Sobre Boca do inferno NÃO é correto afirmar:
Sobre Boca do inferno NÃO é correto afirmar:
A respeito do fragmento:
Veio a sua mente a figura de Gongora e Argote, o poeta
espanhol que tanto admirava, vestido como nos retratos em seu hábito eclesiástico
de capelão do rei: o rosto longo e duro, o queixo partido ao meio, as têmporas
rapadas até detrás das orelhas. Gongora tinha-se ordenado sacerdote aos cinqüenta
e seis anos. Usava um anel de Rubi no dedo anular da mão esquerda, que todos
beijavam. Gregório Matos queria, como o poeta espanhol, escrever coisas que não
fossem vulgares, alcançar o culteranismo. Saberia escrever assim? Seria dentro
de si um abismo. Se ali caísse, aonde o levaria? Não estivera Gongora tentando
unir a alma elevada do homem à terra e seus sofrimentos carnais? Gregório de
Matos estava no lado escuro do mundo, comendo
a parte podre do banquete. Sobre
o que poderia falar? Goza, goza el color,
da luz, el oro. Teria sido bom para Gregório se tivesse nascido na Espanha?
Teria sido diferente? “Ah, Gregório”, pensou o poeta, “Porque em cullis mundi te meteste?”
(Miranda,
2006, p. 9).
A respeito de Manuel Bandeira é correto afirmar:
Sobre Libertinagem pode-se afirmar:
I - Em Poética, o comportamento extravagante e irônico das vanguardas faculta a crítica ao conservadorismo político e social veiculado pela poesia dos finais do século XIX e das duas primeiras décadas do século XX, propondo um “lirismo que é libertação”.
II - Irene no céu toca na questão étnica, um dos temas fundamentais para os modernistas da primeira geração, a partir do ponto de vista, neste sentido tipicamente modernista, da democracia racial, mais próximo de Gilberto Freyre que dos olhares sobre a questão como colocados por textos contemporâneos como Cidade de Deus, de Paulo Lins, por exemplo.
III - Com Poema tirado de uma notícia de jornal, começa um processo de rebaixamento da produção literária ao fato comum e vulgar, que terá contribuído em muito para a baixa qualidade da produção poética ao longo da segunda metade do século.
Os capítulos de O vôo da guará vermelha, titulados através de uma estrutura binária referente a cores, apontam para:
I - o sentido do “estado de alma” ou “psicológico” da personagem Irene ou de outros com quem ela se relaciona (Rosálio, a velha, o filho), indicando ora esperança (verde), ora paixão (vermelho) ora tristeza (cinza).
II - a profusão de sentidos que a referência às cores lá nomeadas pode indicar para o leitor, seja quanto ao aspecto psicológico da personagem central da trama (Irene) ou em relação às minúcias do cotidiano dos personagens.
III - uma “aquarela semântica” em que as cores não se distinguem, mas se interconectam para surtir um único efeito: a variação de cor que sofre a ave em contato com a luz, uma vez que o título da obra remete o leitor às várias cores com as quais a ave pode ser conhecida.
No trecho “Irene arrasta a amiga e a faz sentar-se na cama, pega água da moringa, bota num copo com açúcar e obriga a outra a beber, Anginha, filha, se acalme, deixe de pensar besteira, não se meta com o além nem se meta com feitiço que isso não serve para nada, só para lhe tomar dinheiro” (O vôo da Guará vermelha, p. 109), tem-se:
I - O uso do discurso direto em “Irene arrasta a amiga e a faz sentar- se na cama”, porque o narrador transcreve diretamente a fala da personagem em ação.
II - O uso do discurso indireto em “Anginha, filha, se acalme, deixe de pensar besteira”, porque o narrador se apropria da fala da personagem e a reformula a seu modo, uma vez que à personagem, nesse trecho, não foi dada a fala.
III - O uso de uma situação linguístico-narrativa em que o ato de narrar (de “Irene arrasta a amiga” até “obriga a outra a beber”) mistura-se, num mesmo plano sintático, à fala, quando Irene se dirige à personagem Anginha. A mistura de vozes provoca um efeito aparentemente caótico (pela ausência da sinalização de recursos típicos do uso dessa função discursiva como o verbo dicendi ou a pontuação apropriada para a situação) que é desfeito tão logo se imaginam elementos introdutores do discurso direto como os já citados.
Na estrofe 116 do Romance do pavão misterioso, “O rapaz disse: – Menina,/A mim você não fez mal:/Toda moça é inocente,/Tem seu papel virginal/Cerimônia de donzela/É uma coisa natural”, percebe- se que:
I - A estrofe (sextilha) com versos de sete sílabas poéticas (redondilha maior) e rimas do tipo XAXAXA (as letras repetidas indicam os versos que rimam entre si e o X indica os versos que não rimam) segue a ordem do poema que é assim metrificado para rápida assimilação pelo leitor do ritmo veloz em cuja estrutura são encadeados os fatos narrados.
II - A estrofe (septilha) com versos de cinco sílabas poéticas (redondilha menor) e rimas do tipo ABABAB segue a ordem do poema que é assim metrificado para rápida assimilação pelo leitor do ritmo veloz em cuja estrutura são encadeados os fatos narrados.
III - A estrofe (sextilha) com versos livres segue a ordem do poema que é assim “metrificado” para rápida assimilação pelo leitor do ritmo veloz em cuja estrutura são encadeados os fatos narrados.
Às estrofes 67 e 68 do Romance do pavão misterioso lê-se: “Então Creuza deu um grito:/– Papai, um desconhecido/Entrou aqui no meu quarto!/Sujeito muito atrevido!/Venha depressa, papai,/Pode ser algum bandido!/O rapaz disse: – Moça,/Entre nós não há perigo:/ Estou pronto a defendê-la/Como verdadeiro amigo./Venho é saber da senhora/Se quer se casar comigo”. A partir dessas estrofes pode- se dizer:
I - Utiliza-se um esquema clássico das tramas de amor: uma personagem (Evangelista) busca encontrar um amor (Creuza) que, a princípio, não é acessível (questão de classe social ou outro motivo) e, para obter a realização do desejo, precisa enfrentar um obstáculo (o pai de Creuza).
II - Utiliza-se um esquema contemporâneo das tramas de amor: uma personagem (Evangelista) busca encontrar um amor (Creuza) que, a princípio, não é acessível (questão de classe social ou outro motivo) e, para obter a realização do desejo precisa enfrentar um obstáculo (o pai de Creuza ou outros) unicamente através da violência física.
III - Não se utiliza um esquema das tramas de amor, porque o fato narrado é singular, ou seja, não se repete nem se imita uma estrutura comum da literatura, sobretudo do cordel: Evangelista busca encontrar um amor (Creuza). A inacessibilidade da “amada”, a princípio, coincidiu de, na invenção do cordelista, se dar dessa forma sem que isso implique em influência ou característica das narrativas populares que tematizam o amor.