SóProvas


ID
1484110
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Rio Novo do Sul - ES
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Culto do espelho

Um dos produtos mais curiosos da indústria cultural digital é a chamada selfie, autorretrato feito com celular que virou mania geral. Em lugares públicos e privados, o usuário, como quem porta um espelho, vira a câmera do telefone para o próprio rosto e, “espelho, espelho meu", descobre por meio das redes sociais que não existe no mundo ninguém mais bonito do que “eu".

O autorretrato foi prática comum na história da pintura e da fotografia. Hoje em dia ele é hábito de quem tem um celular à mão. Em qualquer dos casos, a ação de autorretratar-se diz respeito a um exercício de autoimagem no tempo histórico em que técnicas tradicionais como o óleo, a gravura, o desenho foram a base das representações de si. Hoje ele depende das novas tecnologias que, no mundo dos dispositivos, estão ao nosso alcance de forma mais simples.

Não se pode dizer que a invenção da fotografia digital tenha intensificado apenas quantitativamente a arte de autorretratar-se. Selfie não é fotografia pura e simplesmente, não é autorretrato como os outros. A selfie põe em questão uma diferença qualitativa. Ela diz respeito a um fenômeno social relacionado à mediação da própria imagem pelas tecnologias, em específico, o telefone celular. De certo modo, o aparelho celular constitui hoje tanto a democratização quanto a banalização da máquina de fotografar; sobretudo, do gesto de fotografar.

O celular tornou-se, além de tudo o que ele já era, enquanto meio de comunicação e de subjetivação, um espelho. Nosso rosto é o que jamais veremos senão por meio do espelho. Mas é o rosto do outro que é nosso primeiro espelho. O conhecimento de nosso próprio rosto surge muito depois do encontro com o rosto do outro. Em nossa época, contudo, cada um compraz-se mais com o próprio rosto do que com o alheio. O espelho, em seu sentido técnico, apenas nos dá a dimensão da imagem do que somos, não do que podemos ser. Ora, no tempo das novas tecnologias que tanto democratizam como banalizam a maior parte de nossas experiências, talvez a experiência atual com o rosto seja a de sua banalização.

O autorretrato do tipo selfie não seria possível sem o dispositivo dos celulares e suas câmeras fotográficas capazes de inverter o foco na direção do próprio autor da foto. Celular como espelho, a prática da selfie precisa ser pensada em relação à atual experiência com a imagem de si. Ora, a autoimagem foi, desde sempre, fascinante. Daí o verdadeiro culto que temos com os espelhos. Assim é que Narciso é o personagem da autoadmiração, que em um grau de desmesura, destrói o todo da vida. Representante da vaidade como amor à máscara que todos necessariamente usamos para apresentarmo-nos uns diante dos outros, Narciso foi frágil diante de si mesmo. Não escaparemos dessa máscara e de seus efeitos perigosos se não meditarmos no sentido do próprio fato de “aparecer" em nosso tempo. Por trás da máscara deveria haver um rosto. Mas não é esse que o espelho captura.

Um julgamento de valor no caso da hiperexposição dos rostos seria mero moralismo se não colocasse em jogo um dos valores mais importantes de nossa época, o que Walter Benjamin chamou de “valor de exposição". Somos vítimas e reprodutores de sua lógica. No tempo da exposição total criamos a dialética perversa entre amar a própria imagem, sermos vistos e acreditarmos que isso assegura, de algum modo, nosso existir. No tempo da existência submetida à aparência, em que falar de algo como “essência" tem algo de bizarro, talvez que, com a selfie fique claro que somos todos máscaras sem rosto e que este modo de aparecer seja o nosso novo modo de ser.

(Marcia Tiburi. Coluna CULT, Culto do espelho. Disponível em: http: http://revistacult.uol.com.br/home/2014/11/culto-do-espelho//.)

A presença do acento grave, indicativo de crase, em “relacionado à mediação" pode ser justificada, pois,

Alternativas
Comentários
  • Maicon, que absurdo seu comentário. A regra é clara : duas respostas corretas = anulação.
    Além disso,a letra C está erradíssima !!! A forma verbal pede a preposição independente do gênero do termo que vem depois.É a regência do verbo. Teria preposição mesmo com substantivo masculino em seguida. 

    Gente, CUIDADO com os comentários.Eu também erro às vezes , mas é necessário ficar atento para não atrapalhar os candidatos.
    Quanto mais a comunidade cresce , mais comentários errados surgirão. Vamos ter cuidado.
    Abraços

  • à mediação da recebe crase por ser, também, locução adverbial, então, a questão deveria ser anulada.. 

  • Bom dia,
    A frase é: relacionado à mediação da própria imagem pelas tecnologias.
    O termo que rege é a palavra relacionado, quem está relacionado, está relacionado a alguma coisa, por este motivo, o termo pede a preposição a. E só pode usar a crase pois, está diante de um termo feminino - mediação....NUNCA, NUNCA usa crase diante de palavra masculina. por ex: relacionado ao contexto, contexto é masculino, então nunca nunca poderia usar à contexto. 
    Espero ter ajudado.
  • Letra C:

    A alternativa, da forma como está escrita, restringe a interpretação:

    "a forma verbal rege a preposição “a" diante de substantivo feminino".

