SóProvas


ID
3656524
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
Prefeitura de São Cristóvão - SE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Literatura
Assuntos

      O primeiro grande pomo de discórdia entre a classe artística brasileira no início da ditadura militar foi o “nacionalismo”. Em discussão, o movimento tropicalista e seu aproveitamento do rock, da cultura de massa, da guitarra elétrica, acompanhado de uma recusa dos projetos e das utopias de poder da esquerda tradicional brasileira. Um conservadorismo estético e comportamental, portanto, bifronte: ora de esquerda, ora de direita. E, com relação a esta querela nacionalista e às críticas contra a guitarra, a linguagem do espetáculo, a estratégia pop da Tropicália, contra Caetano cantando em inglês, é interessante lembrar o comentário de Roberto Schwarz: “Caetano sempre quis cantar nessa língua, que ouvia no rádio desde pequeno. E é claro que cantando em inglês com pronúncia nordestina registra um momento substancial de nossa história e imaginação”.

Flora Süssekind. Literatura e vida literária: polêmicas, diários e
retratos. Belo Horizonte: UFMG, 2004, p. 48-9 (com adaptações).




Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz


Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro um monumento no planalto central
Do país

Caetano Veloso. Tropicália. 1968.

A partir dos textos apresentados, julgue o próximo item, a respeito do Modernismo brasileiro e do Tropicalismo.


O aproveitamento que os tropicalistas fizeram de culturas estrangeiras na sua própria produção distancia-os dos modernistas que promoveram a Semana de Arte Moderna em 1922.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: Errado

    O Tropicalismo tem grande influência do manifesto antropofágico de Oswald de Andrade, um dos artistas mais importantes que fez parte da Semana de Arte Moderna em 1922.

  • Negativo, muito pelo contrário. Ambos são interligados!

    Gabarito: ERRADO

  • Só eu acho que essas questões nada tem a ver com interpretação de texto?

    Isso é LITERATURA!

    Coloca a classificação correta, QC!

    Essas questões não caem pra agente de sei lá o que ou pra analista seja lá do que for. Poupem nosso tempo, QC.

  • Ahhh tenha a santa paciência!

    SEPARE LINGUA PORTUGUESA DE LITERATURA, QCONCURSOS!!!!!

  • O MODERNISMO TAMBÉM SE APROVEITA DE CULTURA ESTRANGEIRA ;LEIA O TRECHO: A divulgação, no Brasil, das teorias vanguardistas européias é feita, em 1922, pela Semana de Arte Moderna. Com a chamada Geração de 22, instalam-se, na literatura brasileira, a escrita automática, influenciada pelos surrealistas franceses, o verso livre, o lirismo paródico, a prosa experimental e uma exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial. RESPOSTA ERRADA

  • Ambos os movimentos aproveitam da cultura estrangeira, a fim de inaugurar correntes literárias brasileira com mais "adesão".

  • Criei um caderno chamado "sem noção" só para colocar essas questões ridículas de "interpretação de texto". Aff!

  • Ao contrário do que se afirma, o “aproveitamento que os Tropicalistas fazem das culturas estrangeiras" aproxima-os dos modernistas de 1922, e não os “distancia", como se apresenta no comentário da questão. Para melhor entender a forte conexão dos tropicalistas com os primeiros modernistas, basta recorrermos a um fato literário de suma importância para a produção do saber artístico brasileiro no século XX: o conceito de antropofagia, desenvolvido pelo escritor Oswald de Andrade.

    Tal como defendia Oswald, a antropofagia consistia na concepção da apropriação de culturas outras à cultura nacional. Assim, quanto mais aglutinássemos os estrangeiros aos brasileiros, e o Brasil das capitais aos Brasis regionais, mais o sentido do nacional e do artístico estariam fortalecidos. Não por acaso, Andrade empregava a metáfora do “deglutir" ou “devorar" para melhor esclarecer que devemos “comer" o externo, ingeri-lo, ou ainda, incorporá-lo ao interno – assim seria, segundo o escritor, a própria essência das artes e da identidade brasileira, um misto de primitivo e moderno; nacional e estrangeiro; rural e urbano.

