1) É de regra que, na fala e na escrita, o pronome escolhido para tratamento das pessoas espraie seus efeitos para todos os elementos envolvidos.
2) Assim, se se trata o interlocutor por vós, além de concordarem os verbos nessa pessoa, só se podem usar os pronomes oblíquos e os pronomes possessivos que a ela correspondem (vos, convosco, vosso, vossa, vossos, vossas); se, por outro lado, a pessoa for tratada por tu, os pronomes oblíquos haverão de ser teu, tua, teus, tuas (jamais seu, sua, seus, suas, não podendo, assim, haver mistura de pronomes). Exs.:
a) "Se você quer, vou até teu gabinete"(errado);
b) "Se você quer, vou até seu gabinete"(correto);
c) "Se tu queres, vou até seu gabinete"(errado);
d) "Se tu queres, vou até teu gabinete"(correto);
e) "Vou te contar uma coisa para você..."(errado).
3) Nesse exato sentido se dá a lição de Vasco Botelho de Amaral: "Misturar pronomes ou formas verbais na segunda pessoa do plural com pronomes ou formas verbais da terceira constitui um erro crasso".1
4) Em outra obra, o referido autor é ainda mais didático acerca do problema analisado: "Certa carta de um conhecido ministro estrangeiro publicada nos jornais portugueses, entre outros deslizes de tradução apresentava este: 'Foi com grande pesar que recebi a vossa decisão de não aceitar o cargo que lhe ofereci na remodelação do Ministério...' Onde se pôs vossa, devia estar evidentemente - sua. O inglês your não corresponde só a vosso, vossa, vossos, vossas; deve traduzir-se, não só às vezes por teu, tua, teus, tuas, mas, como ali na carta, por seu, sua, seus suas, de V., de V. Exa., etc".2
5) Não menos clara é a lição de Júlio Nogueira: "Não há, pois, redigir frases em que, sendo tu a forma de tratamento, se usem em relação à mesma os possessivos seu, sua e as variações o, a, lhe".3
6) No exemplo trazido pelo leitor, vê-se que o sujeito de achariamé vocês (o qual, embora da segunda pessoa do discurso – aquela com quem se fala – leva o verbo para a terceira pessoa); apesar disso, traz-se, mais ao final, o pronome vossas, que só poderia referir-se a um vós (inexistente no caso). Há, portanto, no período, um erro de concordância, já que não se guarda a uniformidade do tratamento.
7) Tecnicamente, a correção do exemplo pode dar-se de dois modos:
a)“Não creio que acharíeis o fato hilário se fosse com vossas mães” (os interlocutores estariam sendo tratados por vós);
b)“Não creio que achariam o fato hilário se fosse com suas mães” (os interlocutores estariam sendo tratados por vocês).
8) Em termos práticos, como não é comum que, no linguajar diário, se tratem interlocutores por vós, a opção normal de uso deve ficar para o segundo modo de expressão.
fonte: http://www.migalhas.com.br/Gramatigalhas/10,MI7505,101048-Uniformidade+de+tratamento
O conceito de uniformidade de tratamento nos remete à ideia de que existem pronomes pessoais do caso reto e do caso oblíquo. Assim, tal uniformidade nada mais é do que a adequação dos pronomes a uma dada pessoa gramatical.
Ex: Não concordo com você, por isso não te apoiei.
Ao analisarmos os pronomes empregados, constatamos a não uniformidade entre eles, haja vista que a forma que melhor se adequa é:
Não concordo contigo, por isso não te apoiei.
https://alunosonline.uol.com.br/portugues/uniformidade-tratamento.html