- ID
- 1433647
- Banca
- VUNESP
- Órgão
- Prefeitura de Caieiras - SP
- Ano
- 2015
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Uma rasteira no cotidiano
Dia desses, precisei pingar um remédio no nariz e deitei na cama para fazer isso. O remédio desceu pelas minhas narinas, mas eu não conseguia mais me levantar.
Meu pé foi capturado pela delícia de um raio de sol que costuma atravessar o meu quarto àquela hora do dia.
Eu fiquei ali parada, deitada sobre a colcha, esquentando os pés enquanto olhava uns reflexos dançando no teto. Minha cabeça começou a caminhar.
Se não fosse o meu nariz congestionado, não estaria ali. Eu me assustei. Não conseguia me lembrar de uma única vez que tivesse deitado na minha cama assim, no meio do dia, sem exata serventia. Uma coisa tão simples, tão boa e por que tão rara?
Por quê? Por que não faço isso mais vezes?
A vida cotidiana sempre me parece excessiva, mas eu também me rendo ao que parece ser a ordem natural das coisas e vivo correndo de um lado para outro com meu celular na mão.
Mas aquele dia fiz uma coisa tão banal! Deitei na minha cama de dia e entrei numa bolha subversiva de calma e prazer. Dei uma rasteira no cotidiano.
Faça o mesmo, caro leitor. Deite-se, ainda que seja por dez minutos. Sem função. Deite-se para ouvir-se.
Sempre tive uma curiosa inveja desses trabalhadores de praças e jardins que vejo, depois do almoço, deitados nos tristes gramados urbanos.
Apesar do serviço duro, são capazes de deitar na grama no meio do dia, enquanto nós continuamos no trânsito passando séculos sem ver uma árvore de baixo para cima. Quando estou num táxi e vejo um deles, eu me lembro de recostar a cabeça no banco para, no mínimo, ver uma inédita cidade passando pelo céu.
Pura delícia. Experimente. E se alguém ficar surpreso com sua atitude, diga que resolveu dar uma rasteira no cotidiano.
(Denise Fraga. Folha de S. Paulo, 14.05.2013. Adaptado)
Dia desses, precisei pingar um remédio no nariz e deitei na cama para fazer isso. O remédio desceu pelas minhas narinas, mas eu não conseguia mais me levantar.
Meu pé foi capturado pela delícia de um raio de sol que costuma atravessar o meu quarto àquela hora do dia.
Eu fiquei ali parada, deitada sobre a colcha, esquentando os pés enquanto olhava uns reflexos dançando no teto. Minha cabeça começou a caminhar.
Se não fosse o meu nariz congestionado, não estaria ali. Eu me assustei. Não conseguia me lembrar de uma única vez que tivesse deitado na minha cama assim, no meio do dia, sem exata serventia. Uma coisa tão simples, tão boa e por que tão rara?
Por quê? Por que não faço isso mais vezes?
A vida cotidiana sempre me parece excessiva, mas eu também me rendo ao que parece ser a ordem natural das coisas e vivo correndo de um lado para outro com meu celular na mão.
Mas aquele dia fiz uma coisa tão banal! Deitei na minha cama de dia e entrei numa bolha subversiva de calma e prazer. Dei uma rasteira no cotidiano.
Faça o mesmo, caro leitor. Deite-se, ainda que seja por dez minutos. Sem função. Deite-se para ouvir-se.
Sempre tive uma curiosa inveja desses trabalhadores de praças e jardins que vejo, depois do almoço, deitados nos tristes gramados urbanos.
Apesar do serviço duro, são capazes de deitar na grama no meio do dia, enquanto nós continuamos no trânsito passando séculos sem ver uma árvore de baixo para cima. Quando estou num táxi e vejo um deles, eu me lembro de recostar a cabeça no banco para, no mínimo, ver uma inédita cidade passando pelo céu.
Pura delícia. Experimente. E se alguém ficar surpreso com sua atitude, diga que resolveu dar uma rasteira no cotidiano.
(Denise Fraga. Folha de S. Paulo, 14.05.2013. Adaptado)
Pelas informações do texto, é correto afirmar que a narradora