    O manifesto antropófago, escrito em 1928, por suas considerações do que seria arte e brasilidade inspirou sobremaneira o projeto cultural dos tropicalistas, na segunda metade do século XX, visto que estes fundam uma nova identidade para a nossa música, em que se reconhecem produções tipicamente brasileiras, como samba, o forró e o baião, por exemplo, vinculados aos estilos musicais e artísticos internacionais, como o rock, o pop, o pop art e o concretismo. Assim, o Tropicalismo se expandiu para um conceito, o de ser livre e libertário, influenciando comportamentos morais e culturais na sociedade brasileira da época, como a contracultura hippie, só para citar algum.

    Em resumo, a Tropicália foi um movimento musical que se embasou em conceitos literários e na ideia de desconstrução dos padrões estéticos, fundada pelas vanguardas europeias. O seu fim se deu com a prisão de Gilberto Gil e de Caetano Veloso, em dezembro de 1968, por ocasião da Ditadura Militar. No entanto, mesmo com tão pouco tempo de duração – cerca de um ano – a música popular brasileira nunca mais seria a mesma com a grande contribuição dos tropicalistas ao cenário artístico-cultural brasileiro.

    Em relação aos textos apresentados para análise do comentário, verifica-se a estrita relação entre eles no que diz respeito à incorporação do elemento estrangeiro à cultura brasileira, tal como se pregava no manifesto antropófago de 1928 e, depois, no Tropicalismo, de 1968. No texto 1, por exemplo, sinaliza-se o próprio caráter “bifronte" dos tropicalistas, ora de esquerda, ora de direita; ora dados ao “ao som da guitarra", ora ao “à cultura de massa". Importante ressaltar a imagem que serve de exemplo ao fim do texto para reforçar a contribuição dos tropicalistas: Caetano Veloso cantando em inglês com pronúncia nordestina. Todas essas menções, presentes no primeiro texto, dialogam com o segundo, justamente um fragmento da canção “Tropicália", composta por Caetano Veloso e Chico Buarque de Holanda. Na primeira estrofe, já se encontra uma visão “antropofágica" do espaço brasileiro, ora sendo articulada a uma imagem futurista e urbana dos “aviões sobre a cabeça"; ora a uma imagem mais interiorana, já que o nariz do eu lírico aponta para os chapadões; ora os pés vinculados aos caminhões, que nos lembram trabalhadores operários, os quais cruzavam o país, muitos deles a serviço da construção de Brasília. Na segunda estrofe da música, esse mesmo eu é “muitos outros", já que “organiza o movimento", “orienta o carnaval" e “inaugura um monumento no Planalto Central". Nessa canção, portanto, a consciência de que o estrangeiro faz parte da essência formadora do eu está presente tanto nas visões de um Brasil múltiplo, quanto nos elementos que nos identificam imediatamente a presença do estrangeiro na canção– como o carnaval, o monumento e os aviões.

    Por todas essas razões, reafirma-se que os modernistas de 1922 são muito próximos dos tropicalistas, sendo esse elo reforçado, sobretudo, pela concepção de antropofagia e pela reavaliação do conceito de brasilidade, explorada tanto na Literatura modernista quanto na música popular brasileira. Pode-se, inclusive, afirmar que um grande objetivo do Tropicalismo, em diálogo com o que se defendia pelos modernistas de 1922, era o de buscar transformar a intensa influência da cultura estrangeira em algo bem brasileiro e inovador.


    Resposta: ERRADO

  • GABARITO: ERRADO

    Ao contrário do que afirma a questão: o aproveitamento que os tropicalistas fizeram de culturas estrangeiras na sua própria produção aproxima-se dos modernistas que promoveram a Semana de Arte Moderna em 1922, em especial Oswald de Andrade, e seu manifesto antropofágico.