- ID
- 1428589
- Banca
- IMAM
- Órgão
- Prefeitura de Lavras - MG
- Ano
- 2012
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
                                                Escravos de latas e fios 
            O  homem  sempre  construiu  máquinas  e  as  máquinas  acompanham  as  sociedades humanas desde a Antiguidade. Mas só há 200 anos elas  tiveram um  grande aperfeiçoamento, quando se  investiu maciçamente na criação de motores  a vapor, de máquinas elétricas e à explosão e depois de sistemas que sofisticaram  esses  equipamentos  e  foram  tornando  a  sociedade  cada  vez  mais  cheia  de  utensílios e aparelhos. 
            Máquinas  de  escrever,  de  gravar  de  sons,  de  gelar,  de  cozinhar,  de  costurar,  de  imprimir,  de  alterar  o  ambiente,  de  produzir  energias, máquinas  de  todo  tipo  foram constituindo um mobiliário cotidiano e dando a  impressão de que  com elas se obteria cada vez mais conforto e bem-estar. 
             Aí está o sonho do homem que viveu há mais de 200 anos: uma variedade  de equipamentos mecânicos e elétricos à sua disposição, conduzindo a certo tipo  de  paraíso  no  qual  não  se  precisaria  fazer  quase  nada.  Todos  os  trabalhos,  pesados  ou  leves,  grandes  ou  pequenos  seriam,  de  uma  forma  ou  de  outra,  realizados por equipamentos. Era um sonho não precisar de escravos ou pessoas  para  servir  e  estar  tudo  ao  alcance  da  mão  à  medida  que  desse  apenas  um  piparote. 
            O mesmo princípio alimenta hoje a indústria da robótica na ilusão de criar  máquinas  ainda  mais  sofisticadas  que  o  homem,  inclusive  na  capacidade  de  pensar. Existe um grupo de pesquisadores norte-americanos que investe grandes  somas de dinheiro em estudos para desenvolver sistemas eletrônicos tais que não  só  se  equiparem mas  ultrapassem  o  homem,  atingindo  uma  perfeição  que  este  nunca teve, a perfeição absoluta em termos de sistemas de inteligência. 
           (...) As máquinas  foram se  tornando  familiares ao homem e o homem  foi  delegando  cada  vez  mais  atribuições  a  elas,  deixando,  ele  mesmo,  de  ter  experiência, vivência e conhecimento das coisas que a máquina "faz" por ele. 
            Em  certo  sentido,  o  aumento  das  máquinas  significou  também  um  empobrecimento  do  homem.  Há  certos  ramos  profissionais  em  que  os  especialistas  possuem  tantas  máquinas  à  disposição  que  cada  vez  menos  pesquisam,  cada  vez  menos  conhecem  em  profundidade  os  fatos  de  sua  profissão, cada vez mais ignorantes são (...). 
           Mas  o  que mais marca  o  período  "tecnocêntrico"  de  nossa  cultura  é  o  aparecimento,  junto  com  todos  os  sistemas  técnicos,  mecânicos,  elétricos,  de  produção, trabalho e bem-estar, de um campo de utilização desses equipamentos  que se tornou cada vez mais totalizador. É o uso da tecnologia de comunicação e  informação. Elas vieram como uma espécie de contraponto a uma sociedade que  se  torna  cada  vez  menos  social,  onde  as  pessoas  cada  vez  menos  se  falam,      encontram-se,  veem-  se,  tocam-se;  em  que  as  pessoas  têm  cada  vez  menos  tempo para as outras, para os amigos; uma sociedade, portanto, de progressivo  isolamento. 
          A  comunicação,  como  espaço  de  troca  de  sensações,  vivências,  informações com o outro, hoje é  "realizada" por meios de aparelhos e máquinas  eletrônicas. As tecnologias tentam artificialmente reagregar um mundo de contatos  humanos que na prática já está totalmente rarefeito, pulverizado.  
                                                                        (Ciro Marcondes Filho. Sociedade tecnológica. Adaptado) 
 
Eu tenho um filho de 1 ano e meio. Quando ele nasceu, minha mulher e  eu  ficamos  acessando  todo  tipo  de  site  médico  associado  a  hospitais  respeitados;  queríamos  nos  tranquilizar  sobre  cada  novidade.  Esse  tipo  de  recurso  traz  muito  alívio.  Mas  a  internet  não  dá  refresco  neste  país,  envia  informação  sem  parar,  24  horas  por  dia.  As  histórias  importantes  são  relativizadas, tudo se confunde. Eu não preciso saber que alguém levou um tiro  num estacionamento no Arizona, mas eles vão me empurrar essa história e os  psicólogos que aparecem e os comentários dos sociólogos e das testemunhas  do  crime  –  a  coisa  parece  interminável,  até  o momento  em  que  salta  para  o  próximo  assunto  –  alguém  fabricou  uma  camiseta,  no  Texas,  que  virou  um  sucesso  no mundo  todo! E  não  acaba  nunca.  É  a  praga  da  popularidade.  A  internet  substituiu  a  cultura  popular  pela  cultura  da  popularidade. O  principal  critério de sucesso na  internet é a popularidade. A cultura popular costumava  atrair as pessoas para o que elas gostavam. A  internet atrai as pessoas para o  que  os  outros  gostam.  [...]  É  patético.  E  o  que  acontece  com  a  reportagem  sobre  uma mulher  negra  idosa  em Chicago,  despejada  no meio  da  noite?  É  claro que não  vai ser popular nem  sexy. Você vai  ter que  ler sobre a Britney  Spears ou a Paris Hilton, e esse critério é devastador.   
                                                         SIEGEL, Lee. Trecho de entrevista. Estado de S. Paulo, São Paulo, 
                                                                                                                             2 mar. 2008. (Adaptado) 
Numa  leitura  extensiva  do  texto,  tendo  como  referência  a  frase  abaixo,  é  CORRETO afirmar que:  
“a internet substituiu a cultura popular pela cultura da popularidade".