SóProvas


ID
1484554
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                O verão em que aprendi a boiar
                            Quando achamos que tudo já aconteceu, novas capacidades
                                       fazem de nós pessoas diferentes do que éramos

                                                                                                                             IVAN MARTINS

            Sei que a palavra da moda é precocidade, mas eu acredito em conquistas tardias. Elas têm na minha vida um gosto especial.
            Quando aprendi a guiar, aos 34 anos, tudo se transformou. De repente, ganhei mobilidade e autonomia. A cidade, minha cidade, mudou de tamanho e de fisionomia. Descer a Avenida Rebouças num táxi, de madrugada, era diferente - e pior - do que descer a mesma avenida com as mãos ao volante, ouvindo rock and roll no rádio. Pegar a estrada com os filhos pequenos revelou-se uma delícia insuspeitada.
            Talvez porque eu tenha começado tarde, guiar me parece, ainda hoje, uma experiência incomum. É um ato que, mesmo repetido de forma diária, nunca se banalizou inteiramente.
            Na véspera do Ano Novo, em Ubatuba, eu fiz outra descoberta temporã.
            Depois de décadas de tentativas inúteis e frustrantes, num final de tarde ensolarado eu conquistei o dom da flutuação. Nas águas cálidas e translúcidas da praia Brava, sob o olhar risonho da minha mulher, finalmente consegui boiar.
            Não riam, por favor. Vocês que fazem isso desde os oito anos, vocês que já enjoaram da ausência de peso e esforço, vocês que não mais se surpreendem com a sensação de balançar ao ritmo da água - sinto dizer, mas vocês se esqueceram de como tudo isso é bom.
            Nadar é uma forma de sobrepujar a água e impor-se a ela. Boiar é fazer parte dela - assim como do sol e das montanhas ao redor, dos sons que chegam filtrados ao ouvido submerso, do vento que ergue a onda e lança água em nosso rosto. Boiar é ser feliz sem fazer força, e isso, curiosamente, não é fácil.
            Essa experiência me sugeriu algumas considerações sobre a vida em geral.
            Uma delas, óbvia, é que a gente nunca para de aprender ou de avançar. Intelectualmente e emocionalmente, de um jeito prático ou subjetivo, estamos sempre incorporando novidades que nos transformam. Somos geneticamente elaborados para lidar com o novo, mas não só. Também somos profundamente modificados por ele. A cada momento da vida, quando achamos que tudo já aconteceu, novas capacidades irrompem e fazem de nós uma pessoa diferente do que éramos. Uma pessoa capaz de boiar é diferente daquelas que afundam como pedras.
            Suspeito que isso tenha importância também para os relacionamentos.
            Se a gente não congela ou enferruja - e tem gente que já está assim aos 30 anos - nosso repertório íntimo tende a se ampliar, a cada ano que passa e a cada nova relação. Penso em aprender a escutar e a falar, em olhar o outro, em tocar o corpo do outro com propriedade e deixar-se tocar sem susto. Penso em conter a nossa própria frustração e a nossa fúria, em permitir que o parceiro floresça, em dar atenção aos detalhes dele. Penso, sobretudo, em conquistar, aos poucos, a ansiedade e insegurança que nos bloqueiam o caminho do prazer, não apenas no sentido sexual. Penso em estar mais tranquilo na companhia do outro e de si mesmo, no mundo.
            Assim como boiar, essas coisas são simples, mas precisam ser aprendidas.
            Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você boia, de vez em quando, morto de medo, sente que pode afundar. É uma experiência que exige, ao mesmo tempo, relaxamento e atenção, e nem sempre essas coisas se combinam. Se a gente se põe muito tenso e cerebral, a relação perde a espontaneidade. Afunda. Mas, largada apenas ao sabor das ondas, sem atenção ao equilíbrio, a relação também naufraga. Há uma ciência sem cálculos que tem de ser assimilada a cada novo amor, por cada um de nós. Ela fornece a combinação exata de atenção e relaxamento que permite boiar. Quer dizer, viver de forma relaxada e consciente um grande amor.
            Na minha experiência, esse aprendizado não se fez rapidamente. Demorou anos e ainda se faz. Talvez porque eu seja homem, talvez porque seja obtuso para as coisas do afeto. Provavelmente, porque sofro das limitações emocionais que muitos sofrem e que tornam as relações afetivas mais tensas e trabalhosas do que deveriam ser. Sabemos nadar, mas nos custa relaxar e ser felizes nas águas do amor e do sexo. Nos custa boiar.
            A boa notícia, que eu redescobri na praia, é que tudo se aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis.
            Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de melhorar. Mesmo se ela acabou, é certo que haverá outra no futuro, no qual faremos melhor: com mais calma, com mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
            O verão, afinal, está apenas começando. Todos os dias se pode tentar boiar.

