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ID
523474
Banca
FGV
Órgão
Senado Federal
Ano
2008
Provas
Disciplina
Atualidades
Assuntos

Em abril de 1967, na mostra de artes visuais Nova Objetividade Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o carioca Hélio Oiticica apresentou uma obra-ambiência batizada "Tropicália” que, pouco tempo depois, emprestaria o nome ao movimento que transformou o ambiente cultural do país no período. Os trechos abaixo foram extraídos de canções que compõem a discografia associada ao Tropicalismo, à exceção de um. Assinale-o.

Alternativas
Comentários
  • Trata-se da canção Roda Viva, de Chico Buarque, grande artista por quem nutro profunda admiração (só perde para mim em inteligência e sensibilidade para Caetano). Chico é sambista independente, auto-intitulado discípulo de Tom Jobim, mestre da Bossa Nova, juntamente com João Gilberto. A Tropicália foi um movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop-rock e o concretismo); misturou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha objetivos comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. O movimento manifestou-se principalmente na música (cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé); manifestações artísticas diversas, como as artes plásticas (destaque para a figura de Hélio Oiticica), o cinema (o movimento sofreu influências e influenciou o Cinema novo de Gláuber Rocha) e o teatro brasileiro (sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa). Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das canções de Caetano Veloso, denominada exatamente de "Tropicália".
  • Resposta: D.
    Os anos 60 no Brasil foram de profunda politização por parte da juventude. Os festivais da canção, eventos tradicionais desse período, proporcionaram um espaço de disputa entre os adeptos das ideias propagadas nos centros populares de cultura da União Nacional dos Estudantes (os CPCs da UNE) e os chamados tropicalistas. Um episódio marcante foi o discurso de Caetano Veloso em 1968, no Teatro Tuca, em São Paulo. Caetano, acompanhado dos Mutantes, entrou no palco sob vaias para cantar a canção É proibido proibir. Com a plateia exaltada, disse: "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? " e continuou: "A mesma juventude que vai sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem". Era uma resposta do cantor contra as críticas sofridas pela inserção do som da guitarra nas suas músicas e por suas atitudes.
    O trecho da letra A faz parte da canção Domingo no parque de Gilberto Gil. O da letra B é da música Divino Maravilhoso de Caetano Veloso, interpretada por Gal Costa. A letra C é um trecho de Panis et Circensis do próprio Caetano, bem como a letra E, chamada de Tropicália.
    Vale a pena ouvir e conhecer todas elas. Bons exemplos da memória musical do nosso país.
  • Segue Depoimento de Chico Buarque sobre o Movimento Tropicália


    Na época do tropicalismo — já falei sobre isso outras vezes — eu por acaso estava aprendendo música. Foi quando eu conheci o Tom, quer dizer, conheci pessoalmente, comecei a trabalhar com ele, fazer letras para ele e tomar contato com a riqueza do trabalho dele. Eu comecei a estudar música e o Tom foi me indicando o caminho. Foi comigo na Lapa comprar um piano e comprei meu primeiro piano. Comecei a me interessar por música ali em 67, 68, exatamente quando veio o tropicalismo. Então eu não estava preocupado em romper. O tropicalismo rompia com a bossa nova inclusive. E eu não estava preocupado em romper com a bossa nova, pelo contrário, eu estava compondo com o Tom, que era o meu mestre. E eu querendo aprender uma porção de coisa, porque eu achava que eu já tinha perdido tempo, achava que já estava marcando passo musicalmente, que eu precisava — como precisava mesmo — me aperfeiçoar como músico, melhorar, progredir como músico. Eu estava preocupado com isso.
     
    Eu me encontrava com o Gil e com Caetano aqui no Rio, até então muito freqüentemente, e a partir de um certo momento eu deixei de ver os dois. E quando eu vi, já havia esse movimento. O Gil conta que me chamou para umas reuniões, que eu fui, que eu tomei um porre, eu não lembro direito, é possível (risos). Mas eu não estava muito preocupado. Talvez até me faltasse uma certa ambição de querer, de dar importância àquele movimento todo. A idéia de que eu estaria trinta anos depois falando disso era absurda. Porque eu estava quase brincando de fazer música e o movimento tropicalista já se atribuía um papel histórico, como de fato veio a ter. Eu estava fora, eu estava alheio, e quando eu conheci já estava a coisa criada. Eu conheci o tropicalismo já armado no palco. Eu tinha ótimas relações com eles e não deixei de ter por isso. Agora, num certo momento, havia a necessidade, principalmente por parte da imprensa de São Paulo, que dava um apoio muito grande ao movimento tropicalista, de criar um antagonismo. Quer dizer, era um pouco como havia necessidade de se negar Noel Rosa quando se fez a bossa nova, havia necessidade de romper com um passado e um passado do tropicalismo, e o passado por um acaso era eu. (risos) Então durante um certo tempo ainda sobrou. Eu fiquei sendo o adversário daquele movimento. E eu não me sentia absolutamente um adversário do tropicalismo. 

    Fonte: tropicalia.com.br
  • Corroborando com os demais comentários incríveis. Depois de fazer essa questão, observei que é muito importante a leitura de todas as letras de músicas dos compositores brasileiros. Sites como o Letras e o Vagalume são úteis para o êxito nessa jornada.

    Alternativa A - O rei da brincadeira - ê, José / O rei da confusão - ê, João / Um trabalhava na feira - ê, José / Outro na construção - ê, João.

    Tropicalismo.

    Gilberto Gil: Domingo no parque

    https://www.letras.mus.br/gilberto-gil/46201/

    Alternativa B - Atenção / Tudo é perigoso / Tudo é divino, maravilhoso / Atenção para o refrão: / É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte.

    Tropicalismo.

    Caetano Veloso: Divino Maravilhoso

    https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/44718/

    Alternativa C - Eu quis cantar / Minha canção iluminada de sol / Soltei os panos, sobre os mastros no ar / Soltei os tigres e os leões, nos quintais / Mas as pessoas na sala de jantar / São ocupadas em nascer e morrer.

    Tropicalismo.

    Os Mutantes: Panis et Circenses

    https://www.letras.mus.br/mutantes/47544/

    Alternativa D - Tem dias que a gente se sente / Como quem partiu ou morreu / A gente estancou de repente / Ou foi o mundo então que cresceu... / A gente quer ter voz ativa / No nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda viva / E carrega o destino pra lá.

    Música Popular Brasileira

    Chico Buarque: Roda Viva

    https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45167/

    GABARITO DA QUESTÃO

    Alternativa E -Sobre a cabeça os aviões / Sob os meus pés os caminhões / Aponta contra os chapadões / Meu nariz / Eu organizo o movimento / Eu oriento o carnaval / Eu inauguro o monumento no planalto central / Do país / Viva a bossa-sa- sa / Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça / Viva a bossa-sa-sa / Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça.

    Tropicalismo.

    Caetano Veloso: Tropicália

    https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/44785/