SóProvas


ID
1457056
Banca
FCC
Órgão
TRE-RR
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                          Conselhos ao candidato

    Certa vez um enamorado da Academia, homem ilustre e aliás perfeitamente digno de pertencer a ela, escreveu-me sondando-me sobre as suas possibilidades como candidato. Não pude deixar de sentir o bem conhecido calefrio aquerôntico, porque então éramos quarenta na Casa de Machado de Assis e falar de candidatura aos acadêmicos sem que haja vaga é um pouco desejar secretamente a morte de um deles. O consultado poderá dizer consigo que “praga de urubu não mata cavalo". Mas, que diabo, sempre impressiona. Não impressionou ao conde Afonso Celso, de quem contam que respondeu assim a um sujeito que lhe foi pedir o voto para uma futura vaga:

    -Não posso empenhar a minha palavra. Primeiro porque o voto é secreto; segundo porque não há vaga; terceiro porque a futura vaga pode ser a minha, o que me poria na posição de não poder cumprir com a minha palavra, coisa a que jamais faltei em minha vida.

    Se eu tivesse alguma autoridade para dar conselhos ao meu eminente patrício, dir-lhe-ia que o primeiro dever de um candidato é não temer a derrota, não encará-la como uma capitis diminutio, não enfezar com ela. Porque muitos dos que se sentam hoje nas poltronas azuis do Trianon, lá entraram a duras penas, depois de uma ou duas derrotas. Afinal a entrada para a Academia depende muito da oportunidade e de uma coisa bastante indefinível que se chama “ambiente". Fulano? Não tem ambiente. [...]

    Sempre ponderei aos medrosos ou despeitados da derrota que é preciso considerar a Academia com certo senso de humour. Não tomá-la como o mais alto sodalício intelectual do país. Sobretudo nunca se servir da palavra “sodalício", a que muitos acadêmicos são alérgicos. Em mim, por exemplo, provoca sempre urticária.
    
    No mais, é desconfiar sempre dos acadêmicos que prometem: “Dou-lhe o meu voto e posso arranjar-lhe mais um". Nenhum acadêmico tem força para arranjar o voto de um colega. Mas vou parar, que não pretendi nesta crônica escrever um manual do perfeito candidato.

     (BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993, vol. único, p. 683-684)

*aquerôntico =relativo ou pertencente a Aqueronte, um dos rios do Inferno, atravessado pelos mortos na embarcação conduzida pelo barqueiro Caronte.

*capitis diminutio:expressão latina de caráter jurídico empregada para designar a diminuição de capacidade legal.

O consultado poderá dizer consigo que “praga de urubu não mata cavalo”.

Infere-se, a partir da referência ao dito popular, que o autor

Alternativas
Comentários
  • Gabarito B.

    ... porque então éramos quarenta na Casa de Machado de Assis e falar de candidatura aos acadêmicos sem que haja vaga é um pouco desejar secretamente a morte de um deles


    Quando o autor cita "éramos" e "desejar a morte de um deles" ..o próprio autor está incluído.. 

  • A alternativa B afirma que o "desejo secreto" é de que haja vaga com a morte de um dos acadêmicos, mas no texto afirma o desejo explícito pela vaga e o desejo secreto "pela morte de um deles".

    Demonstra sim, o autor se esquivando de qualquer responsabilidade: "Não posso empenhar a minha palavra. Primeiro porque o voto é secreto; segundo porque não há vaga; terceiro porque a futura vaga pode ser a minha, o que me poria na posição de não poder cumprir com a minha palavra, coisa a que jamais faltei em minha vida."

    Letra C. 

  • Alexandre Jorge, eu diria que todas alternativas podem responder qualquer parte do texto, mas o que a questão pede é referente ao trecho:

    O consultado poderá dizer consigo que “praga de urubu não mata cavalo”.

    E a alternativa:

    c) se considera inteiramente livre de quaisquer compromissos relativos à consulta que lhe foi enviada, esquivando-se, também, de tentar conseguir votos

    Como ele se considera inteiramente livre, se ele busca fonte para dar conselho ao candidato? Logo, alternativa errada!

  • A alternativa b diz que o autor se considera imune ao oculto desejo do candidato à morte de um dos imortais para que possa ocupar a vaga e se utiliza do dito popular para esclarecer que ainda que ele esteja entre os que podem falecer para dar a sonhada vaga, ele não crê que seja alcançado pela inveja do candidato.

  • Onde ele fala ou menciona se sentir imune?

  • Max assista a esta aula é muito boa.

    https://www.youtube.com/watch?v=Qcq2x9dEzVE.
  • Boa sugestao Regiane! Eu assisti ao video. Muito bom!


  • "Não pude deixar de sentir o frio arquerôntico..." e "Mas, diabo, sempre impressiona." não são frases de quem se acha imune. Ele tá morrendo de medo de ser aquele que vai abrir uma vaga para o candidato.

  • Quando ele diz que ''praga de urubu não mata cavalo'' é como se dissesse aquilo para que ele próprio se sinta tranquilo, imune a um eventual desejo secreto do candidato de que algum acadêmico morra para que surja uma vaga!!!