                                                                      http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martin...
                                                                                                   verao-em-que-aprendi-boiar.html

Em “Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você bóia...”, existem duas figuras de linguagem. São elas:

Alternativas
Comentários
  • Atualmente, não se faz mais a distinção entre metonímia e sinédoque (emprego de um termo em lugar de outro), havendo entre ambos relação de extensão. Por ser mais abrangente, o conceito de metonímia prevalece sobre o de sinédoque.

  • Gabarito C

    “Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar (COMPARAÇÃO). Às vezes você nada, outras vezes você bóia...(METÁFORA)”


    A comparação e a metáfora são muito parecidas. Ambas empregam as palavras fora do seu sentido normal, por analogia. A diferença entre elas está no uso de termos comparativos.

    A comparação usa alguns termos de conexão para comparar características entre dois ou mais elementos. Por exemplo: Os olhos dela eram como duas jabuticabas. 

    A metáfora é um tipo de comparação implícita, sem termo comparativo, estabelecendo uma relação de semelhança, usando termos com significados diferentes do habitual. Por exemplo: A menina é um doce!

  • Com com com comparação = com conjunção (Ela é uma flor.) “Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar (COMPARAÇÃO).

    Metáfora = sem conjunção (Ela é uma flor.)  Às vezes você nada, outras vezes você bóia...(METÁFORA)”
  • Gabarito: C

    “Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você bóia...”

    Os termos destacados remetem à alternativa correta (comparação e metáfora). Lembrando que para haver Comparação é preciso do conectivo comparativo.


    E para quem quiser fazer uma revisão das Figuras de Linguagens ciatadas nos itens, segue abaixo as definições e alguns exemplos.


    Sinédoque
    - A sinédoque é uma figura de linguagem caracterizada pela substituição de um termo por outro, ocorrendo uma redução ou ampliação do sentido desse termo. 


    Ex:
    A parte pelo todo ou o todo pela parte - Vou sair de casa de meus pais e ter meu próprio teto. (casa)


    Ex:
    A classe pelo indivíduo ou o indivíduo pela classe - Quanto mais o Homem constrói, mais o Homem destrói. (os seres humanos)


    Hipérbole
    - Trata-se de uma figura de linguagem utilizada na linguagem oral e escrita que aumenta a expressividade da mensagem. A hipérbole se refere à utilização de palavras e expressões que exageram grandemente a realidade, enfatizando uma ideia. 


    Ex: Já lhe disse isso um milhão de vezes.

    Onomatopeia
    - são palavras que reproduzem, na linguagem escrita, os sons existentes, como os barulhos das máquinas e objetos, os ruídos dos animais, os sons produzidos pelo ser humano e os ruídos da natureza. 


    Ex: Ainda corri para segurar a jarra, mas ela fez ploft no chão.


    Comparação
    - caracterizada pela aproximação entre dois ou mais elementos que apresentam uma característica em comum, podendo essa característica estar ou não salientada. Na comparação há sempre um conectivo comparativo que estabelece a ligação entre os termos comparados, sendo os mais usados: como, feito, tal qual, que nem, igual a, etc. 


    Ex: Meu irmão é teimoso como uma mula.


    Metáfora
    - Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real. Tem caráter subjetivo. 


    Ex: A menina é uma flor.


    Obs: A metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo (como, tal como, assim como) não aparece.


    Anacoluto
    - É a falta de nexo que existe entre o início e o fim de uma frase. Ex: Novas espécies de tubarão no Japão, pensava em como é misteriosa a natureza.


    Silepse
    - É a concordância com a ideia e não com a palavra dita. Pode ser: de gênero, número ou pessoa.


    Ex: (Silepse de Gênero) Vossa Excelência está admirado do fato?



    Fonte:
    http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2.php

               http://www.infoescola.com/portugues/figuras-de-linguagem/

               http://www.normaculta.com.br/figuras-de-linguagem/



    "Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá"




  • Pessoal, elaborei para fins didáticos, uma lista de figuras e vícios de linguagem, para cada figura ou vício coloquei um informação que me faz lembrar do conceito. Espero que ajude vocês também. 

    FIGURAS DE LINGUAGEM

    METÁFORA: Comparação implícita

    SÍMILE: Comparação explícita

    ANTÍTESE: oposição lógica

    PARADOXO: oposição não lógica

    HIPÉRBOLE: exagero

    EUFEMISMO: suavização

    ELIPSE: Omissão de um termo subentendido

    ZEUGMA: omissão de um termo já dito.

    POLISSÍNDETO: Vários conectivos

    ASSÍNDETO: Nenhum conectivo

    ALITERAÇÃO: Repetição de consoantes

    ASSONÂNCIA: Repetição de vogais

    PLEONASMO ENFÁTICO: reforçar a ideia

    IRONIA: sarcasmo

    GRADAÇÃO: ascensão

    ONOMATOPEIA: imitação de sons

    HIPÉRBATO: inversão

    METONÍMIA: substituição

    CATACRESE: ausência de termos esp.

