SóProvas


ID
1263613
Banca
FUNCAB
Órgão
PRF
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1

Inauguração da Avenida

      [...]
      Já lá se vão cinco dias. E ainda não houve aclamações, ainda não houve delírio. O choque foi rude demais. Acalma ainda não renasceu.
      Mas o que há de mais interessante na vida dessa mó de povo que se está comprimindo e revoluteando na Avenida, entre a Prainha e o Boqueirão, é o tom das conversas, que o ouvido de um observador apanha aqui e ali, neste ou naquele grupo.
      Não falo das conversas da gente culta, dos “doutores” que se julgam doutos.
Falo das conversas do povo - do povo rude, que contempla e critica a arquitetura dos prédios: “Não gosto deste... Gosto mais daquele... Este é mais rico... Aquele tem mais arte... Este é pesado... Aquele é mais elegante...”.
      Ainda nesta sexta-feira, à noite, entremeti-me num grupo e fiquei saboreando uma dessas discussões. Os conversadores, à luz rebrilhante do gás e da eletricidade, iam apontando os prédios: e - cousa consoladora - eu, que acompanhava com os ouvidos e com os olhos a discussão, nem uma só vez deixei de concordar com a opinião do grupo. Com um instintivo bom gosto subitamente nascido, como por um desses milagres a que os teólogos dão o nome de “mistérios da Graça revelada” - aquela simples e rude gente, que nunca vira palácios, que nunca recebera a noção mais rudimentar da arte da arquitetura, estava ali discernindo entre o bom e o mau, e discernindo com clarividência e precisão, separando o trigo do joio, e distinguindo do vidro ordinário o diamante puro.
      É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens - tem uma inteligência nativa, exuberante e pronta, que é feita de sobressaltos e relâmpagos, e que apanha e fixa na confusão as ideias, como a placa sensibilizada de uma máquina fotográfica apanha e fixa, ao clarão instantâneo de uma faísca de luz oxídrica, todos os objetos mergulhados na penumbra de uma sala...
      E, pela Avenida em fora, acotovelando outros grupos, fui pensando na revolução moral e intelectual que se vai operar na população, em virtude da reforma material da cidade.
      A melhor educação é a que entra pelos olhos. Bastou que, deste solo coberto de baiucas e taperas, surgissem alguns palácios, para que imediatamente nas almas mais incultas brotasse de súbito a fina flor do bom gosto: olhos, que só haviam contemplado até então betesgas, compreenderam logo o que é a arquitetura. Que não será quando da velha cidade colonial, estupidamente conservada até agora como um pesadelo do passado, apenas restar a lembrança?
      [...]
      E quando cheguei ao Boqueirão do Passeio, voltei-me, e contemplei mais uma vez a Avenida, em toda sua gloriosa e luminosa extensão. [...]

Gazeta de Notícias - 19 nov.1905. Bilac, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. São Paulo: Companhia de Letras, 1996, p. 264-267.

Vocabulário:
baiuca: local de última categoria, malfrequentado.
betesga: rua estreita, sem saída,
: do latim “mole” , multidão; grande quantidade,
revolutear: agitar-se em várias direções,
tapera: lugar malconservado e de mau aspecto

Texto 2

O ciclista

      Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba - levanta voo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.
      É a sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.
      Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e - uma perna mais curta - foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.
      Opõe o peito magro ao para-choque do ônibus. Salta a poça d’água no asfalto. Num só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.
      Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.

Trevisan, Dalton. In: Bosi, Alfredo (Org.). O conto brasileiro contemporâneo. 14" Ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 189.


Sobre o conto de Dalton Trevisan, leia as afirmativas.

I. O texto constitui um conjunto narrativo de ações que remetem ao universo do subemprego, que caracteriza a vida de uma parcela pobre que vive no “labirinto urbano”.

II. A narrativa possui uma escrita lenta, a linguagem indireta, repleta de sugestões e de contextos de diferentes culturas.

