Os debates que mobilizavam a intelectualidade brasileira do final do Século XIX e começo do XX expressam a dificuldade de se formular, à época, interpretações do país e, sobretudo, de sua composição étnica, que não tivessem uma forte carga racista.
O país acabara de se libertar, ao menos oficialmente, do sistema escravista. Buscando participar do seleto grupo de nações “civilizadas", era urgente construir um conceito de nação e fugir dos preconceitos expressamente racistas, na medida em que a mentalidade da época permitisse. Na verdade o que se fazia, mais do que tudo, era a racionalização do racismo.
As divergências do racismo científico brasileiro entre a intelectualidade lidavam com outro ponto de pauta, qual seja: a discussão sobre a mistura de raças e os riscos de degeneração delas decorridos. Segundo Lilia Moritz Swarcz, o Brasil era descrito como “[...] uma nação composta de raças miscigenadas, porém em transição. Essas, passando por um processo acelerado de cruzamento, e depuradas mediante uma seleção natural [...], levaria a supor que o Brasil seria, um dia, branco".
Percebe-se, então, dois grupos de intelectuais. Aqueles que acreditavam que a miscigenação que existe no Brasil levaria à “degeneração crescente" e à impossibilidade de constituição de um povo brasileiro habilitado à “civilização". Assim pensava o médico legista e etnólogo Raimundo Nina Rodrigues.
Outros, mais otimistas, defendiam que a miscigenação no Brasil correspondia a uma possibilidade de melhoria e regeneração racial. Ela levaria ao desaparecimento progressivo dos negros e mestiços de pele escura, tidos como inferiores, e ao branqueamento progressivo do conjunto da população.
Assim pensavam Sílvio Romero, João Batista Lacerda e Oliveira Viana.
A imagem de uma “brasilidade mestiça", culturalmente embranquecida e politicamente integradora, expressa a nação brasileira a partir das primeiras décadas do século XX. Tal modelo de nacionalidade, contudo, tende a perder sua força legitimadora ao longo da democratização.
Estes são elementos que têm de ser tomados em consideração ao responder à questão proposta. São citados os intelectuais Nina Rodrigues, Silvio Romero e Euclides da Cunha. É pedido que seja assinalada a alternativa que apresenta uma ideia correta acerca das proposições por eles defendida.
A) CORRETA- Os três intelectuais partem da premissa que a população brasileira é composta por miscigenação. Daí é preciso tomá-la como base para se pensar um conceito de nação.
B) INCORRETA- Euclides da Cunha foi abolicionista atuante e, por conta disso, foi perseguido. Mas Silvio Romero só nasceu em 1907 e Nina Rodrigues não foi abolicionista atuante.
C) INCORRETA- Dos três intelectuais citados Euclides da Cunha talvez seja o que tem mais consciência do significado da miscigenação no Brasil. E, na verdade, ele descreve os hábitos e crenças nordestinos sem demonstrar preconceitos.
D) INCORRETA- Mesmo que defendam o progressivo embranquecimento racial e cultural nenhum dos três defende uma “limpeza étnica".
E) INCORRETA- Nenhum dos intelectuais citados foi um indigenista. Silvio Romero, amigo de Euclides da Cunha, dedicou-se a estudar o folclore brasileiro mas não especificamente as culturas nativas.
RESPOSTA : A