SóProvas


ID
2872309
Banca
INEP
Órgão
ENEM
Ano
2018
Provas
Disciplina
História
Assuntos

Os próprios senhores de engenho eram uns gulosos de doce e de comidas adocicadas. Houve engenho que ficou com o nome de “Guloso”. E Manuel Tomé de Jesus, no seu Engenho de Noruega, antigo dos Bois, vivia a encomendar doces às doceiras de Santo Antão; vivia a receber presentes de doces de seus compadres. Os bolos feitos em casa pelas negras não chegavam para o gasto. O velho capitão-mor era mesmo que menino por alfenim e cocada. E como estava sempre hospedando frades e padres no seu casarão de Noruega, tinha o cuidado de conservar em casa uma opulência de doces finos.

FREYRE, G. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985 (adaptado).


O texto relaciona-se a uma prática do Nordeste oitocentista que está evidenciada em:

Alternativas
Comentários
  • Gilberto Freyre, autor do texto, foi um dos primeiros sociólogos a observar as relações sociais construídas durante a colonização brasileira para além da mera questão econômica que contrapunha escravos e senhores de engenho. Para além da violência intrínseca a tal relação, jamais negada pelo autor, ele foi capaz de observar nuances que construíram identidades sócio-regionais, como os prazeres pelos doces e suas variáveis em regiões que produziam açúcar em larga escala. Freyre observou que, para além do valor econômico gerado nas plantations de açúcar, os doces produzidos pelas mucamas, escravas domésticas, também influenciou não apenas uma cultura de consumo, como nas relações sociais que eram "adocicadas" por tais iguarias. Citar o fato de que a constância de visitas de representantes religiosos era razão para a manutenção desses produtos em estoque que poderiam ser ofertados a cada novo hóspede claramente refere-se à "criação artesanal de iguarias para assegurar as redes de sociabilidade". Resposta, letra D.
    Nada, no texto, refere-se a questão religiosa, portanto a letra A está errada. A relação escravocrata está posta em todo o período colonial, mas não no detalhe observado pelo autor, assim como a circulação regional dos produtos gerados por tal sistema. Portanto, não poderiam ser as letras B e C. A letra E está errada, pois trata-se de uma outra forma de comercialização da produção de doces, mas nas cidades, o que não é o caso da citação colocada.

    Gabarito: D

  • "O velho capitão-mor era mesmo que menino por alfenim e cocada. E como estava sempre hospedando frades e padres no seu casarão de Noruega, tinha o cuidado de conservar em casa uma opulência de doces finos."

    Resposta: (D) Criação artesanal de iguarias para assegurar as redes de sociabilidade.

    As redes de sociabilidade se referem a relção dos hospedes do senhor de engenho com o mesmo, que fazia suas escravas cozinharem doces finos para agradá-los.

  • Complementando a resposta anterior, a resposta é a letra:

    (D) Criação artesanal de iguarias para assegurar as redes de sociabilidade.

    Está certo.

    Porém, a criação era realizada por mão de obra escrava em todos os engenhos. Desta forma, o que destaca a conclusão da afirmativa é:

    Texto: Vivia a encomendar doces às doceiras de Santo Antão.

    Texto: Vivia a receber presentes de doces de seus compadres.

    E como estava sempre hospedando frades e padres no seu casarão de Noruega, tinha o cuidado de conservar em casa uma opulência de doces finos.

    Com tudo, essas relações de compras, presentes e oferecimentos a autoridades religiosas, era uma demonstração de, poder, capacidade e conforto para aqueles que possuíam alma. Com isso, essas circunstâncias justificavam a relação social que se tinha na época. Assim como assegurava as redes de sociabilidade.

  • Em complemento aos comentários já feitos, é interessante também saber que Gilberto Freyre, autor do texto, foi um dos primeiros sociólogos a observar as relações sociais construídas durante a colonização brasileira para além da mera questão econômica que contrapunha escravos e senhores de engenho. Para além da violência intrínseca a tal relação, jamais negada pelo autor, ele foi capaz de observar nuances que construíram identidades sócio-regionais, como os prazeres pelos doces e suas variáveis em regiões que produziam açúcar em larga escala. Freyre observou que, para além do valor econômico gerado nas plantations de açúcar, os doces produzidos pelas mucamas, escravas domésticas, também influenciaram não apenas uma cultura de consumo, mas as relações sociais, as quais eram "adocicadas" por tais iguarias.

  • Letra D

  • PURA INTERPRETAÇÃO

    • vivia a encomendar doces às doceiras de Santo Antão;

    • vivia a receber presentes de doces de seus compadres.

    • estava sempre hospedando frades e padres no seu casarão de Noruega, tinha o cuidado de conservar em casa uma opulência de doces finos.

  • Não é a (B) porque é um texto de Gilberto Freyre (muito embora que, por pura interpretação do texto, dá para sacar o tom otimista que é dado às relações sociais da época; ligadas entre si, na visão de Freire, pela opulência gastronômica, resultante do melting pot cultural ).

    Gabarito : (D)

    Nível de Dificuldade : Médio