SóProvas


ID
1403659
Banca
FCC
Órgão
TCM-GO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Prazer sem humilhação

        O poeta Ferreira Gullar disse há tempos uma frase que gosta de repetir: “A crase não existe para humilhar ninguém". Entenda-se: há normas gramaticais cuja razão de ser é emprestar clareza ao discurso escrito, valendo como ferramentas úteis e não como instrumentos de tortura ou depreciação de alguém.
        Acho que o sentido dessa frase pode ampliar-se: “A arte não existe para humilhar ninguém", entendendo-se com isso que os artistas existem para estimular e desenvolver nossa sensibilidade e inteligência do mundo, e não para produzir obras que separem e hierarquizem as pessoas. Para ficarmos no terreno da música: penso que todos devem escolher ouvir o que gostam, não aquilo que alguém determina. Mas há aqui um ponto crucial, que vale a pena discutir: estamos mesmo em
condições de escolher livremente as músicas de que gostamos?
        Para haver escolha real, é preciso haver opções reais. Cada vez que um carro passa com o som altíssimo de graves repetidos praticamente sem variação, num ritmo mecânico e hipnótico, é o caso de se perguntar: houve aí uma escolha? Quem alardeia os infernais decibéis de seu som motorizado
pela cidade teve a chance de ouvir muitos outros gêneros musicais? Conhece muitos outros ritmos, as canções de outros países, os compositores de outras épocas, as tendências da música brasileira, os incontáveis estilos musicais já inventados e frequentados? Ou se limita a comprar no mercado o que está vendendo na prateleira dos sucessos, alimentando o círculo vicioso e enganoso do “vende porque é bom, é bom porque vende"?
        Não digo que A é melhor que B, ou que X é superior a todas as letras do alfabeto; digo que é importante buscar conhecer todas as letras para escolher. Nada contra quem escolhe um “batidão" se já ouviu música clássica, desde que tenha tido realmente a oportunidade de ouvir e escolher compositores clássicos que lhe digam algo. Não acho que é preciso escolher, por exemplo, entre os grandes Pixinguinha e Bach, entre Tom Jobim e Beethoven, entre um forró e a música eletrônica das baladas, entre a música dançante e a que convida a uma audição mais serena; acho apenas que temos o direito de ouvir tudo isso antes de escolher. A boa música, a boa arte, esteja onde estiver, também não existe para humilhar ninguém.


(João Cláudio Figueira, inédito)


O autor da crônica se reporta ao emprego da crase, ao sentido da arte em geral e ao da música clássica em particular. A tese que articula esses três casos e justifica o título da crônica é a seguinte:

Alternativas
Comentários
  • "A possibilidade de escolha entre os vários níveis de expressão da linguagem e das artes não deve constranger, mas estimular nosso prazer."

    “A crase não existe para humilhar ninguém”.


    "Entenda-se: há normas gramaticais cuja razão de ser é empres-

    tar clareza ao discurso escrito, valendo como ferramentas úteis e não como instrumentos de tortura ou depreciação de alguém".


    Veja: Assim como a crase, os vários níveis de expressão não servem para humilhar. A arte, tem vários níveis de expressão, logo um leque de opções dados para estimular o prazer que o ouvinte tem a opção de escolher.

  • Resposta correta: letra c: A possibilidade de escolha entre os vários níveis de expressão da linguagem e das artes não deve constranger, mas estimular nosso prazer.

    A resposta pode ser justificada pelos seguintes trechos do texto transcritos a seguir:

    "Não digo que A é melhor que B, ou que X é superior a todas as letras do alfabeto; digo que é importante buscar conhecer todas as letras para escolher. Nada contra quem escolhe um “batidão” se já ouviu música clássica, desde que tenha tido realmente a oportunidade de ouvir e escolher compositores clássicos que lhe digam algo."

    "convida a uma audição mais serena; acho apenas que temos o direito de ouvir tudo isso antes de escolher. A boa música, a boa arte, esteja onde estiver, também não existe para humilhar ninguém."

    A possibilidade de escolha entre a linguagem culta ou coloquial e entre a arte popular ou erudita existe para que as pessoas tenham prazer naquilo que mais lhes interessa e não para humilhar. 

  • O poeta Ferreira Gullar disse há tempos uma frase que gosta de repetir: “A crase não existe para humilhar ninguém”
    Entenda-se: há normas gramaticais cuja razão de ser é emprestar clareza ao discurso escrito, valendo como ferramentas úteis 
    e não como instrumentos de tortura ou depreciação de alguém. Acho que o sentido dessa frase pode ampliar-se: “A arte 
    não existe para humilhar ninguém”
    , entendendo-se com isso que os artistas existem para estimular e desenvolver nossa 
    sensibilidade e inteligência do mundo, e não para produzir obras que separem e hierarquizem as pessoas.


    Assim como a crase é apenas um tipo de ferramenta gramatical, a arte e a música são apenas maneiras de se expressar. A liberdade de escolher entre a ferramenta A ou B, arte A ou B, música A ou B, é o que dá prazer e deve estimular as pessoas, e não constrangê-las.


    Portanto, letra C é a resposta.

  • Francamente, vocês viram o gabarito e depois justificaram, certo? Por que as justificativas mais confundem do que explicam.

  • questão de titulo deve-se olhar a conclusão, como também, adjetivos, verbos e adverbio modalizados, é principalmente a opnião do autor.

  • "A possibilidade de escolha entre os vários níveis de expressão da linguagem e das artes não deve constranger, mas estimular nosso prazer." Quem pode optar entre usar crase ou não? É norma culta e deve ser aplicada! Não existe possibilidade de escolha..

  • Também acho que o texto não deixa opção de escolha alguma entre níveis de expressão de linguagem. Ele apenas justifica o uso da crase, mas a banca usou esse fato para afirmar sobre a possibilidade de escolha entre níveis de expressão de linguagem. Sinceramente, não existe escolha, mas sim uma justificativa para o uso. Questão muito mal feita! 

  • A liberdade de escolher entre a ferramenta A ou B, arte A ou B, música A ou B não deve constranger as pessoas, e sim dar prazer, haja vista que tem a finalidade de estimular a sensibilidade e inteligência do mundo.