- ID
- 1516318
- Banca
- Aeronáutica
- Órgão
- CIAAR
- Ano
- 2013
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
                                                O padeiro
       Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento -  mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera  sobre a “greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que suspenderam  o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei  bem o que do governo.
      Está  bem.  Tomo  o  meu  café  com  pão  dormido,  que  não  é  tão  ruim  assim.  E  enquanto  tomo  café  vou  me  lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele  apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: 
      - Não é ninguém, é o padeiro! 
      Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo? 
      “Então você não é ninguém?"  Ele  abriu  um  sorriso  largo.  Explicou  que  aprendera  aquilo  de  ouvido.  Muitas  vezes  lhe  acontecera  bater a  campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá  de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é  o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém…
      Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que  estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o  trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela  oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da  máquina, como pão saído do forno. 
      Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às  vezes me julgava importante porque no jornal que levava  para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome.  O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade  daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!"  E assobiava pelas escadas.  
                 (Rubem Braga. Disponível em: http://www.sul21.com.br/jornal/2013/01/100-anos-do...)
Tendo em vista a construção de sentido no texto, a alternativa cujo conteúdo melhor sintetiza a mensagem proposta pelo texto é