TEXTO 1 
    Falar é como andar. Acontece naturalmente, da mesma forma, nas mesmas faixas etárias, em qualquer parte do planeta Terra, independentemente de raça, de cultura, de cor, de gênero e de ensino formal. Basta que sejamos seres humanos.  
    É mesmo  fato  que  os  homens  se  distinguem  dos  outros  animais  por andar  sobre  os  dois  pés,  por  dominar um  sistema  de comunicação  duplamente  articulado  (com  unidades  sonoras  e  unidades  significativas),  denominado  ‘língua  natural’  ou  ‘língua humana’, e por manifestar inteligência diferenciada que os habilita a criar extensões tecnológicas de todas as partes de seu corpo, até de  seu  cérebro,  como  a  criação  do  computador. É fato  também  que  não  temos  escolha:  somos humanos, então falamos. Falamos porque  internalizamos ou especializamos uma  língua natural específica a partir do ambiente social em que nascemos  e vivemos: o domínio de uma ou mais  línguas humanas é uma capacidade específica da espécie humana. Nem sabemos ainda qual é o  limite do número de línguas que podemos dominar. É fato, todavia, que com 3 anos de idade, qualquer criança de qualquer parte do mundo se comunica com estruturas lingüísticas complexas.  
    Mas as línguas humanas não são os únicos sistemas de comunicação existentes. Todos os animais conhecidos têm sistema de comunicação,  alguns  já  bem  registrados,  como  o  das  abelhas,  o  dos  chimpanzés,  o  dos  golfinhos. Ser capaz de se comunicar  no interior da espécie e mesmo entre as espécies não significa ter uma língua humana. Os cães de estimação, por exemplo, têm grande capacidade de comunicação com os seres humanos, olho no olho, mas não são capazes de dominar uma língua humana. 
    As  línguas  humanas  são,  sem  dúvida,  excelentes  instrumentos  de  comunicação,  embora  mal-entendidos  entre  os  seres humanos sejam comuns, mesmo quando há domínio de uma mesma  língua, de uma mesma variedade. As  línguas humanas são, em verdade, mais do que excelentes instrumentos de comunicação. São, também, reflexo da cultura de um povo. São, além disso, parte da cultura de um povo. São ainda mais do que isso: são mecanismos de identidade. Um povo se individualiza, se afirma e é identificado em função de sua língua. 
 	 	 	 	Por  outro  lado,  podemos  desempenhar  um  papel  desumano  por meio  das  línguas  humanas,  como  o  exercício  do  poder desmedido, a prática do preconceito  lingüístico  sem  lei, que nos  leva a  subjugar o outro, a alijar o outro do processo produtivo, a diminuir a sua auto-estima, a fazer o outro se sentir incapaz, se sentir inferior, se sentir infeliz, tudo por meio de formas lingüísticas. As  línguas  humanas  podem,  sim,  ser  excelentes  instrumentos,  mas  podem  ser  também  perversos  instrumentos  de  poder  e  de dominação, especialmente quando  se naturalizam  relações  espúrias entre determinadas construções  lingüísticas e as pessoas que as falam. 
Scherre, Maria Marta P. In: Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola, 2005, p.9-10. Adaptado. 
  
Identifique a alternativa na qual a idéia apresentada não está em consonância com o texto 1.