SóProvas


ID
1586149
Banca
VUNESP
Órgão
APMBB
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A seca
            De repente, uma variante trágica.
            Aproxima-se a seca.
            O sertanejo adivinha-a e prefixa-a graças ao ritmo singular com que se desencadeia o flagelo.
         Entretanto não foge logo, abandonando a terra a pouco e pouco invadida pelo limbo candente que irradia do Ceará.
     Buckle, em página notável, assinala a anomalia de se não afeiçoar nunca, o homem, às calamidades naturais que o rodeiam. Nenhum povo tem mais pavor aos terremotos que o peruano; e no Peru as crianças ao nascerem têm o berço embalado pelas vibrações da terra.
           Mas o nosso sertanejo faz exceção à regra. A seca não o apavora. É um complemento à sua vida tormentosa, emoldurando-a em cenários tremendos. Enfrenta-a, estoico. Apesar das dolorosas tradições que conhece através de um sem-número de terríveis episódios, alimenta a todo o transe esperanças de uma resistência impossível.
      Com os escassos recursos das próprias observações e das dos seus maiores, em que ensinamentos práticos se misturam a extravagantes crendices, tem procurado estudar o mal, para o conhecer, suportar e suplantar. Aparelha-se com singular serenidade para a luta. Dois ou três meses antes do solstício de verão, especa e fortalece os muros dos açudes, ou limpa as cacimbas. Faz os roçados e arregoa as estreitas faixas de solo arável à orla dos ribeirões. Está preparado para as plantações ligeiras à vinda das primeiras chuvas.
         Procura em seguida desvendar o futuro. Volve o olhar para as alturas; atenta longamente nos quadrantes; e perquire os tra- ços mais fugitivos das paisagens...
        Os sintomas do flagelo despontam-lhe, então, encadeados em série, sucedendo-se inflexíveis, como sinais comemorativos de uma moléstia cíclica, da sezão assombradora da Terra. Passam as “chuvas do caju" em outubro, rápidas, em chuvisqueiros prestes delidos nos ares ardentes, sem deixarem traços; e pintam as caatingas, aqui, ali, por toda a parte, mosqueadas de tufos pardos de árvores marcescentes, cada vez mais numerosos e maiores, lembrando cinzeiros de uma combustão abafada, sem chamas; e greta-se o chão; e abaixa-se vagarosamente o nível das cacimbas... Do mesmo passo nota que os dias, estuando logo ao alvorecer, transcorrem abrasantes, à medida que as noites se vão tornando cada vez mais frias. A atmosfera absorve-lhe, com avidez de esponja, o suor na fronte, enquanto a armadura de couro, sem mais a flexibilidade primitiva, se lhe endurece aos ombros, esturrada, rígida, feito uma couraça de bronze. E ao descer das tardes, dia a dia menores e sem crepúsculos, considera, entristecido, nos ares, em bandos, as primeiras aves emigrantes, transvoando a outros climas...
            É o prelúdio da sua desgraça.

(Euclides da Cunha, Os Sertões. Em: Massaud Moisés, A literatura brasileira através dos tempos, 2004.)

Assinale a alternativa em que a frase do texto reescrita mantém a correta relação entre as palavras, em conformidade com a norma culta e sem alteração do sentido original.

Alternativas
Comentários
  • Alternativa correta: c A questão também é interpretativa, porém trabalha com conhecimentos linguísticos específicos relacionados ao tema das variantes linguísticas. A alternativa é ‘C’, a questão é simples; mas, a leitura das alternativas é o que toma tempo do candidato nesse tipo de questão.

  • A - devido o ritmo

    forma correta> devido a alguma coisa > devido ao ritmo singular

    B-  abandonando a terra muito pouco invadida >sentido errado

    ele abandona a terra a pouco(texto)> sentido de abandonar gradualmente a terra.

    C- Correta

    D- Está o homem sertanejo ligeiramente preparado>errado

    Está preparado para as plantações ligeiras à vinda das primeiras chuvas(texto)

    O homem sertanejo está preparado e não ligeiramente preparado.

    E -pois é feita de bronze.

    ...feito uma couraça de bronze.(texto).Feito= como.

    a armadura de couro não é feita de bronze.