SóProvas


ID
1260376
Banca
VUNESP
Órgão
FUNDUNESP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I

Foi no pátio da escola, à hora do recreio. Eugênio abaixou-se para apanhar a bola de pano, e de repente atrás dele alguém gritou:

- O Genoca tá com as carça furada no fiofó!

Os outros rapazes cercaram Eugênio numa algazarra. Houve pulos, atropelos, pontapés, cotoveladas, gritos e risadas: eram como galinhas correndo cegas a um tempo para bicar o mesmo punhado de milho. No meio da roda, atarantado e vermelho, Eugênio tapava com ambas as mãos o rasgão da calça, sentindo um calorão no rosto. Os colegas romperam em vaia frenética:

Calça furada!
Calça furada!
Calça furada-dá!

Gritavam em cadência uniforme, batendo palmas. Eugênio sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Balbuciava palavras de fraco protesto, que se sumiam devoradas pelo grande alarido.

Calça furada-dá!
No fio-fó-fó-fó!
Oia as calça dele, vovó!
Calça furada-dá!

Do outro lado do pátio, as meninas olhavam curiosas, com ar divertido, pulando e rindo. Em breve começaram a gritar também, integrando-se no coro, num alvoroço de gralhas.

O vento da manhã levava no seu sopro frio aquelas vozes agudas, espalhava-as pela cidade inteira, anunciando a toda a gente que o menino Eugênio estava com as calças rasgadas, bem naquele lugar... As lágrimas deslizavam pelo rosto do rapaz e ele deixava que elas corressem livres, lhe riscassem as faces, lhe entrassem pela boca, lhe pingassem do queixo, porque tinha ambas as mãos postas como um escudo sobre as nádegas. Agora, de braços dados, os rapazes formavam um grande círculo e giravam de um lado para outro, berrando sempre: Calça furada! Calça furada! Eugênio cerrou os olhos como para não ver por mais tempo a sua vergonha.

Soou a sineta.

Terminara o recreio. Na aula, Eugênio sentiu-se humilhado como um réu. Na hora da tabuada, a professora apontava os números no quadro-negro com o ponteiro, e os alunos gritavam em coro:

Dois e dois são quatro!
Três e três são seis!

E o ritmo desse coro lembrava a Eugênio a vaia do recreio. Calça furada-dá!

Que vergonha! O pai estava devendo o dinheiro do mês passado, a professora tinha reclamado o pagamento em voz alta, diante de todos os alunos. Ele era pobre, andava malvestido. Porque era quieto, os outros abusavam dele, botavam-lhe rabos de papel... Sábado passado ficara de castigo, de pé num canto, por estar de unhas sujas. O pior de tudo eram as meninas. Se ao menos na aula só houvesse rapazes... Meu Deus, como era triste, como era vergonhoso ser pobre!

(Erico Verissimo, Olhai os lírios do campo, Companhia das Letras, 2005. Adaptado)

A leitura do texto permite afirmar que Eugênio

Alternativas
Comentários
  • Gabarito Letra E

    A) não foi após o recreio foi na hora do
    B) Ele se importava tanto que se lembrava do coro durante a tabuada
    C) ele balbuciava palavras de fraco protesto
    D) As meninas não o apoiavam, pelo contrário, zoavam dele
    E) CERTO

  • Violência psicológica por parte dos alunos: 

    Os outros rapazes cercaram Eugênio numa algazarra. Houve pulos, atropelos, pontapés, cotoveladas, gritos e risadas: eram como galinhas correndo cegas a um tempo para bicar o mesmo punhado de milho. No meio da roda, atarantado e vermelho, Eugênio tapava com ambas as mãos o rasgão da calça, sentindo um calorão no rosto. Os colegas romperam em vaia frenética:

    Calça furada! 
    Calça furada! 
    Calça furada-dá! 

    Por parte da professora:

    Que vergonha! O pai estava devendo o dinheiro do mês passado, a professora tinha reclamado o pagamento em voz alta, diante de todos os alunos.


  • Senti pena do pobre Eugênio.

  • a) jogava bola com seus colegas, na quadra da escola, após o recreio, quando foi alvo de zombaria por causa de sua calça rasgada.[errada] 

    "Foi no pátio da escola, à hora do recreio. Eugênio abaixou-se para apanhar a bola de pano, e de repente atrás dele alguém gritou:" (Foi durante o recreio e o texto não deixa claro que ele estava jogando, somente diz que ele abaixou para pegar a bola!)

    b) importava-se pouco com as gozações dos colegas, embora sentisse vergonha da calça furada. [errada] 

    "Eugênio cerrou os olhos como para não ver por mais tempo a sua vergonha..." (em varias passagens do texto deixa claro a vergonha de Eugênio)

    c) protestava, em voz alta e firme, contra a atitude insensível de alguns colegas. [Errada]

    "Balbuciava palavras de fraco protesto, que se sumiam devoradas pelo grande alarido."

    d) tinha o apoio silencioso das meninas da escola, que o respeitavam muito.[Errada]
    "as meninas olhavam curiosas, com ar divertido, pulando e rindo. Em breve começaram a gritar também, integrando-se no coro, num alvoroço de gralhas."

    e)sofria violência psicológica por parte dos colegas e da professora da escola.[Correta]

    "Os colegas romperam em vaia frenética"

    "a professora tinha reclamado o pagamento em voz alta"


  • Chorei por Genoca...

  • ce é loko. Estude para o seu filho não passar o que o Genoca passou.

  • #todossomosgenoca

  • Texto perturbador! Mais triste ainda é saber que coisas desse tipo acontecem de verdade :/

  • Fui seco na alternativa A.... :(

  • GABARITO: E

     

    Tadinho do Eugênio :(((.

     

    Infelizmente isso acontece a todo momento :((

     

    Provavelmente, todos nós, ainda que num nível superficial, vivenciamos algum tipo de VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA. Na escola, faculdade,  em casa, no trabalho, entre conhecidos, na rua, fomos vítimas ou quem sabe agressores. Daí a importância de tomarmos consciência do mal que podemos fazer e renunciar a esse tipo de atitude.

    Num mundo que, cada vez mais, vive a violência de tantos tipos, precisamos, a partir de nós, romper com todo tipo de agressão, desde os nossos mais simples gestos.

  • Assertiva E

    sofria violência psicológica por parte dos colegas e da professora da escola.