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ID
3845206
Banca
VUNESP
Órgão
UNESP
Ano
2019
Provas
Disciplina
História
Assuntos

    No fim da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.

    Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente o que me parece.

    Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a 1 , se a 2 . Tudo quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.

    Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve também.”

    São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir.

    Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.

(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)

1V. M.: Vossa Majestade.

Em um estudo publicado em 2005, o historiador Gustavo Acioli Lopes vale-se, no quadro da economia colonial, da expressão “primo pobre” para se referir ao produto derivado das lavouras mencionadas por Antônio Vieira em sua carta. No contexto histórico em que foi escrita a carta, o “primo rico” seria

Alternativas
Comentários
  • Mesmo quando o trecho apresentado é um pouco extenso para a entrada de uma questão, não se pode deixar de lê-lo. Pois na maioria das vezes apresenta dados importantes para que seja possível chegar à resposta correta. Para a compreensão do trecho do Padre Antônio Vieira é necessário ter um conhecimento básico do processo histórico de ocupação portuguesa na América – no Brasil. 
    É também importante ter clareza de que a ocupação do território brasileiro não foi uniforme em tempo, espaço, forma e desenvolvimento econômico. Por isso é que historiadores tendem a tratar de “regiões coloniais" ao invés de “Brasil Colonial". 
    O jesuíta Antônio Vieira esteve no Brasil durante o século XVII. Esta é a localização no tempo do trecho transcrito. É importante ter-se clareza da época pois, como já foi dito, houve diferença de tempo e de importância entre as regiões coloniais. Assim sendo, à época em que Antônio Vieira escreveu ao rei de Portugal, é bastante específico o produto que seria o “primo rico". Ele está indicado em uma das alternativas 
    A) CORRETA- A agromanufatura do açúcar era a atividade mais lucrativa entre aquelas das diferentes regiões coloniais da América Portuguesa. O lucro com a comercialização do açúcar era suficientemente grande para o enriquecimento da metrópole e da elite sócio econômica da região. Portanto, o “primo rico" citado pelo historiador. 
    B) INCORRETA- O pau-brasil só se foi explorado com lucros até mais ou menos 1530 e, não justificaria a colonização pois era uma atividade extrativa baseada no escambo com nativos. 
    C) INCORRETA- O plantio e exportação do café não datam da época colonial. 
    D) INCORRETA-. A exploração do ouro e pedras preciosas em Minas Gerais não é uma atividade agrícola! 
    E) CORRETA – O plantio de algodão sofria a permanente concorrência do algodão produzido nas regiões do sul do atual EUA. Foi o “primo rico" somente no período da Guerra Civil norte-americana, quando a exportação do algodão brasileiro cresceu por conta da diminuição da venda do produto dos estados do sul dos EUA. 
    Gabarito do professor: Letra A.
  • Ciclo econômico do Brasil :

    através dos texto reconhecemos que se trata do período colonial :

    inicio da administração colonial com as capitanias hereditarias e o governo geral ;

    Portanto , so poderia ser a alternativa letra A

  • LETRA A

    A economia açucareira era tão forte que nem mesmo após a instalação da Holanda no lucrativo comércio do açúcar caribenho e a economia aurífera colonial, extinguiu o mercado açucareiro do "Brasil".

    O produto era tão forte, que menciona Celso Furtado em sua obra - Formação Econômica do Brasil - de todo arrecadado bruto decorrente da economia açucareira, mesmo com os custos de produção serem exorbitantes, com pagamento de alguns salários, manutenção das fazendas, equipamentos e ferramentas, compra de escravos e máquinas, os luxos exorbitantes da Elite colonial entre outros custos ligados a produção, estes estavam na casa dos 10% do total bruto da economia. Não é atoa que o açúcar era muita das vezes chamado de "Ouro Branco".

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    (Caso esteja errado me informem por privado)

    @estuda_gabrielg