SóProvas


ID
10945
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
ANATEL
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para os itens de 1 a 8

Como não usar o telefone celular

1 É fácil ironizar os possuidores de telefones celulares.
Mas é necessário descobrir a qual das cinco categorias eles
pertencem. Primeiro, vêm as pessoas fisicamente incapacitadas,
4 ainda que sua deficiência não seja visível, obrigadas a um
contato constante com o médico ou com o pronto-socorro.
Depois, vêm aqueles que, devido a graves deveres profissionais,
7 são obrigados a correr em qualquer emergência (capitães do
corpo de bombeiros, médicos, transplantadores de órgãos). Em
terceiro lugar, vêm os adúlteros. Só agora eles têm a
10 possibilidade de receber ligações de seu parceiro secreto sem
que membros da família, secretárias ou colegas malintencionados
possam interceptar o telefonema.
13 Todas as três categorias enumeradas até agora
merecem o nosso respeito: no caso das duas primeiras, não nos
importamos de ser perturbados em restaurantes ou durante uma
16 cerimônia fúnebre, e os adúlteros tendem a ser muito discretos.
Seguem-se duas outras categorias que, ao contrário,
representam um risco. A primeira é composta de pessoas
19 incapazes de ir a qualquer lugar se não tiverem a possibilidade
de conversar fiado acerca de frivolidades com amigos e
parentes de que acabaram de se separar. Elas nos incomodam,
22 mas precisamos compreender sua terrível aridez interior,
agradecer por não estarmos em sua pele e, finalmente, perdoar.
A última categoria é composta de pessoas preocupadas
25 em mostrar em público o quanto são solicitadas, especialmente
para complexas consultas a respeito dos negócios: as conversas
que somos obrigados a escutar em aeroportos ou restaurantes
28 tratam de transações monetárias, atrasos na entrega de perfis
metálicos e outras coisas que, no entendimento de quem fala,
dão a impressão de que se trata de um verdadeiro Rockfeller.
31 O que eles não sabem é que Rockfeller não precisa de
telefone celular, porque conta com um plantel de secretários tão
vasto e eficiente que, no máximo, se seu avô estiver morrendo,
34 por exemplo, alguém chega e lhe sussurra alguma coisa no
ouvido. O homem poderoso é justamente aquele que não é
obrigado a atender todas as ligações, muito pelo contrário:
37 nunca está para ninguém, como se diz.
Portanto, todo aquele que ostenta o celular como
símbolo de poder, na verdade, está declarando de público sua
40 condição irreparável de subordinado, obrigado que é a pôr-se
em posição de sentido, mesmo quando está empenhado em um
abraço, a qualquer momento em que o chefe o chamar.

Umberto Eco. O segundo diário mínimo. Sergio Flaksman (Trad.).
Rio de Janeiro: Record, 1993, p. 194-6 (com adaptações).

Com base nas idéias e estruturas do texto de Umberto Eco, julgue os itens a seguir.

O segmento "não nos importamos de ser perturbados" (l.14-15) tem sentido correspondente ao das seguintes estruturas: não nos importamos de sermos perturbados e não importa que nos perturbem.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C
     
    Questão bastante forçada e subjetiva. Não vejo nenhum problema com a primeira opção (não nos importamos de sermos perturbados), mas considero que houve mudança de sentido na segunda (não importa que nos perturbem). "Não importa" dá uma ideia mais absoluta, como se o fato fosse irrelevante, enquanto "não nos importamos" dá uma ideia de opinião, de algo que pode até ser grave, mas que entendemos, perdoamos. 
  • Quando li o "E" entre as duas frases em negrito, no sentido de "OU", entendi o enunciado.

  • QUESTÃO BOA PRA DEIXAR EM BRANCO

  • Certo, a segunda frase ficaria errada se fosse "Não nos importa que perturbem" ? Com o pronome concordando com o "importa"? Porque daí o "perturbem" ficaria vago, não necessariamente perturbando a "nós"

  • Francisco Alves... “e” com sentido de “ou” ??? Que tipo de bruxaria é essa?
  • Quando leio a primeira frase tenho a sensação que mudou o sentido, porque no trecho original "perturbado" tem o sentido de "incomodado" e na frase "não nos importamos de sermos perturbados" dá a ideia de "pessoas perturbadas", ou seja, pessoas com problemas psicológicos. Posso ter forçado a interpretação, mas foi por isso que errei a questão. Eu a vejo como ambígua, entraria com recurso.

  • Na primeira frase o "não" é uma palavra negativa atrativa que exige que a próclise sempre venha antes do verbo "Não nos (próclise pronome oblíquo) importa. na segunda o "nos" vem após de preposição "que" e preposição "não é atrativo podendo ser usado após o verbo não importa que nos.... ". São classes de palavras atrativas que exigem à próclise: palavras negativas, advérbios, pronomes interrogativos, relativos ou indefinidos e conjunções subordinativas
  • muito subjetiva!

  • deveria vir ''ou'' no lugar do ''e''. questão absurda!!! aff

  • Observo que alguns colegas estão com dificuldades. Vamos lá, então!

    "não nos importamos de ser perturbados"

    Pergunte ao verbo. Quem não se importa de ser perturbado? Sujeito NÓS, QUE ESTÁ OCULTO/ELÍPTICO/DESINENCIAL. Entendam isso a princípio.

    Na primeira reescrita é viável o verbo SER ir para o plural, então ele está concordando com PERTURBADOS. Uma das regras de concordância do verbo ser, Apesar de ele ser impessoal.

    NA SEGUNDA reescrita, já há uma complexidade. Mas também não é difícil.

    Se atenham ao seguinte. Quem não se importa? Nós. O "que", é um pronome que está retomando/substituindo o "nós", então tem de haver a concordância.

  • Você pode ser uma pessoa pertubada, sem precisar que ninguém lhe perturbe.

    Outra coisa é quando outras pessoas fazem você se perturbar.

    Sentidos diferentes.