III. O conto entrecruza, em uma única imagem, a figura do homem simples, do trabalhador, do esportista e do semideus.

Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):

Alternativas
Comentários
  • Letra D

    I. Correta

    II. A narrativa possui uma escrita (dinâmica) lenta, a linguagem indireta, repleta de sugestões e de contextos de diferentes culturas.Errada

    III. Correta

  • Há muita confusão nas questões de interpretação de texto dessa banca. Cespe, Esaf, Consulplan... entre outras têm questões difíceis, mas bem elaboradas, já as questões com " O selo Funcab" são confusas de respostas duvidosas, banquinha fraca na interpretação!.

  • Rafaela, nos poupe de comentar e ser redundante. Já q não ia adicionar explicação, ficasse soh no gabarito. Aff

  • Ao invés de reclamar da banca, procurem colaborar com possíveis explicações para o gabarito. Poupe nosso precioso tempo!

  • eu errei porque na hora de colocar a III mas "indefeso HOMEM" então exclui... 

  • GABARITO: LETRA D

    I.  - Correto, ele fala do dia a dia da figura do entregador de sorvete. 

    II.  - Errado, a escrita é dinâmica, procura dar a ideia da rapidez do rapaz na bicicleta fazendo pouco uso o ponto final nas orações, e não faz referencia de outras culturas.

    III. . - Correto, homem simples e trabalhador porque ele é um entregador de sorvete, "esportista" porque o autor refere ao rapaz como cliclista, e  demi deus (imagino eu) pela referencia ao Aladim.

  • não entendi o "semi Deus", e  José, uma homem comum, simples, humilde... 

    se fosse a referência de Aladim, errado por que aladin também era um garoto humilde, de rua, frágil,...

  • Vai a mer#@! essa banca! Quem elabora um tipo de questão dessa deve ter a mãe na...

    Enio Souza vc quer que explica o que desse lixo de questão, não dá pra entender nada, literatura lixo sem pé nem cabeça.

  • Só sei que nada sei...PQP...

  • Depois de ler os comentários e pensar um pouco a idéia do semideus vem do autor se expressar como se o entregador de sorvete tivesse vários poderes. pode ser uma analogia ao deus Hermes, ou Mercúrio que é o deus dos mensageiros e dos atletas. 

  • Lembrando que o Aladin não é um semi-deus ele é só um personagem folclorico :) 

  • Pelo amor de Deus, que resposta mais esdrúxula! Que banca porqueira!

  • Banca LIXO.

    Como assim subemprego? Em momento algum o texto dita isso ou nem mesmo é possível inferir!!

  • Fiquei em dúvida em "semi-deus", porém creio que o autor cria a imagem de semi-deus do personagem, quando fala que ele "levanta voo na bicicleta", "no labirinto urbano persegue a morte", "guerreiros trituram seu diafáno esqueleto", ou seja, tudo isso são aventuras de um semi-deus, como nos filmes de Hércule que enfratava vário desafios.

  • Justificativa forçosa demais, eivada de esteriótipos e preconceito. Banca fraca.
  • Essa associação com semideus ficou forçada.

    Agora semideus anda de bicicleta?!

    No máximo, poderia uma metáfora entre homem "comum" e um semideus.

  • Errei porque achei que a parte do semi Deus era para enganar. E sinceramente ainda não entendi o porquê dela.
  • sem querer chorar...mas chorando

    QUE BANCA LIXOOO VTNCCXC

    longe da pcerj !

  • Caso a teoria do rapaz da bicicleta remeter-se a um "semideus" seja por conta da comparação do Aladin, é uma extrema ignorância da banca, e esta questão deve ser anulada, pois o Aladin, como todos sabem, não é um semideus, mas um ser humano normal que acha uma lâmpada com um gênio encantado. Quem errou, fique tranquilo, injustiças assim acontecem, mas continuem estudando, isto não retirará a nota de vocês.