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ID
3770584
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Ribeirão Preto - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) determina que o ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constitui componente curricular obrigatório da Educação Básica. Incluem-se em tal componente curricular as seguintes linguagens: artes visuais, dança, música e teatro. Antonio Flavio B. Moreira e Vera Maria Candau (autores de Currículo, conhecimento e cultura. In: BRASIL. Indagações sobre o currículo. Caderno 3) apresentam um olhar crítico com relação ao modo como tais artefatos culturais devem ser abordados na escola, defendendo que

Alternativas
Comentários
  • Alternativa E

  • Essa questão envolve conhecimentos sobre legislação e políticas educacionais, bem como sobre currículo e cultura. O candidato deve indicar a opção que apresenta o que os autores Antonio Flavio B. Moreira e Vera Maria Candau defendem sobre o modo como os artefatos culturais devem ser abordados na escola. 

    A)o ensino da arte deve promover refinamento para que todos se tornem cultos, tal como as classes privilegiadas. 
    ERRADO – De acordo com os autores, a cultura dos estudantes e da comunidade deve poder interagir com outras manifestações e outros espaços culturais como museus, exposições, centros culturais, música erudita, clássicos da literatura. Para abrir espaço na escola para a complexa interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural, tanto as manifestações culturais hegemônicas como as subalternizadas precisam integrar o currículo e ser objeto de apreciação e crítica. 

    B)os grandes autores, os grandes artistas e as grandes obras devem constituir o núcleo central do currículo das escolas. 
    ERRADO – Essa compreensão está ligada a uma ideia de cultura como a mente humana cultivada, afirmando-se que somente alguns indivíduos, grupos ou classes sociais apresentam mentes e maneiras cultivadas e que somente algumas nações apresentam elevado padrão de cultura ou civilização. Trata-se de uma concepção classista de cultura. O sentido de cultura, que ainda hoje a associa às artes, tem suas origens nessa concepção: cultura, tal como as elites a concebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura, cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Os autores questionam o fato de ainda ser possível encontrar vestígios dessa concepção tanto em alguns dos currículos atuais como em textos sobre currículo. Exemplificam que, para alguns docentes, o estudo da literatura ainda tende a se restringir a escritores e livros tidos como clássicos. Ainda trazem a denúncia de que, para alguns estudiosos da cultura e da educação, os grandes autores, as grandes obras e as grandes ideias deveriam constituir o núcleo central dos currículos das escolas. Moreira e Candau sugerem princípios para intensificar a sensibilidade dos educadores para a pluralidade de valores e universos culturais, para a necessidade de um maior intercâmbio cultural no interior de cada sociedade e entre diferentes sociedades, para a conveniência de resgatar manifestações culturais de determinados grupos cujas identidades se encontram ameaçadas, para a importância da participação de todos no esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a urgência de se reduzirem discriminações e preconceitos. Têm como propósito a contextualização e compreensão do processo de construção das diferenças e das desigualdades, fazendo com os currículos tornem evidente que elas não são naturais. Ao contrário, tais diferenças e desigualdades são “invenções/construções" históricas de homens e mulheres, sendo, portanto, passíveis de serem desestabilizadas e mesmo transformadas. Dessa forma, o existente nem pode ser aceito sem questionamento nem é imutável; constitui-se, sim, em estímulo para resistências, para críticas e para a formulação e a promoção de novas situações pedagógicas e novas relações sociais. 

    C)o trabalho pedagógico com artefatos artísticos deve ter como propósitos centrais a identificação e o incentivo de talentos potenciais, sobretudo aqueles afinados à cultura elevada. 
    ERRADO – Os autores pontuam que é importante que se considere a escola como um espaço de cruzamento de culturas e saberes. A responsabilidade específica que distingue a escola de outros espaços de socialização e lhe confere identidade e relativa autonomia é exatamente a possibilidade de promover análises e interações das influências plurais que as diferentes culturas exercem, de forma permanente, sobre as novas gerações. Dessa forma, a escola precisa acolher, criticar e colocar em contato diferentes saberes, diferentes manifestações culturais e diferentes óticas. 

    D)o ensino da arte seja efetivado sem inviabilizar a posição hierárquica das disciplinas científicas. 
    ERRADO - Moreira e Candau evidenciam a existência de uma tendência a se ensinar conhecimentos que possam ser, de algum modo, avaliados. Nesse contexto, os conhecimentos que historicamente têm sido vistos como os mais “importantes" costumam ser avaliados segundo padrões vistos como mais “rigorosos", ainda que não se problematize quem ganha e quem perde com essa “hierarquia". Os autores seguem sugerindo que nos situemos, na prática pedagógica culturalmente orientada, além da visão das culturas como inter-relacionadas, como mutuamente geradas e influenciadas, e procuremos facilitar a compreensão do mundo pelo olhar do subalternizado. No currículo, trata-se de desestabilizar o modo como o outro é mobilizado e representado. Trata-se de desafiar a ótica do dominante e de promover o atrito de diferentes abordagens, diferentes obras literárias, diferentes interpretações de eventos históricos, para que se favoreça ao aluno entender como o conhecimento socialmente valorizado tem sido escrito de uma dada forma e como pode, então, ser reescrito. Destacam a importância de propiciar aos estudantes a compreensão das relações de poder envolvidas na hierarquização das manifestações culturais e dos saberes, assim como nas diversas imagens e leituras que resultam quando certos olhares são privilegiados em detrimento de outros. Portanto, os autores defendem que a posição hierárquica das disciplinas científicas seja alvo de questionamento e análise crítica. 

    E)o currículo seja transformado em um espaço de crítica cultural, abrindo espaço para a pluralidade cultural. 
    CORRETO – Conforme consta no documento “Indagações sobre currículo – Currículo, Conhecimento e Cultura", os autores sugerem que se expandam os conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir alguns dos artefatos culturais que circundam o aluno. A ideia é tornar o currículo um espaço de crítica cultural, abrindo as portas, na escola, a diferentes manifestações da cultura popular, além das que compõem a chamada cultura erudita. Músicas populares, danças, filmes, programas de televisão, festas populares, anúncios, brincadeiras, jogos, peças de teatro, poemas, revistas e romances precisam fazer-se presentes nas salas de aula. Da mesma forma, levando-se em conta a importância de ampliar os horizontes culturais dos estudantes, bem como de promover interações entre diferentes culturas, outras manifestações, mais associadas aos grupos dominantes, precisam ser incluídas no currículo. 

    Fonte: Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Indagações sobre currículo : currículo, conhecimento e cultura. [Antônio Flávio Barbosa Moreira , Vera Maria Candau] ; organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília, 2007. Disponível no portal do MEC. 

    Portanto, a letra E é a resposta certa. 

    Gabarito do Professor: Letra E.