SóProvas


ID
1403662
Banca
FCC
Órgão
TCM-GO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Prazer sem humilhação

        O poeta Ferreira Gullar disse há tempos uma frase que gosta de repetir: “A crase não existe para humilhar ninguém". Entenda-se: há normas gramaticais cuja razão de ser é emprestar clareza ao discurso escrito, valendo como ferramentas úteis e não como instrumentos de tortura ou depreciação de alguém.
        Acho que o sentido dessa frase pode ampliar-se: “A arte não existe para humilhar ninguém", entendendo-se com isso que os artistas existem para estimular e desenvolver nossa sensibilidade e inteligência do mundo, e não para produzir obras que separem e hierarquizem as pessoas. Para ficarmos no terreno da música: penso que todos devem escolher ouvir o que gostam, não aquilo que alguém determina. Mas há aqui um ponto crucial, que vale a pena discutir: estamos mesmo em
condições de escolher livremente as músicas de que gostamos?
        Para haver escolha real, é preciso haver opções reais. Cada vez que um carro passa com o som altíssimo de graves repetidos praticamente sem variação, num ritmo mecânico e hipnótico, é o caso de se perguntar: houve aí uma escolha? Quem alardeia os infernais decibéis de seu som motorizado
pela cidade teve a chance de ouvir muitos outros gêneros musicais? Conhece muitos outros ritmos, as canções de outros países, os compositores de outras épocas, as tendências da música brasileira, os incontáveis estilos musicais já inventados e frequentados? Ou se limita a comprar no mercado o que está vendendo na prateleira dos sucessos, alimentando o círculo vicioso e enganoso do “vende porque é bom, é bom porque vende"?
        Não digo que A é melhor que B, ou que X é superior a todas as letras do alfabeto; digo que é importante buscar conhecer todas as letras para escolher. Nada contra quem escolhe um “batidão" se já ouviu música clássica, desde que tenha tido realmente a oportunidade de ouvir e escolher compositores clássicos que lhe digam algo. Não acho que é preciso escolher, por exemplo, entre os grandes Pixinguinha e Bach, entre Tom Jobim e Beethoven, entre um forró e a música eletrônica das baladas, entre a música dançante e a que convida a uma audição mais serena; acho apenas que temos o direito de ouvir tudo isso antes de escolher. A boa música, a boa arte, esteja onde estiver, também não existe para humilhar ninguém.


(João Cláudio Figueira, inédito)


Considere as seguintes afirmações:

I. Têm significação equivalente, no 2° parágrafo, estes dois segmentos: estimular e desenvolver nossa sensibilidade e separem e hierarquizem as pessoas.
II. O autor se refere ao som altíssimo do que toca num carro que passa para ilustrar o caso de quem, diante de tantas opções reais, fez uma escolha de gosto discutível.
III. O que importa para a definição do nosso gosto é que se abram para nós todas as opções possíveis, para que a partir delas escolhamos a que de fato mais nos apraz.

Em relação ao texto, está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • Gab. B

    I. Têm significação equivalente, no 2° parágrafo, estes dois segmentos: estimular e desenvolver nossa sensibilidade e separem e hierarquizem as pessoas. Errado. Estimular e desenvolver = os artistas; separem e hierarquizem as pessoas = a arte.

    II. O autor se refere ao som altíssimo do que toca num carro que passa para ilustrar o caso de quem, diante de tantas opções reais, fez uma escolha de gosto discutível. Errado.

    III. O que importa para a definição do nosso gosto é que se abram para nós todas as opções possíveis, para que a partir delas escolhamos a que de fato mais nos apraz. Correto.

  • I. incorreto: os sentidos são opostos

    II. incorreto: não há "opções reais"

    III. correto: ideia do autor claramente expressa no texto.

  • Srs.
    A segunda afirmativa é objeto de recurso! ..   pois há escolhas reais e o autor demonstra isso no texto dando exemplos (outros ritmos, compositores de outras épocas, tendências da musica brasileira, Tom jobim, Pixinguinha)

    E em outra passagem do texto dá-nos a entender que é o gosto do imbecil do carro é discutível quando afirma (se limita a comprar no mercado o que está vendendo ... alimentando um círculo vicioso e enganoso)

    Gabarito para mim está errado e a alternativa correta é a A

  • I. Têm significação equivalente, no 2° parágrafo, estes dois segmentos: estimular e desenvolver nossa sensibilidade e separem e hierarquizem as pessoas

    Não há equivalência. ERRADO

    II. O autor se refere ao som altíssimo do que toca num carro que passa para ilustrar o caso de quem, diante de tantas opções reais, fez uma escolha de gosto discutível.

    Aqui também achei um pouco duvidoso, pois realmente, de tantas escolhas reais de tantas músicas boas o indivíduo escolhe logo um certo gosto musical que está no mercado, mas em nenhum momento no texto ele fala que é discutível, como ele mesmo falou:

    "Não digo que A é melhor que B, ou que X é superior a todas as letras do alfabeto; digo que é importante buscar conhecer todas as letras para escolher. Nada contra quem escolhe um “batidão... ”

    Ele apenas fala que devemos analisar outros estilos também.

