Um recorte:
"Foucault (2002) afirma ainda que surgiu, a partir do final do século XVIII, o poder sobre a vida, o poder de ‘fazer viver e deixar morrer’. A biopolítica está voltada ao homem-espécie (e não ao homem-corpo), à massa global e busca atuar sobre fenômenos aleatórios, em série, que afetam os processos típicos de todo ser vivente: nascimento, morte, doença, entre outros. [...] Nesse contexto de exercício biopolítico um importante instrumento de produção de ‘sujeitos-criminoso’ chama-se racismo de Estado. Para Foucault (2002) até o surgimento dessa modalidade de poder a sociedade ainda não havia experimentado aquilo que denominou racismo de Estado, mecanismo por meio do qual é introduzida uma separação entre os grupos da população e que tem como grande propósito disseminar a idéia da existência de um perigo social interno que deve ser combatido para que assim a população viva cada vez mais forte e saudável. Em outras palavras pode-se definir o racismo de Estado a partir de suas duas funções: executar uma distinção entre a massa populacional, elegendo assim aqueles que ‘fará viver’ e os outros que ‘deixará morrer’; e propagar a idéia que é preciso ‘deixar morrer’ uma parte da população, a parte mais fraca, os anormais, os inferiores, para que a população – como um todo – viva cada vez mais forte e saudável. “A morte do outro não é simplesmente a minha vida, na medida em que seria minha segurança pessoal; a morte do outro, a morte da raça ruim, da raça inferior (ou do degenerado, ou do anormal), é o que vai deixar a vida em geral mais sadia; mais sadia e mais pura” (Foucault, 2002, p. 305). Assim, Foucault (2002) mostra o uso do racismo de Estado como uma arma biológica e não militar. Uma arma de ‘deixar morrer’ de formas diretas e indiretas: expondo à morte, multiplicando para alguns os riscos de morte, rejeitando, expulsando. Uma arma usada para acabar com os inimigos que não são necessariamente indivíduos, mas sim representantes de perigos à espécie como um todo."
Barbosa, R. B.; Bicalho, P. P. G. (2013) ‘Sujeito-criminoso’: mecanismos de produção de subjetividade operantes em policiais e moradores de favelas do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Latinoamericana de Psicología Social IMB, pp. 83-110.
Foucault, M. (2002). Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes.
A biopolítica está caracterizada pela constante atuação do poder com a finalidade de “gerenciar a vida” biológica da população. Sua legitimidade está justificada à medida que esse poder seja capaz de proporcionar a proteção de sua população frente a “perigos biológicos” internos e externos a ela (FOUCAULT, 1976).
...
O racismo é formado nesse âmbito (o racismo em sua forma moderna, estatal, biologizante): toda uma política da população, da família, do matrimônio, da educação, da hierarquização social e da propriedade, e uma longa série de intervenções permanentes ao nível do corpo, das condutas, da saúde e da vida cotidiana receberam então sua cor e sua justificação da preocupação mítica por proteger a pureza de sangue e de fazer triunfar a raça (FOUCAULT, 1976).
...
((( O racismo foi um mecanismo fundamental de poder para os Estados modernos. )))Seguindo o argumento de Foucault, a relação entre poder estatal e racismo passou a ser muito estreita na Modernidade. Na raça, o Estado encontra uma ferramenta poderosa para dinamizar e direcionar o exercício do poder. Sob este viés, o exercício do poder, tendo como alvo a purificação do corpo social, é uma característica marcante. “O racismo está ligado ao funcionamento de um Estado obrigado a se servir da raça, da eliminação das raças e da purificação da raça, para exercer seu poder soberano” (FOUCAULT, 1997).
by: @Grancursosonline