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ID
3656539
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
Prefeitura de São Cristóvão - SE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Literatura
Assuntos

            No Realismo ficcional, a mente cientificista também é responsável pelo esvaziar-se do êxtase que a paisagem suscitava nos escritores românticos. O que se entende pela preferência dada agora aos ambientes urbanos e, em nível mais profundo, pela não identificação do escritor realista com aquela vida e aquela natureza transformadas pelo positivismo em complexos de normas e fatos indiferentes à alma humana.

          O determinismo reflete-se na perspectiva em que se movem os narradores ao trabalhar as suas personagens. A pretensa neutralidade não chega ao ponto de ocultar o fato de que o autor carrega sempre de tons sombrios o destino das suas criaturas. Atente-se, nos romances desse período, para a galeria de seres distorcidos ou acachapados pelo Fatum.


Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira.
São Paulo: Cultrix, 2004, p. 172-3 (com adaptações).

Considerando o fragmento de texto precedente e as disposições da BNCC do ensino fundamental para a disciplina de língua portuguesa, julgue o item a seguir, a respeito do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira.



Em O Cortiço, de Aluísio Azevedo, a abordagem estética pela retórica da ciência imprime ao narrador uma voz objetiva, destituída de juízos de valor, como no trecho a seguir, em que descreve uma das personagens do romance: “A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem”.

Alternativas
Comentários
  • Errado, há juízo de valor. 

    “A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem”.

  • Gabarito: Errado

    No lugar de "voz objetiva, destituída de juízos de valor", o correto seria "voz subjetiva, instituída de juízos de valor".

  • Juízo de valor total.

  • GAB: ERRADO

  • ERRADA - Não tem como alguém atribuir características a outrem e não realizar ao mesmo tempo um juízo de valor.

  • ERRADA - JUÍZO DE VALOR. E não JUIZOS de valor.

    PUPILLA

  • ...a abordagem estética pela retórica da ciência imprime ao narrador uma voz objetiva...

    Não há voz objetiva na passagem, há uma tom subjetivo em todo o texto. 

  • Há um tom subjetivo, ou seja, de pessoalidade

  • Rpz, as questões dessa prova foram as mais difíceis que vi até hoje.

  • A maior parte do acervo de literatura clássica BRASILEIRA consta de narrações subjetivas, altamente descritivas.

  • É bem verdade que Literatura da segunda metade do século XIX, mais especificamente o Realismo e o Naturalismo, apresentam uma abordagem estética pautada na retórica da ciência, a qual “imprime ao narrador uma voz objetiva, destituída de juízos de valor", tal como se afirma no comentário da questão. No entanto, não é o que ocorre no trecho destacado pela banca.

    Notemos que o narrador, ao descrever a personagem de quinze anos, emprega a expressão “moreno quente" para caracterizar não só a cor de sua pele – o que poderia nos conduzir a um procedimento naturalista de pretensa “objetividade" –, mas também, e principalmente, para sugerir certa sensualidade exalada pela pele da menina. Sendo ela uma jovem recém saída da infância, em idade de adolescência, pode-se inferir, inclusive, que o aspecto sensual de seu corpo seja praticamente genético, como se “brotasse" sem o controle da menina. Tais hipóteses de leitura podem ser confirmadas pelos termos empregados na continuidade da descrição, já que “beiços sensuais" e “olhos luxuriosos de macaca" reforçam traços físicos em relação aos quais se pretende apresentar como já “impregnados" de elementos sexuais, o que permite a quem narra não só construir um julgamento como se fosse um fato, mas sobretudo incorporar ao seu texto também o aspecto moral, na verdade, sugerido como imoral, na composição da personagem. O término da caracterização, então, é plenamente avaliativo, mas repare que ele só foi inserido posteriormente a sequência descritiva em que a pretensa imparcialidade se mesclava à opinião. Ou seja, o narrador habilmente “preparar" o leitor para que este, gradualmente, vá entendendo que o que se lê sobre a personagem é uma descrição objetiva, que não fere a verdade (como ela pudesse ser uma só) e, desse modo, quando chegar ao final do texto, já convencido da leitura de uma verdade, possa assumir um discurso integramente opinativo como um relato de um fato verídico.

    Não por acaso, no texto de Alfredo Bosi, sobre escritores naturalistas e realistas, afirma que o determinismo é o fio condutor de suas narrações, por outro lado a preferência aos ambientes urbanos, diferentemente dos autores românticos, constrói-se mais por uma “não identificação do escritor realista com aquela vida e aquela natureza transformadas pelo positivismo em complexos de normas e fatos indiferentes à alma humana". Ou seja, há que se tecer as tramas naturalistas e realistas mostrando como elas podem provocar certa perplexidade nos leitores para identificar-lhes o horror que se forma, na paisagem urbana de final dos oitocentos, com as influências das ideologias positivistas e cientificistas.

     Tendo em vista esses aspectos da realidade sociocultural e, de certa forma, sua permanência na sociedade do Brasil do século XXI, faz-se necessário que os fundamentos da estética realista e naturalista estejam presentes em um texto que pensa o currículo escolar, como a BNNCC, uma vez que um estudante não pode sair da escola sem compreender como certos conceitos de outrora ainda repercutem – dentro ou fora das representações artísticas –  na construção da ideia de ser brasileiro na contemporaneidade.

    Por todas essas razões, verifica-se que se erra, no comentário da banca, quando se afirma que a voz do narrador, na descrição da jovem de quinze anos, está “destituída de juízo de valor", sendo, portanto, o comentário avaliado como incorreto.


    Resposta: ERRADO.

  • Acredito ser totalmente errada e contraditória a expressão "destituída de juízos de valor", já que na fala do narrador há muito de juízo de valor sim.

  • Gente, comentários incorretos ! Sejam prudentes para comentarem! A voz é , sim, objetiva! É objetiva por retratar a realidade tal qual ela é. Não há de ser falar em subjetividade no Realismo! O erro da questão consiste em se afirmar que é destituída de juízos de valor. Toda a fala do narrador é pautada no juízo. A dica é: confiar apenas nos comentários feitos pelos professores porque pelos concurseiros tá uma vergonha .