Nesta perspectiva, a ação investigativa permite aos assistentes sociais em suas práticas cotidianas:
a) desdobrar as múltiplas determinações que constituem o cotidiano da prática profissional, num esforço de apreende-lo de forma diferente daquela percebida no momento da sua singularidade e na sua imediaticidade;
b) Avançar no desenvolvimento de estratégias pedagógicas capazes de mediar a dimensão do senso comum com a produção de conhecimento;
c) Colocar os profissionais em permanente diálogo com o pensamento crítico contemporâneo;
d) Subsidiar os profissionais na emissão de respostas qualificadas as demandas e necessidades da prática;
e) Apreender e traduzir, no concreto real, o conhecimento acumulado ao nível da teoria social e das teorias mediadoras;
f) Construir um conhecimento novo, crítico e criativo capaz de iluminar e subsidiar a prática cotidiana, possibilitando ao profissional apropriar-se de um saber para a construção de um fazer competente.
Assim, para desencadear um processo de desvelamento
do que se oculta nas práticas cotidianas dos assistentes sociais e,
concomitantemente, apreender as possibilidades do “novo”, faz-se necessário a
incorporação da ação investigativa como instrumento para o exercício
profissional. A investigação possibilita o resgate e a reconstrução da ação
cotidiana dos assistentes sociais, capturando suas determinações e seus nexos
através de estudo reiterado e crítico da realidade social.
A inserção da perspectiva investigativa na ação
impõe-se como exigência básica e angular da profissão e não mais como algo
opcional. Neste sentido, o pesquisador deixa de ser mero observador do real, prevalecendo
o primado da relação sujeito/objeto, dialetizado por uma teoria consistente
capaz de ultrapassar o limite do objeto e construir um novo saber.
Nesta perspectiva, a ação investigativa permite
romper com as práticas puramente descritivas de cunho factual, reducionista,
ingênua e acrítica, para uma apreensão de “algo mais” do real investigado. Isto
significa ajudar o profissional a traduzir no concreto cotidiano o seu
conhecimento, tendo o espírito indagativo como condição fundamental para o
exercício profissional (Vera Lucia Tieko Suguihiro).
A esse respeito, Guerra, expondo Marx (1983, p. 219) destaca que "cada modalidade do
conhecimento nos permite uma forma de apropriação do mundo. A mais elementar é a
apropriação através do espírito prático, manipulador, realizado no e pelo cotidiano,
pelo entendimento. A apreensão do real pela teoria é diferente da sua apreensão
pela arte, pela religião, pela prática. Vê-se que o conhecimento teórico é
apenas um tipo de conhecimento entre outros, mas, sobretudo, tende a ser o mais
universal e mais completo, uma vez que ele busca captar e reproduzir o real por
meio do pensamento.
Assim, a teoria é uma forma de apropriação do
mundo. O conhecimento dado pelo espírito prático, obtido nas intervenções profissionais,
é o conhecimento que advém da experiência e que permite a manipulação do mundo.
Ambos (conhecimento teórico e conhecimento prático) são modos de a consciência
se apropriar do mundo. Mas, são conhecimentos de naturezas, de significados e
estatutos diferentes".
Guerra, Yolanda. A dimensão
investigativa no exercício profissional.In.Pesquisa e produção do
conhecimento na área de Serviço Social - CFESS, 2009