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ID
1284442
Banca
FGV
Órgão
AL-BA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                     Não éramos cordiais? 


     A morte do cinegrafista Santiago Andrade não configura um atentado à liberdade de imprensa, ao contrário do que tantos apregoam.
     É muito pior que isso: é um atentado ao convívio civilizado entre brasileiros, um degrau a mais na escalada impressionante de violência que está empurrando o país para um teor ainda mais exacerbado de barbárie.
     O incidente com o cinegrafista é parte de uma coreografia de violência crescente que se dá por onde quer que se olhe.
     Nunca se matou com tanta facilidade em assaltos. Nunca se apertou o gatilho com tanta facilidade. É até curioso que as estatísticas policiais no Estado de São Paulo apontem uma redução no número de homicídios dolosos, como se fosse um avanço, quando aumenta o número de vítimas de latrocínio, que não passa de homicídio precedido de roubo.
     De fato, em 2013, o número de latrocínios (379) foi o mais alto em nove anos, com aumento de 10% em relação aos 344 casos do ano anterior.
     Mas a violência não é um fenômeno restrito à criminalidade. A polícia age muitas vezes com uma violência desproporcional.
     A vida nas cidades e, cada vez mais, no interior, é de uma violência inacreditável. O trânsito é uma violência contra a mente  humana. O transporte público violenta dia após dia. Não é um atentado aos direitos humanos perder às vezes três horas entre ir e voltar do trabalho?
     A saúde é uma violência contra o usuário. A educação violenta, pela sua baixa qualidade, o natural anseio de ascensão social.
     A existência de moradias em zonas de risco é outra violência.
     A contaminação do ar mata ou fere de maneira invisível os habitantes das cidades em que o nível de poluição supera o mínimo tolerável.
     Não adianta, agora, culpar o governo do PT ou a suposta herança maldita legada pelo PSDB, ou os crimes praticados pela ditadura militar ou a turbulência que precedeu o golpe de 1964. O país foi sendo construído de maneira torta, irresponsável, sem o mais leve sinal de planejamento, de preparação para o futuro.
     Acumularam-se violências em todas as áreas de vida. A explosão no consumo de drogas exacerbou, por sua vez, a violência da criminalidade comum. Não há “coitadinhos” nessa história. Há delinquentes e vítimas e há a incompetência do poder público.
     É como escreveu, para Carta Capital, esse impecável humanista chamado Luiz Gonzaga Belluzzo:
    “O descumprimento do dever de punir pelo ente público termina por solapar a solidariedade que cimenta a vida civilizada, lançando a sociedade no desamparo e na violência sem quartel”.
     Antes que o desamparo e a violência sem quartel se tornem  completamente descontrolados, seria desejável o surgimento de  lideranças capazes de pensar na coisa pública, em vez de se  dedicarem a seus interesses pessoais, mesmo os legítimos.
     Alguém precisa aparecer com um projeto de país, em vez de projetos de poder. Não é por acaso que 60% dos brasileiros querem mudanças, ainda que não as definam claramente. A encruzilhada agora é entre ideias e rojões.
                                         (Clovis Rossi, Folha de São Paulo, 13/02/2014)

As declarações de Luiz Gonzaga Belluzzo indicam como causa desse estado de violência a

Alternativas
Comentários
  • Letra A

     “O descumprimento do dever de punir (...)"
    Esse trecho remete à impunidade 
  • Acho que caberia a letra "E" também.


    Se estamos falando de impuniudade, estamos falando de Injustiça também...

  • Entendi a menção ao dever de punir, mas a impunidade não está na lei - tecnicamente, não existe uma IMPUNIDADE LEGAL - está na aplicação irregular ou, até mesmo, na não aplicação da lei. Em algumas passagens são passados exemplos que reforçam a ideia de injustiça social, sobretudo, quando é dito que a violência está em todos os cantos. Enfim, só pra não esquecer, FGV, vai tomar no cu!

  • Acertei porque olhei a banca e vi que era FGV, logo, temos que pressupor o que ELES querem. 

    Contudo, discordo que Beluzzo tenha em algum momento falado em impunidade legal (meio Datena isso). Primeiro, para falarmos de impunidade legal, o autor deveria ter falado de leis, normas ou afins, mas em nenhum momento ele mencionou que as leis do país apregoam a impunidade. 

    Muito pelo contrário, ele foi claro, no início da frase, ao afirmar  “O descumprimento do dever de punir pelo ente público...", que os entes públicos não cumprem seu dever de punir, ou seja: primeiro, pressupõe que há um dever de punir, isto é, há punição predisposta na lei; segundo, no contexto de toda a frase, diz que a causa de violência é exatamente a falta de cumprimento desse dever por parte dos ENTES públicos, pressupondo, da mesma forma, que se o simples cumprimento do dever (este qual disposto em lei) já ajudaria a resolver o problema da violência.

    Não consigo interpretar isso como impunidade legal. Mesmo porque, num Estado Democrático de Direito, o Estado está longe de ser a própria lei, na verdade, tanto ele quanto o povo se submetem unica e exclusivamente a ela.

  •  “O descumprimento do dever de punir pelo ente público termina por solapar a solidariedade que cimenta a vida civilizada, lançando a sociedade no desamparo e na violência sem quartel”.

     

    Letra A

  • Gabriel Rosso, a questão não versa sobre o direito dos "manos". O texto foi claro.

  • Quando se tratar de questões da FGV, na parte de análise de textos, é necessário marcar a alternativa mais completa possível. No caso da citação do Beluzzo:  “O descumprimento do dever de punir pelo ente público..." = a)impunidade legal

  • Acho que o 'legal' nesse caso está em 'pelo ente público'. É como se os órgãos jurídicos tivessem autoridade legal para punir os infratores.