    SINÉDOQUE: subs. do todo pela parte

    SINESTESIA: mistura de sentidos

    PROSOPOPEIA: personificação de coisas

    PARONOMÉSIA: trocadilho

    APÓSTROFE: vocativo

    SILEPSE: concordância com a ideia

    PERÍFRASE: caracterizar por fatos

    ANÁFORA: repetição

    ANACOLUTO: interrupção 

    VÍCIOS DE LINGUAGEM

    REDUNDÂNCIA: óbvio

    BARBARISMO: erro na grafia ou pronúncia

    CLICHÊ: chavões

    SOLECISMO: erro de sintaxe

    CACÓFATO: som desagradável

    ECO: repetição desagradável

    COLISÃO: repetição de consoantes

    HIATO: repetição de vogais

    AMBIGUIDADE: duplo sentido

    ARCAÍSMO: desuso

    GERUNDISMO: exagero do gerúndio

    PLEBEÍSMO: gírias

    PLEONASMO VICIOSO: repetição desnecessária

    NEOLOGISMO: inventar palavras

    ABREVIAÇÃO: Art. PQ, VC


  • Valeu Alex!

  • Grato, Alex.


  • Símile ou comparação- Consiste numa comparação explícita, com a presença do elemento comparativo: comotal qualigual afeitoque nem (coloquial), etc., entre duas palavras ou expressões.

    Ela é bela como uma flor.

    Você é forte como um touro.

    Metáfora- Consiste numa comparação implícita, numa relação de similaridade, entre duas palavras ou expressões.

    Ela é uma flor. 

    Você é um touro.

  • GABARITO C

     

    “Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você bóia...”

                                          COMPARAÇÃO (uso do conectivo "como")                   METÁFORA (uso de termos diferentes dos

                                                                                                                     habitualmente usados para melhor compreensão do sentido)

     

  • c-

    usou como como comparacao = comparacao.

  • [GABARITO: LETRA C]

    Aliteração ⇝ Repetição de consoantes.

    Anacoluto ⇝ É a mudança repentina na estrutura da frase.

    Anáfora ⇝ Repetição de palavras em vários períodos ou orações.

    Antítese ⇝ Ideias contrárias. Aproximação sentidos opostos, com a função expressiva de enfatizar contrastes, diferenças.

    Antonomásia ou perífrase ⇝ Consiste em designar uma pessoa ou lugar por um atributo pelo qual é conhecido.

    Apóstrofe ⇝ Consiste no uso do vocativo com função emotiva.

    Assíndeto ⇝ A omissão de conectivos, sendo o contrário do polissíndeto.

    Assonância ⇝ Repetição de encontro vocálicos.

    Catacrese ⇝ Desdobramento da Metáfora. Emprega um termo figurado como nome de certo objeto, pela ausência de termo específico.

    Comparação ⇝ Compara duas ou mais coisas.

    Conotação ⇝ Sentido figurado.

    Denotação ⇝ Sentido de dicionário.

    Elipse ⇝ Omissão.

    Eufemismo ⇝ Emprego de uma expressão mais leve.

    Gradação/ Clímax ⇝ Sequência de ideias. Crescentes ou decrescente.

    Hipérbato ⇝ Inversão sintática.

    Hipérbole ⇝ Exagero em uma ideia/sentença.

    Ironia ⇝ Afirmação ao contrário.

    Lítotes ⇝ Consiste em dizer algo por meio de sua negação.

    Metáfora ⇝ Palavras usadas não em seu sentido original, mas no sentido figurado.

    Metonímia ⇝ Substituição por aproximação.

    Neologismo ⇝ Criação de novas palavras.

    Onomatopeias ⇝ Representação gráfica de ruídos ou sons.

    Paradoxo ⇝ Elementos que se fundem e ao mesmo tempo se excluem.

    Paralelismo ⇝ Repetição de palavras ou estruturas sintáticas que se correspondem quanto ao sentido.

    Paronomásia ⇝ Palavras com sons parecidos.

    Perífrase ou circunlóquio ⇝ Substituição de uma ou mais palavras por outra expressão.

    Personificação/ Prosopopeia ⇝ Atribuição de sentimentos e ações próprias dos seres humanos a seres irracionais.

    Pleonasmo ⇝ Reforço de ideia.

    Polissíndeto ⇝ O uso repetido de conectivos.

    Silepse ⇝ Concordância da ideia e não do termo utilizado na frase e possui alguns tipos. Pode discordar em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e pessoa (sujeito na terceira pessoa e o verbo na primeira pessoa do plural.

    Símile ⇝ É semelhante à metáfora usada para demonstrar qualidades ou ações de elementos. Aproximação por semelhança.

    Sinestesia ⇝ Quando há expressão de sensações percebidas por diferentes sentidos. Uma sensação visual que evoca um som, uma sensação auditiva que evoca uma sensação tátil, uma sensação olfativa que evoca um sabor, etc.

    Zeugma ⇝ Omissão de uma palavra que já foi usada antes.

    ◀ Meus resumos + Resumo feito do livro "Gramática - Ernani & Floriana".

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