    Ou seja, a forma verbal rege a preposição somente se estiver diante de substantivo feminino. ERRADO!!!

     Se o substantivo posposto fosse masculino, a preposição seria mantida: "relacionado ao projeto" = contração da preposição a com o artigo masculino.

    :)

  • Boa explicação Dhanilla. Só depois consegui entender pq a letra C está de fato errada. Como dizem: "o detalhe faz a diferença".

  • Letra C, fiquei na  duvida.

  • á mediação também não é locução adverbial ?

  • gaba: D


    ...De banca DEMENTE

  • Pessoal, o termo regente é a palavra RELACIONADO, portanto, UM NOME. A opção D pede forma VERBAL, por isso está errada! Pegadinha pela falta de atenção!

  • GABARITO: LETRA D

    ACRESCENTANDO:

    Tudo o que você precisa para acertar qualquer questão de CRASE:

    I - CASOS PROIBIDOS: (são 15)

    1→ Antes de palavra masculina

    2→ Antes artigo indefinido (Um(ns)/Uma(s))

    3→ Entre expressões c/ palavras repetidas

    4→ Antes de verbos

    5→ Prep. + Palavra plural

    6→ Antes de numeral cardinal (*horas)

    7→ Nome feminino completo

    8→ Antes de Prep. (*Até)

    9→ Em sujeito

    10→ Obj. Direito

    11→ Antes de Dona + Nome próprio (*posse/*figurado)

    12→ Antes pronome pessoalmente

    13→ Antes pronome de tratamento (*senhora/senhorita/própria/outra)

    14→ Antes pronome indefinido

    15→ Antes Pronome demonstrativo(*Aquele/aquela/aquilo)

    II - CASOS ESPECIAIS: (são7)

    1→ Casa/Terra/Distância – C/ especificador – Crase

    2→ Antes de QUE e DE → qnd “A” = Aquela ou Palavra Feminina

    3→ à qual/ às quais → Consequente → Prep. (a)

    4→ Topônimos (gosto de/da_____)

    a) Feminino – C/ crase

    b) Neutro – S/ Crase

    c) Neutro Especificado – C/ Crase

    5→ Paralelismo

    6→ Mudança de sentido (saiu a(`) francesa)

    7→ Loc. Adverbiais de Instrumento (em geral c/ crase)

    III – CASOS FACULTATIVOS (são 3):

    1→ Pron. Possessivo Feminino Sing. + Ñ subentender/substituir palavra feminina

    2→ Após Até

    3→ Antes de nome feminino s/ especificador

    IV – CASOS OBRIGATÓRIOS (são 5):

    1→ Prep. “A” + Artigo “a”

    2→ Prep. + Aquele/Aquela/Aquilo

    3→ Loc. Adverbiais Feminina

    4→ Antes de horas (pode está subentendida)

    5→ A moda de / A maneira de (pode está subentendida)

    FONTE: Português Descomplicado. Professora Flávia Rita

  • A questão é sobre crase e quer saber a justificativa do acento grave, indicativo de crase, em “relacionado à mediação". Vejamos: 

     .

    A) trata-se de uma locução adverbial.

    Errado. Aqui não há locução adverbial.

    • SEMPRE ocorre crase nas locuções de natureza adverbial, formadas com palavra feminina. Ex.: À vontade, à noite, à tarde, às pressas, às vezes, à toa, às claras, às escondidas, à direita, à esquerda, à milanesa (= à moda milanesa), ...

     .

    B) trata-se de uma locução prepositiva.

    Errado. Aqui não há locução prepositiva.

    • SEMPRE ocorre crase nas locuções de natureza prepositiva. Ex.: À custa de, à espera de, à força de, à procura de, à vista de...

     .

    C) a forma verbal rege a preposição “a" diante de substantivo feminino.

    Errado. A forma verbal exige a preposição "a" (relacionado A alguma coisa), mas precisa da preposição "a" antes do substantivo masculino (A mediação) para haver a crase: A + A = À. A alternativa está errada, pois afirma que ocorre a crase apenas porque a forma verbal rege a preposição "a" diante de substantivo feminino. Essa afirmação está errada, pois, para haver crase, seria preciso haver a fusão da preposição "a" com o artigo feminino "a".

     .

    D) o termo regente exige a preposição “a" posposta e o termo regido admite o artigo feminino “a" anteposto.

    Certo. O termo regente (o verbo) exige a preposição "a" (relacionado A alguma coisa) e o termo regido (seu complemento) admite o artigo feminino "a" (A mediação): A + A = À

     .

    Gabarito: Letra D

  • Quanto à letra C:

    C) a forma verbal rege a preposição “a" diante de substantivo feminino.

    A alternativa está incompleta, pois faltou mencionar, exatamente, o que a letra D, que é completa, mencionou: a necessidade do ARTIGO com a PREPOSIÇÃO para que se forme a CRASE.

    OBS: CESPE também costuma cobrar dessa forma, ou seja, a alternativa deve indicar que há preposição + artigo