- ID
- 2314159
- Banca
- IFB
- Órgão
- IFB
- Ano
- 2017
- Provas
- Disciplina
- Literatura
- Assuntos
Para responder à questão , considere os dois poemas de Oswald de Andrade e o
excerto do livro Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre.
PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(ANDRADE, Oswald de. Pau-Brasil.
São Paulo: Globo, 1991.)
BRASIL
Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da
Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval!
(ANDRADE, Oswald de. Primeiro caderno do aluno de
poesia Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 1994.)
ABRASILEIRAMENTO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL
DOS PRIMEIROS TEMPOS
“A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que a comida: machucou-as, tirou-lhes
as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles.
Daí esse português de menino que no Norte do Brasil, principalmente, é uma das falas mais
doces deste mundo. Sem rr nem ss; as sílabas finais moles; palavras que só faltam desmanchar-se
na boca da gente. A linguagem infantil brasileira, e mesmo a portuguesa, tem um sabor quase
africano: cacá, pipi, bumbum, nenen, tatá, lili […]
Esse amolecimento se deu em grande parte pela ação da ama negra junto à criança; do escravo
preto junto ao filho do senhor branco. E não só a língua infantil se abrandou desse jeito, mas
a linguagem em geral, a fala séria, solene, da gente, toda ela sofreu no Brasil, ao contacto do
senhor com o escravo, um amolecimento de resultados às vezes deliciosos para o ouvido. Efeitos
semelhantes aos que sofreram o inglês e o francês noutras partes da América, sob a mesma
influência do africano e do clima quente.”
(Freyre, Gilberto. "Casa-Grande & Senzala". 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.)
Comparando o poema “Pronominais”, de Oswald de Andrade, com as reflexões de Gilberto
Freyre, sobre as influências sofridas pela Língua Portuguesa no Brasil, é possível considerar: