TEXTO 4
Lua de mel! Lua de fel. Bebi meu cálice de amargura,
cumprindo cada uma das estações da dor. Fui
para a cama com um rapaz decente, um amigo fiel,
porém insípido, insosso, desenxabido como a sopa
que agora engulo todas as noites. Enquanto isso, perto
dali, o homem pelo qual meu corpo inteiro latejava,
que eu queria e que me desejava, entrava debaixo dos
lençóis de outra mulher, minha irmã. Amor, paixão,
revolta. Ódio. Com que fúria maldisse meu pai, minha
mãe. Ana Alice, minha irmã, tão apaixonada pelo
Vítor quanto eu, e com a vantagem daquele odioso arzinho
de fragilidade, o trunfo que acabou lhe garantindo
a vitória. Na batalha da força contra a fraqueza,
a última saiu vitoriosa. Quem diria! Com tão escassa
munição, a sonsa Ana Alice venceu a peleja.
O castigo tem pressa, não se faz esperar. Aqui
se faz, aqui se paga. O preço foi alto; durante anos,
minha irmã permaneceu chafurdada no inferno do
ciúme. Chamuscou na labareda da inveja a pureza de
suas lindas asas de anjo. Encontrou, um dia, a felicidade?
Não encontrou? Uma coisa é certa: ninguém
pode dizer que Ana Alice tenha sido rejeitada. E, ao
seu modo, talvez tenha sido feliz sim, não sei. No final,
acomodou-se nos braços de um amor maduro, se
morno ou não, quem há de saber? Morreu tranquila
ao lado do marido. Naqueles tempos em que a palavra
dada tinha peso de assinatura, ninguém ponderou
a força da paixão que unia o Vítor a mim. Não
avaliaram a ameaça que representava nossa cumplicidade,
o gosto pelas mesmas coisas, um amor jovem
demais desabrochado na clandestinidade. No início
de nossos casamentos, resistimos. Permanecemos
aparentemente acomodados em nossos compromissos
arranjados. Antes de tudo, vinha a arraigada convicção
de que era necessário manter as aparências.
(BARROS, Adelice da Silveira. Mesa dos inocentes.
Goiânia: Kelps, 2010. p. 19.)
Sabemos que em Literatura nem tudo o que parece é, de fato. As palavras possuem, no universo literário, pesos e medidas imensuráveis. Assim, a história das irmãs envolvidas na trama narrada por uma delas, no romance Mesa dos inocentes, de Adelice da Silveira Barros, de que faz parte o Texto 4, nos leva a concluir que (marque a alternativa correta):