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ID
2398003
Banca
COMVEST - UNICAMP
Órgão
UNICAMP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

No dia 21 de setembro de 2015, Sérgio Rodrigues, crítico literário, comentou que apontar no título do filme Que horas ela volta? um erro de português “revela visão curta sobre como a língua funciona”. E justifica:
“O título do filme, tirado da fala de um personagem, está em registro coloquial. Que ano você nasceu? Que série você estuda? e frases do gênero são familiares a todos os brasileiros, mesmo com alto grau de escolaridade. Será preciso reafirmar a esta altura do século 21 que obras de arte têm liberdade para transgressões muito maiores?
Pretender que uma obra de ficção tenha o mesmo grau de formalidade de um editorial de jornal ou relatório de firma revela um jeito autoritário de compreender o funcionamento não só da língua, mas da arte também.”
(Adaptado do blog Melhor Dizendo. Post completo disponível em http://www.melhordizendo.com/a-que-horas-ela-volta-em-que-ano-estamos-mesmo/. Acessado em 08/06/2016.)
Entre os excertos de estudiosos da linguagem reproduzidos a seguir, assinale aquele que corrobora os comentários do post.

Alternativas
Comentários
  • Para responder essa questão, com base nos diferentes registros da língua portuguesa e nos estudos sobre linguagem e preconceito linguístico, o candidato deve analisar o trecho citado e indicar qual dos excertos de estudiosos da linguagem corrobora com a ideia do texto. 

    A) Numa sociedade estruturada de maneira complexa a linguagem de um dado grupo social reflete-o tão bem como suas outras formas de comportamento. (Mattoso Câmara Jr., 1975, p. 10.) 
    ERRADO – O post traz uma crítica ao preconceito com o registro coloquial da língua, que faz com que este seja encarado como “erro de português". Este preconceito linguístico muita vezes está ligado ao preconceito referente à origem social dos indivíduos. 

    B) A linguagem exigida, especialmente nas aulas de língua portuguesa, corresponde a um modelo próprio das classes dominantes e das categorias sociais a elas vinculadas. (Camacho, 1985, p. 4.) 
    ERRADO – O post faz uma crítica quanto a exigência da norma culta da língua no título da obra, pontuando que ela está em registro coloquial. Tal tipo de registro da língua é utilizado por diversas pessoas, inclusive as das classes dominantes. Pontuar que o título contém “erro de português" seria uma forma de preconceito linguístico, uma vez que é uma expressão coloquial, retirada da fala de um personagem. 

    C) Não existe nenhuma justificativa ética, política, pedagógica ou científica para continuar condenando como erros os usos linguísticos que estão firmados no português brasileiro. (Bagno, 2007, p. 161.) 
    CORRETO – A determinação das normas culta e não culta é uma questão de grau de frequência das variantes (o que os normativistas considerariam erros ou acertos). Por exemplo, coisas como “os menino tudo" ou “houveram fatos" podem aparecer na fala de brasileiros cultos. É preciso deixar de tentar atribuir a um único local ou a uma única comunidade de falantes o “melhor" ou o “pior" português e passar a respeitar igualmente todas as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura. O preconceito linguístico está ligado a confusão entre o uso da língua e a gramática normativa. A gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível da língua, a chamada norma culta. O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente". Muitas vezes, o preconceito linguístico é decorrência de um preconceito social. O título do filme, tirado da fala de um personagem, está em registro coloquial e, nessa perspectiva, não deve ser encarado como “errado". 

    D) Aquele que aprendeu a refletir sobre a linguagem é capaz de compreender uma gramática – que nada mais é do que o resultado de uma (longa) reflexão sobre a língua. (Geraldi, 1996, p. 64.) 
    ERRADO – No post há justamente uma crítica sobre a afirmação de que o título da obra contém “erro de português". A exigência de alto grau de formalidade e de precisão gramatical na norma culta da língua, interfeririam no título da obra, que está em registro coloquial, tendo sido retirado da fala de um personagem. Esse tipo de exigência reflete preconceito linguístico, um certo autoritarismo na compreensão do funcionamento da língua, entendendo só a norma culta como registro válido.

    Portanto, a letra C é a alternativa correta. 

    Gabarito do Professor: Letra C.