Para Gramsci, cada grupo social fundamental com papel decisivo na produção engendra seus próprios intelectuais, ditos "orgânicos". Assim, a classe burguesa, ao desenvolver-se no seio do antigo regime, traz, consigo, não apenas o capitalista, mas também uma série de figuras intelectuais mais ou menos distantes dele: o técnico, o administrador, o economista, o advogado, o organizador das mais distintas esferas do Estado etc. Tais intelectuais são os responsáveis pela nova forma do Estado e da sociedade, são os "funcionários da superestrutura", que terminam por moldar o mundo à imagem e semelhança da classe fundamental.
Na sociologia gramsciana, os intelectuais de tipo orgânico, ao se desenvolverem, deparam-se com os de tipo "tradicional", herdados de formações histórico-sociais anteriores: clérigos, filósofos, juristas, escritores e outros. Estes intelectuais tradicionais têm um forte sentimento de continuidade através do tempo e veem-se como independentes em relação às classes sociais em luta. De um certo modo, estas últimas tentam capturar para si estes intelectuais tradicionais no processo da luta pela hegemonia. No caso da classe operária, para Gramsci, a luta seria no sentido de afirmar um novo intelectual, não mais afastado do mundo produtivo ou encharcado de retórica abstrata, mas capaz de ser, simultaneamente, especialista e político. Em outras palavras, capaz de exercer uma função dirigente no novo bloco histórico.
O intelectual é, sobretudo, o organizador. E há dois tipos de intelectuais: os orgânicos, direta e intimamente ligados a uma classe e que organizam a sua hegemonia, e os tradicionais, que foram intelectuais orgânicos de uma classe no passado e que mantêm depois um papel mais independente noutra situação social, ajustando-se no interior do bloco dominante. Devido ao afastamento da defesa imediata dos interesses, alguns intelectuais tradicionais representam-se como totalmente desligados do processo de produção e olham para a história das ideias como uma sucessão de indivíduos brilhantes.