    III. O que importa para a definição do nosso gosto é que se abram para nós todas as opções possíveis, para que a partir delas escolhamos a que de fato mais nos apraz.

    Certíssimo, de acordo com o texto, pois o autor fala que devemos ver outras opções também, seja ela música clássica, batidão, eletrônica, etc. A partir dai, ver o que mais nos apraz (causa prazer), do que simplesmente ir de acordo com o que a mídia coloca.

  • Acrescentando ao comentário do Lucas sobre o item II: a ideia central do texto não é fazer juízo de valor sobre as escolhas individuais, mas questionar se as pessoas tiveram oportunidade de conhecer vasta gama de artistas e estilos antes de fazerem suas escolhas. Quando ele diz "diante de tantas opções reais, fez uma escolha de gosto discutível", está fazendo um juízo de valor sobre a escolha de quem passa com a música alta no carro. E esse não é o sentido do texto, que diz que ninguém deve se sentir humilhado pela boa arte. 

    Além do trecho que o Lucas já colocou, outros trechos sugerem que a  premissa está errada:

    "Não acho que é  preciso escolher, por exemplo, entre os grandes Pixinguinha e  Bach, entre Tom Jobim e Beethoven, entre um forró e a música  eletrônica das baladas, entre a música dançante e a que  convida a uma audição mais serena; acho apenas que temos o direito de ouvir tudo isso antes de escolher."

    "A boa música, a boa arte, esteja onde estiver, também não existe para humilhar ninguém."

    "Para ficarmos no terreno da música: penso que todos devem escolher ouvir o que gostam, não aquilo que alguém determina."



  • Achei que o II estivesse correto, pois senti juízo de valor na fala do autor do texto nas expressões: "som altíssimo de graves repetidos praticamente sem variação, num ritmo mecânico e hipnótico", "infernais decibéis", "compositores clássicos que lhe digam algo".

  • II. O autor se refere ao som altíssimo do que toca num carro que passa para ilustrar o caso de quem, diante de tantas opções reais, fez uma escolha de gosto discutível. ERRADO.

    Está errado pois no texto o autor faz um questionamento: (..) Quem alardeia os infernais decibéis de seu som motorizado 
    pela cidade teve a chance de ouvir muitos outros gêneros musicais? 

    Ou seja, será que aquele indivíduo que está ouvindo um som altíssimo num carro teve a chance de ouvir outros gêneros musicais? O autor não afirmou, como traz a alternativa, que esse indivíduo, diante das opções reais, fez uma escolha discutível. Por outro lado, ele  questiona se essa pessoa teve ou não referidas opções musicais. 

  • É impossível reconhecer onde se inciam os parágrafos na maioria das questões que contem texto.. Alguém mais passa por isso? 

  • Ainda bem que não errei essa só :D :D :D

  • I. incorreto: Veja que os sentidos são opostos:

    Os artistas existem para estimular e desenvolver nossa sensibilidade e inteligência do mundo, E NÃO para produzir obras que separem e hierarquizem as pessoas.

    II. incorreto: Veja que pode não ter havido uma escolha:

    Cada vez que um carro passa com o som altíssimo de graves repetidos praticamente sem variação, num ritmo mecânico e hipnótico, é o caso de se perguntar: Houve aí uma escolha? Quem alardeia os infernais decibéis de seu som motorizadopela cidade teve a chance de ouvir muitos outros gêneros musicais? ...

    III. correto: ideia do autor claramente expressa no texto.

  • Há dois erros na assertiva II. 
    Em primeiro lugar, ele não discute a questão do bom gosto na escolha musical. Certo, isso está implícito quando o autor afirma "Cada vez que um carro passa com o som altíssimo de graves repetidos praticamente sem variação, num ritmo mecânico e hipnótico" , pois não há como negar que quem descreve assim uma música não faz um bom juízo de valor sobre a sua qualidade e o gosto de quem a escuta. No entanto, no texto autor adere ao politicamente correto do (lamentável) "gosto não se discute", como ficou evidenciado nas passagens transcritas pelos colegas.
    Em segundo lugar, o objetivo do autor é questionar a existência de opções REAIS. É certo que há opções, e ele mesmo as elenca (Tom, Pixinguinha, Bach...), no entanto, ele quer problematizar se essas opções são reais ou ilusórias - é dizer, se o sujeito exerce uma real opção de escolha, uma vez que é influenciado pelo mercado, pela publicidade, pela ignorância e pela ampla gama de condicionantes sociais.

  • GAB [B] AOS NÃO ASSINANTES.

    #ESTABILIDADESIM.

    #NÃOÀREFORMAADMINISTRATIVA.

    ''NO FUTURO ,VOCÊ VAI SENTIR VERGONHA SE PODENDO TER FEITO ALGO ,CALOU-SE.''