbio entre culturas e sujeitos socioculturais.

     

    Esta concepção tende a reduzir as relações interculturais ao âmbito das relações interpessoais e minimiza os conflitos e a assimetria de poder entre pessoas e grupos pertencentes a culturas diversas. No que diz respeito às outras duas posições, baseando-se no filósofo peruano Fidel Tubino (2005), a referida autora descreve e discute a interculturalidade funcional e a crítica. Parte da afirmação de que a crescente incorporação da interculturalidade no discurso oficial dos estados e organismos internacionais tem por fundamento um enfoque que não questiona o modelo sociopolítico vigente na maior parte dos países, marcado pela lógica neoliberal excludente e concentradora de bens e poder.

     

    Neste sentido, a interculturalidade é assumida como estratégia para favorecer a coesão social, assimilando os grupos socioculturais subalternizados à cultura hegemônica. Este constitui o interculturalismo que qualifica de funcional, orientado a diminuir as áreas de tensão e conflito entre os diversos grupos e movimentos sociais que focalizam questões socioidentitárias, sem afetar a estrutura e as relações de poder vigentes. No entanto, colocar estas relações em questão é exatamente o foco da perspectiva da interculturalidade crítica. 

     

    Trata-se de questionar as diferenças e desigualdades construídas ao longo da História entre diferentes grupos socioculturais, étnico-raciais, de gênero, orientação sexual, entre outros. Parte-se da afirmação de que a interculturalidade aponta à construção de sociedades que assumam as diferenças como constitutivas da democracia e sejam capazes de construir relações novas, verdadeiramente igualitárias entre os diferentes grupos socioculturais, o que supõe empoderar aqueles que foram historicamente inferiorizados.

  • O interculturalismo funcional refere-se às concepções em que a interculturalidade é assumida como estratégia para reduzir os conflitos étnicos, manter a paz social e favorecer acoesão social, sem alterar a dinâmica das relações étnico-raciais na sociedade de mercado.

    Sob essa perspectiva, trata-se de favorecer um maior diálogo entre os segmentos étnicos e a sociedade envolvida. Seu cerne é apenas promover uma tolerância à diversidade e aceitar a sua coexistência na sociedade, mas não o seu intercâmbio. De modo geral, a interculturalidade funcional “assume a diversidade cultural como eixo central, apontando o seu reconhecimento e inclusão dentro da sociedade e do Estado Nacional” (WALSH, 2009b, p. 21).