A Revolta da Chibata (1910)
Embora a Lei Áurea sepultasse a escravidão em 1888, a aplicação de castigos corporal sobreviveu na Marinha até o início do período republicano. Vale destacar que boa parte da marujada era composta por homens negros e pobres, enquanto os oficiais eram muitas vezes descendentes de famílias ligadas à nobreza do Segundo Reinado. O passado escravocrata, que a República fizera tanto esforço para esquecer, ainda assombrava o país.
Após um marinheiro ser penalizado com 250 chibatadas, seus colegas tomaram o navio de guerra Minas Gerais em 1910, tendo como líder o marinheiro João Cândido – homem de baixa posição na hierarquia militar, mas que se torna conhecido como Almirante Negro. Pouco tempo depois, os marinheiros das embarcações São Paulo e Bahia também se juntariam aos revoltosos.
Mirando suas armas para o Rio de Janeiro, os revoltosos exigiam o fim dos castigos corporais e melhores condições de trabalho e soldo. Hermes da Fonseca, então presidente da República, aprovou a anistia dos revoltosos e sinalizou acatar suas reivindicações, levando João Cândido e seus companheiros a devolverem os navios.
Contudo, o presidente não cumpriu sua promessa, e 17 marujos – entre eles, João Cândido – foram encarcerados na Ilha das Cobras, onde foram mantidos sem alimento ou água por três dias. Apenas João Cândido e um colega não morreram de asfixia no local, e ambos foram expulsos da Marinha. A partir daí, o “Almirante Negro” passou a viver como pescador, em condições extremamente miseráveis, até falecer em 1969, aos 89 anos.