Outro conceito importante, que será inclusive marca das pesquisas em sociologia médica a partir dos anos 60, é o de carreira do paciente, que aparece no segundo texto que Goffman incluiu em seu livro sobre Manicômios. Para ele, em sentido amplo, o termo designa "qualquer trajetória percorrida por uma pessoa durante sua vida" (GOFFMAN, 1987, p. 111). Goffman justifica o uso do conceito, assinalando sua ambivalência: "De um lado ligado a assuntos íntimos e preciosos, tais como, por exemplo, a imagem do eu e a segurança sentida; o outro lado se liga à posição oficial, relações jurídicas e um estilo de vida, e é parte de um complexo institucional acessível ao público". Nesse sentido, a questão fundamental que embasa sua importância está no fato de que o conceito "permite que andemos do público para o íntimo, e vice–versa, entre o eu e sua sociedade significativa, sem precisar depender manifestamente de dados a respeito do que a pessoa diz que imagina ser" (GOFFMAN, 1987, p. 111–112). A ênfase será sobre "os aspectos morais da carreira", ou seja, "a sequência regular de mudanças que a carreira provoca no eu da pessoa e em seu esquema de imagens para julgar a si mesma e aos outros" (p. 112). Assinala que a carreira do doente mental apresenta três fases principais: pré–paciente (anterior à entrada no hospital); internamento (período no hospital); ex–doente (posterior à alta hospitalar). Pode ocorrer, entretanto, readmissão ao hospital (fase de reincidência ou reinternamento).