SóProvas


ID
1603483
Banca
CEPERJ
Órgão
Prefeitura de Saquarema - RJ
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                                                       A ERA DAS GRANDES TRANSFORMAÇÕES

Vivemos na era das Grandes Transformações. Entre tantas, destaco apenas duas: a primeira no campo da economia e a segunda no campo da consciência.
A primeira na economia: começou partir de 1834 quando se consolidou a revolução industrial na Inglaterra. Consiste na passagem de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado.
Mercado sempre existiu na história da humanidade, mas nunca uma sociedade só de mercado. Quer dizer, a economia é o que conta, o resto deve servir a ela.
Diz-se que mercado deve ser livre e o Estado é visto como seu grande empecilho. Missão deste, na verdade, é ordenar com leis e normas a sociedade, também o campo econômico e coordenar a busca comum do bem comum. A Grande Transformação postula um Estado mínimo, limitado praticamente às questões ligadas à infraestrutura da sociedade, ao fisco e à segurança. Tudo o mais
pertence e é regulado pelo mercado.
Tudo pode ser levado ao mercado como água potável, sementes, alimentos e até órgãos humanos. Esta mercantilização penetrou em todos os setores da sociedade: a saúde, a educação, o esporte, o mundo das artes e do entretenimento e até nos grupos importantes das religiões e das igrejas com seus programas de TV e de rádio.
Essa forma de organizar a sociedade unicamente ao redor dos interesses econômicos do mercado cindiu a humanidade de cima a baixo: um fosso enorme se criou entre os poucos ricos e os muitos pobres.
Essa voracidade encontrou o limite da própria Terra. Ela não possui todos os bens e serviços suficientes e renováveis. Não é um baú sem fundo. Tal fato dificulta senão impede a reprodução do sistema produtivista/capitalista. É sua crise.
Essa Transformação, por sua lógica interna, está se tornando biocida, ecocida e geocida. A vida corre risco e a Terra poderá não nos querer mais sobre ela, porque somos demasiadamente destruitivos.
A segunda Grande Transformação está se dando no campo da consciência. Na medida em que crescem os danos à natureza que afetam a qualidade de vida, cresce simultaneamente a consciência de que, na ordem de 90%, tais danos se devem à atividade irresponsável e irracional dos seres humanos, mais especificamente,daquelas elites de poder econômico, político, cultural e mediático que se constituem em grandes corporações multilaterais e que assumiram os rumos do mundo.
Temos, com urgência, que fazer alguma coisa que interrompa o percurso para o precipício. O primeiro estudo global foi feito em 1972. Revelou-se que ela está doente. A causa principal é o tipo
de desenvolvimento que as sociedades assumiram. Ele acaba ultrapassando os limites de suportabilidade da natureza e da Terra. Temos que produzir, sim, para alimentar a humanidade. Mas de outro jeito, respeitando os ritmos da natureza e seus limites, permitindo que ela descanse e se refaça.
A reflexão ecológica se complexificou. Não se pode reduzi-la apenas à preservação do meio ambiente. A totalidade do sistema mundo está em jogo. Assim surgiu uma ecologia ambiental que tem como meta a qualidade de vida; uma ecologia social que visa um modo sustentável de vida (produção, distribuição, consumo e tratamento dos dejetos); uma ecologia mental que se propõe criticar preconceitos e visões de mundo hostis à vida e formular um novo design civilizatório, à base de princípios e de valores para uma nova forma de habitar a Casa Comum; e por fim uma ecologia integral que se dá conta de que a Terra é parte de um universo em evolução e que devemos viver em harmonia com o Todo, uno, complexo e carregado de propósito. Daí resulta a paz.
Se triunfar a consciência do cuidado e da nossa responsabilidade coletiva pela Terra e por nossa civilização, seguramente teremos ainda futuro.

Leonardo Boff
(http://cartamaior.com.br/?/Coluna/A-era-das-grandes-transformacoes/33427).

Em “Consiste na passagem de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado” (2º parágrafo), observa-se a repetição de uma estrutura semelhante, com a substituição de uma palavra
por outra. Essa substituição ressalta a seguinte ideia do parágrafo:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: letra A

    O debate está aberto e mobiliza as melhores cabeças do mundo. Foi aberto por Michael Sandel, professor de filosofia política de Harvard, escritor consagrado e um dos mais influentes intelectuais da atualidade.

    Não, ele não é um comunista ou incentivador dos Black Blocs. E valoriza a livre iniciativa e o empreendedorismo. No entanto, notou um descompasso nas relações humanas contemporâneas.

    Para Sandel, a economia de mercado é uma ferramenta valiosa e eficaz para organizar a atividade produtiva. Em paralelo, a sociedade de mercado é um “lugar” onde quase tudo pode ser posto à venda.

    Nesse segundo modelo, que segundo ele vem se fortalecendo nos últimos 30 anos, o sistema de compra e venda começa a dominar perigosamente outros aspectos da vida, como relações familiares, educação, saúde e política.

    Para o intelectual, acende-se o sinal amarelo, ou vermelho, quando tudo passa a ter um preço e quando os preceitos éticos podem ser suprimidos por uma boa oferta.

    Ele cita alguns exemplos da comercialização suspeita de alguns privilégios. É o caso de cadeias que, por dinheiro, se convertem em hotéis e oferecem boas acomodações a terríveis criminosos. É o caso de parques temáticos que vendem tickets para quem pretende furar a fila.

    Até no Congresso norte-americano há empresas que vendem acesso privilegiado a audiências. Ganham os melhores lugares aqueles lobistas que pagarem mais pelo serviço.

    Segundo Sandel, não há problema algum quando o dinheiro garante acesso a iates, férias extravagantes ou carros de luxo. O problema é quando determina o alcance de direitos básicos, como atendimento de saúde, educação de qualidade e voz política.

    Ele condena outro uso do dinheiro, cada vez mais comum nos EUA. Trata-se do incentivo a crianças que tiram boas notas ou que se dedicam à leitura. Para o pensador, a busca do conhecimento deveria ser um prazer e não um negócio remunerado.

    Na visão de Sandel, os mercados não afetam os bens tangíveis que comercializam, mas podem afetar decisivamente as práticas sociais e a vida cívica. Em algumas situações, o dinheiro desencoraja práticas fundadas em valores.

    Para o professor, a mercantilização crescente da vida conduz a atitudes egoístas, gananciosas e a uma crescente separação entre as pessoas.

    Segundo ele, a democracia não requer uma igualdade perfeita, mas requer compartilhamentos e atitudes baseadas em decisões morais. É o que tenho dito em minhas palestras e meus livros, como A Economia do Cedro." Fonte: site Carlos Julio