- ID
- 3259900
- Banca
- Colégio Pedro II
- Órgão
- Colégio Pedro II
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Música
O orgulho (importado) de ser negro no Brasil: Black Rio
Uma cidade de cultura própria desenvolve-se dentro do Rio. Uma cidade que cresce e assume
características muito específicas. Cidade que o Rio, de modo geral, desconhece ou ignora. Ou porque o Rio só
sabe reconhecer os uniformes e os clichês, as gírias e os modismos da Zona Sul; ou porque prefere ignorar ou
minimizar essa cidade absolutamente singular e destacada, classificando-a no arquivo descompromissado do
modismo; ou porque considera mais prudente ignorá-la na sua inquietante realidade. A essa população que não
tem samba e feijoada entre as suas manifestações cotidianas e folclóricas. Embora possa até gostar de samba e
feijoada como qualquer estrangeiro gosta. Uma população cujos olhos e cujos interesses voltam-se para modelos
nada brasileiros. População que forma uma cidade móvel, cujo centro se desloca permanentemente – ora está
em Colégio, onde fica o clube Coleginho, considerado um dos primeiros templos do soul, ora em Irajá, ora em
Marechal Hermes ou em Rocha Miranda, ora em Nilópolis ou na Pavuna. Cujos pontos de encontro e de decisão
são as calçadas do Grande Rio, em Madureira ou no Calçadão, em Caxias; em Vilar dos Teles ou na Rua Sete
de Setembro, no Centro do Rio. Uma cidade cujos habitantes se intitulam a si mesmos de blacks ou de browns;
cujo hino é uma canção de James Brown ou uma música dos Blackbyrds; cuja bíblia é Wattstax, a contrapartida
negra de Woodstock; cuja linguagem incorporou palavras como brother e white; cuja bandeira traz estampada a
figura de James Brown ou de Ruff Thomas; cujo lema é I am somebody; cujo modelo é o negro americano, embora
sobre a cópia já se criem originalidades.
FRIAS, L. Jornal do Brasil, 17 jul. 1976 (fragmento).
Esse texto é parte de uma reportagem publicada em 17 de julho de 1976 no Caderno B do Jornal do Brasil e que
ocupou mais de três páginas inteiras daquele periódico. Ela foi um marco para a black music no Brasil, vinculando
o nome Black Rio ao movimento carioca que, em 2018, foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do
Rio de Janeiro.
Sobre o movimento Black Rio, é correto afirmar que