A questão solicita que sejam indicadas as afirmativas verdadeiras e as falsas a respeito do modelo social e do modelo biomédico de deficiência.
( ) O modelo social de deficiência propõe uma crítica à noção de tragédia pessoal e compromete a sociedade com a produção da experiência da deficiência.
V - Ao compreender a deficiência como uma construção social, o modelo subsidiou a luta pela integração social das pessoas com deficiência, abordando os mecanismos sociais que orientam a discriminação das pessoas com deficiência. O argumento central a favor da inclusão da lesão numa perspectiva analítica sociológica é a necessidade de notar a correspondência entre as representações acerca de um corpo com lesões e a reações sociais correspondentes. Esse modelo indica que a sociedade constrói suas próprias representações da lesão, cujo significado transcende o âmbito da biologia, como a difundida ideia de tragédia pessoal. As pessoas com deficiência personificam involuntariamente a queda do ser humano, em falhas e tragédias, em sua falência física e morte. O efeito perverso dessa representação preconceituosa se traduz em reações que variam da pena à perseguição. Não somente por serem diferentes, mas também por representarem uma ameaça […] à ordem ou à auto representação do homem ocidental que, desde o Iluminismo, vê a si mesmo como perfectível, como conhecedor de todas as coisas,semelhante a deus: capaz, acima de todos outros seres, de dominar as limitações de sua natureza por meio das vitórias de sua cultura.
( ) O modelo biomédico compreende a deficiência como uma relação entre o corpo com lesão e o contexto social e sugere uma mudança no ambiente para acolher a diversidade humana.
F - Tal afirmação trata do modelo social da deficiência. O Modelo Médico (ou Biomédico) da Deficiência a compreende como um fenômeno biológico. Segundo tal concepção, a deficiência seria a consequência lógica e natural do corpo com lesão, adquirida inicialmente por meio de uma doença, sendo uma como consequência desta. A deficiência seria em si a incapacidade física, e tal condição levaria os indivíduos a uma série de desvantagens sociais. Uma vez sendo identificada como orgânica, para se sanar a deficiência, dever-se-ia fazer uma ou mais intervenções sobre o corpo para promover seu melhor funcionamento (quando possível) e reduzir assim as desvantagens sociais a serem vividas.
( ) O modelo social de deficiência compreende que a experiência da condição de deficiência e o enfrentamento de barreiras são inerentes ao ciclo de vida humana.
V - As pessoas com deficiência enfrentam um desafio peculiar para a contestação da opressão, um corpo que conta com uma lesão ou limitação de fato (e aparente). Esse elemento acaba por subsidiar o discurso do Modelo Médico que transpõe diretamente a limitação física em limitação social: Diferenciando da exploração de classe como elaborada originalmente por Marx, a opressão não seria restritamente uma experiência de classe, mas pessoal, mesmo que possa atingir todo um grupo social por meio de sistemas de representação que produzem inferioridade como fator inerente aos indivíduos, através de estereótipos que justificam a manutenção da subordinação e exclusão desses indivíduos.
( ) O modelo biomédico valoriza a transversalidade da deficiência, de modo a relacioná-la com categorias de gênero, raça, idade, religião e classe social.
F - Há pelo menos duas maneiras de compreender a deficiência. A primeira a entende como uma manifestação da diversidade humana. Um corpo com impedimentos é o de alguém que vivencia impedimentos de ordem física, intelectual ou sensorial. Mas são as barreiras sociais que, ao ignorar os corpos com impedimentos, provocam a experiência da desigualdade. A opressão não é um atributo dos impedimentos corporais, mas resultado de sociedades não inclusivas. Já a segunda forma de entender a deficiência sustenta que ela é uma desvantagem natural, devendo os esforços se concentrarem em reparar os impedimentos corporais, a fim de garantir a todas as pessoas um padrão de funcionamento típico à espécie. Nesse movimento interpretativo, os impedimentos corporais são classificados como indesejáveis e não simplesmente como uma expressão neutra da diversidade humana, tal como se deve entender a diversidade racial, geracional ou de gênero. Por isso, o corpo com impedimentos deve se submeter à metamorfose para a normalidade, seja pela reabilitação, pela genética ou por práticas educacionais. A afirmação acima diz respeito ao modelo social da deficiência e não ao modelo biomédico.
( ) O modelo biomédico traz contribuições para a ampliação dos programas de reabilitação e campanhas para a prevenção das deficiências.
V - Na compreensão do modelo biomédico da deficiência, um corpo com impedimentos deve ser objeto de intervenção dos saberes biomédicos. Os impedimentos são classificados pela ordem médica, que descreve as lesões e as doenças como desvantagens naturais e indesejadas. Práticas de reabilitação ou curativas são oferecidas e até mesmo impostas aos corpos, com o intuito de reverter ou atenuar os sinais da anormalidade. Durante quase 30 anos, o modelo biomédico da deficiência foi soberano para as ações da OMS, o que significou a hegemonia de uma linguagem centrada na reabilitação ou na cura dos impedimentos corporais para as políticas públicas de diversos países vinculados àquela entidade. No Brasil, o modelo biomédico fundamenta as pesquisas populacionais, as ações de assistência e, em grande parte, as políticas de educação e saúde para os deficientes.
Portanto, a sequência correta é: V – F – V – F – V .
GABARITO DO PROFESSOR: LETRA C.