A origem dos vitrais é objeto de controvérsias. Talvez  eles tenham nascido no Oriente, mas se desenvolveram grandemente na Europa. Suas formas, temas e funções transformaram-se com o apuro das técnicas de fabricação de vidros,  com o desenvolvimento da arquitetura, de tendências artísticas,  do gosto, enfim, da cultura e das sociedades. Manter-se-ia, porém, a relação estabelecida no século XII, quando as pinturas  sobre vidro, juntamente com os afrescos e as miniaturas, constituíam as principais técnicas de pintura utilizadas pelo homem. 
     Nos vitrais, a pintura complementa o colorido dos vidros,  serve para a criação de sombras e tonalidades, para o  aprimoramento das formas, para a modulação da luz. A arte do  vitral desenvolveu-se enormemente durante o período medieval,  momento em que, com a afirmação do gótico como expressão  da arquitetura, as composições de vidros coloridos passaram a  vedar grandes superfícies das igrejas e, além das funções  decorativas, ganharam funções pedagógicas, ensinando aos  fiéis, por meio de imagens, a vida de Cristo, dos Santos e passagens da Bíblia. 
     Entre os séculos XIV e XVI, os vitrais passaram a ser  utilizados como formas de iluminação dos ambientes e a pintura  dos vidros adotou a perspectiva, o que tornava os vitrais semelhantes aos quadros. Sua utilização ampliou-se dos espaços  públicos, em especial das igrejas, para os ambientes privados,  como palácios e sedes de corporações. As representações  neles contidas se estenderam, então, para a heráldica, para as  epopeias, para as caçadas e para a mitologia. 
     No Estado de São Paulo, a utilização de vidros coloridos  e pintados, montados em perfis de chumbo para decoração e  iluminação de ambientes, correspondeu à fase moderna do  desenvolvimento da arte de produzir vitrais. Na capital, ampliou-se a partir da virada do século passado, com a expansão de  novos bairros, a monumentalização dos edifícios públicos e o  requinte arquitetônico das residências.
     Até hoje vitrais de edifícios públicos paulistanos, como  os do Palácio da Justiça e do Mercado Municipal, causam  admiração pela proporção, beleza e integração com o projeto  arquitetônico. Representando temas históricos ou referentes às  funções públicas dos edifícios, as imagens formam um conjunto  das representações que, a partir do fim do século anterior,  criaram e reafirmaram um perfil de São Paulo diante do Brasil.  Sob esse ponto de vista, os vitrais, além de peças de arte,  constituem importantes documentos históricos. Eles nos falam  do forjar de ideias que se tornaram referência e moldam nossa  relação com o passado e com o presente, justificando papeis e  responsabilidades sociais. Produtos materiais de cultura, parte  de nosso patrimônio histórico e objetos de fruição de beleza, os  vitrais expressam por meio do poder das imagens a tradição, a  excelência econômica e cultural de São Paulo, o trabalho, a  determinação e o progresso.
(Marly Rodrigues.  Leitura.Publicação cultural da Imprensa  Oficial do Estado de São Paulo, ano 18, número 1, janeiro de  2000, pp. 32-34, com adaptações) 
Produtos materiais de cultura, parte de nosso patrimônio  histórico e objetos de fruição de beleza... (final do texto)  
A expressão grifada acima