TEXTO 1
As vozes do homem
Naquele momento de angústia,
o homem não sabia se era o mau ou o bom ladrão.
E quando a mais amarga das estrelas o oprimia demais,
eis que a sua boca ia dizendo:
eu sou anjo.
E os pés do homem: nós somos asas.
E as mãos: nós somos asas.
E a testa do homem: eu sou a lei.
E os braços: nós somos cetros.
E o peito: eu sou o escudo.
E as pernas: nós somos as colunas.
E a palavra do homem: eu sou o Verbo.
E o espírito do homem: eu sou o Verbo.
E o cérebro: eu sou o guia.
E o estômago: eu sou o alimento.
E se repetiram depois as acusações milenárias.
E todas as alianças se desfizeram de súbito.
E todas as maldições ressoaram tremendas.
E as espadas de fogo interceptaram o caminho da
[árvore da vida.
E as mãos abarcaram o pescoço do homem:
nós te abarcaremos.
[...]
(LIMA, Jorge de. Melhores poemas. São Paulo: Global,
2006. p. 94.)
O Texto 1 apresenta no seu primeiro verso uma das
temáticas que norteiam bem a situação do homem contemporâneo:
a angústia. É interessante observar que esse
tema ganha força na atualidade, principalmente pelo
viés do consumo. Veja o fragmento abaixo:
“Diante de um mercado forte e diversificado, o
homem da sociedade contemporânea é continuamente
bombardeado por sedutoras peças publicitárias que prometem
bem-estar, status, conforto, projeção imediata e
ilusão de segurança. Com a chegada das festas de fim de ano, a lógica do 'consumo, logo existo', segundo a qual
o bem-estar é conquistado pela aquisição de produtos, se
torna ainda mais evidente. Em casos extremos, a compulsão
por compras pode se tornar patológica."
(Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/cons....
Acesso em: 3 jan.
2015. Adaptado.)
Sobre essa temática (angústia) que envolve o homem
e o fragmento anterior, analise as proposições a
seguir:
I- Nietzsche, um dos pensadores mais importantes
do século XIX, retorna até os gregos para defender
Sócrates; afinal, ele foi o primeiro a encaminhar a
reflexão moral em direção ao controle racional das
paixões. Ele orienta seus escritos na direção de subjugar
pela razão as forças vitais, instintivas, pois só
ela garante o bom e o valoroso. E, portanto, a razão
consegue pôr um fim à angústia humana.
II- Kierkegaard, filósofo dinamarquês do século XIX,
foi o primeiro a descrever a angústia como experiência
fundamental do ser livre ao se colocar em situação de escolha. Para ele, a existência é permeada de
contradições que a razão é incapaz de solucionar. A
solução da contradição se daria pela paixão.
III- Na atualidade, vive-se a loucura de desejar. O consumo
tem como objetivo deixar a pessoa descontente
(angustiada) com o que já possui e desejar o que
não precisa possuir. Os capitalistas têm como lema
despertar nas pessoas a necessidade de comprar loucamente.
E, para tanto, procuram fazer o homem se
perder nos chamados desejos artificiais. Segundo
Jacques Lacan, filósofo e psicanalista, o seu desejo
parte do desejo do outro. Você não irá querer um
Galaxy ou um Xbox 360 se o outro não tiver tal objeto.
Para o desejo se constituir enquanto tal, existe
a necessidade do outro. Para Lacan, “O desejo do
homem é o desejo do outro".
IV-Hegel é um dos filósofos que ajudam a fortalecer a
ideia Kierkegaardiana quando, em sua obra Fenomenologia
do espírito, trata sobre como solucionar
os conflitos do ser humano por meio do conceito.
Hegel acredita e defende que a angústia precede o
ato livre. Para ele, o ser humano é visto como ser
existente.
Em relação às proposições analisadas, assinale a alternativa
correta: