SóProvas


ID
1489897
Banca
CONSULPLAN
Órgão
CBTU
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto

                                                                                   1º/4/1964 – Cena de rua

    Minha filha chega da escola dizendo que há revolução na rua. Em companhia de Carlos Drummond de Andrade,
meu vizinho no Posto 6, fui ver o que estava se passando.
    Vejo um general comandar alguns rapazes naquilo que mais tarde um repórter chamou de “gloriosa barricada”. Os
rapazes arrancam bancos e árvores impedem o cruzamento da av. Atlântica com a rua Joaquim Nabuco. O general
destina-se a missão mais importante: apanha dois paralelepípedos e concentra-se na façanha de colocar um em cima do
outro. Vendo-o em tarefa tão insignificante, pergunto-lhe para que aqueles paralelepípedos tão sabiamente colocados
um sobre o outro. “Isso é para impedir os tanques do 1º Exército!”
    Acreditava, até então, que dificilmente se deteria um exército com dois paralelepípedos ali na esquina da rua onde
moro. Ouço no rádio que a medida do general foi eficaz: o 1º Exército, em sabendo que havia tão sólida resistência,
desistiu do vexame: aderiu aos que se chamavam de rebeldes.
    Nessa altura, há confusão na av. N. S. de Copacabana, pois ninguém sabe o que significa “aderir aos rebeldes”. A
confusão é rápida. Não há rebeldes e todos, rebeldes ou não, aderem, que a natural tendência da humana espécie é
aderir. Erguem o general em triunfo. Vejo o bravo general passar em glória sobre minha cabeça.
    Olho o chão, os dois paralelepípedos lá estão, intactos, invencidos, um em cima do outro. Vou lá, com a ponta do
sapato tento derrubá-los. É coisa fácil. Das janelas, cai papel picado. Senhoras pias exibem seus pios lençóis e surge uma
bandeira nacional. Cantam o hino e declaram todos que a pátria está salva.
    Minha filha, ao meu lado, pede uma explicação para aquilo tudo. “É carnaval, papai?” “Não.” “É Copa do Mundo?”
“Também não.”
    Ela fica sem saber o que é. Eu também. Recolho-me ao sossego e sinto na boca um gosto azedo de covardia.

(Carlos Heitor Cony. Cena de rua. Folha de São Paulo. 01/04/2014.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/carlosheitorcony/2014/04/1433846-141964---cena-de-rua.shtml.)



Quando escrevem textos, os autores podem optar entre dois modos diferentes para ordenar o tempo: instalar um marco temporal no texto ou usar o próprio momento de produção (momento da escrita: agora) como ponto de referência temporal. No caso da crônica lida, o autor optou por

Alternativas
Comentários
  • Poxa, como pode ser passado se os verbos estão no presente?

  • Gab. C

    instalar no texto um marco temporal anterior ao momento da fala, já que os fatos estão situados no passado.


  • Primeiro paragrafo: "fui ver o que estava se passando."

  • Próxima questão dessa prova explica: De modo geral, os verbos são flexionados no presente do indicativo para exprimirem fatos que ocorrem no mesmo momento em que o falante os observa. Porém, esse tempo verbal também pode ser empregado para fazer referência a fatos passados, mostrando-os como se tivessem acontecendo no momento da fala, a fim de aproximá-los do leitor.

  • ...fui ver o que ESTAVA se passando(indica tempo passado)

  • o título é 1964 e depois a baixo do texto na bibliografia notamos que ele foi escrito em 2014. 

    Os verbos realmente indicam presente mas se notarmos essas datas do texto temos q os fatos aconteceram no passado ou seja MARCO TEMPORAL. 

    CORRETA C

  • Kátia, o texto pode falar de 1900 e usar como referência o próprio momento da fala. Não fale uma bobeira dessa que as pessoas estão aqui pra estudar, e você só atrapalha. Melhor ficar quieta já que acertou no chute e não sabe o motivo.

     

    Motivo: "fui ver o que estava se passando" no segundo parágrafo. No restante do texto o personagem desenvolve a história com verbos no presente, porém indicando fatos que já aconteceram! (ele conta o que estava se passando)

  • assim fica ruim e resolver as questoes

  • Galera, o gabarito é mesmo a letra C.

     

    Trata-se de uma particularidade da lingua portuguesa, de conseguir descrever fatos passados com verbos no presente. Vou dar um exemplo, que com certeza já aconteceu com voce.

     

    Imagina que você vai contar um fato que aconteceu na praia para um amigo... "Eu estou bem lá, parado, olhando o mar e levo uma bolada na cara! Com raiva eu pego a bola e dou um bico para bem longe" 

     

    Peceba que claramente eu estou contando algo que aconteceu, ou seja, no passado, mas trago para o presente para que você imagine a cena, como se estivesse lá junto comigo.

     

    Gab. C