O fim dos álbuns de fotografias
Quando me pergunto o que deverá desaparecer nos
próximos anos, por conta dos avanços tecnológicos que mudam
ou suprimem hábitos e valores tradicionais, incluo os álbuns de
fotografias. Na verdade, são as fotografias mesmas, aquelas
reveladas em papel, que estão desaparecendo para dar lugar
às imagens arquivadas num celular ou num computador. Não é
mais o tempo que as torna apagadas ou amareladas; é o nosso
súbito desinteresse que as remove de vez ao toque de um
“delete”. Nem pensar em armazená-las naqueles álbuns de
capa dura e folhas de papelão, alguns encadernados em pano,
álbuns de família, que se acumulavam em baús ou velhos
armários. São monumentos remotos, de um tempo em que a
memória ia longe, chegava aos avós e aos bisavós.
Pergunto-me se não é a qualidade mesma da nossa
memória, do nosso interesse pelas recordações, se não é o
valor mesmo da memória que está mudando de forma radical.
Parece estar havendo um crescente desprestígio de tudo o que
se refere ao passado, ainda quando esse passado seja recente.
Com isso, o tempo se reduz ao instante que está passando e ao
aguardado amanhã, do qual se exigem novas revelações, novos
milagres. Um álbum de fotografias, nessa velocidade, é um
objeto de museu, testemunha de tempos mais ingênuos e de
imagens paralisadas.
Enquanto não morrem de vez, ainda me detenho em
alguns desses álbuns. Quase sempre são de gosto duvidoso,
com capas pretensiosas, ilustradas com flores coloridas, gatinhos
meigos, paisagens poéticas e outros mimos. Dentro deles
surpreendo a vida que já foi, os olhares que nos apanham em
nossa vez de ser modernos. Aí me ocorre que nossas imagens
não irão parar em álbuns caprichosos, talvez nem mesmo em
arquivos digitais: não estarão em lugar nenhum. É o preço que
se paga pelo desapego à memória.
(Vitório Damásio, inédito)
Atente para as seguintes afirmações:
I. No 1o
parágrafo, estabelece-se uma clara oposição
entre as expressões imagens arquivadas num celular
ou num computador e as imagens nos álbuns
que se acumulavam em baús ou velhos armários,
evidenciando-se assim uma significativa mudança
de hábitos.
II. No 2o
parágrafo, ao se valer da expressão um objeto
de museu, o autor mostra que é aceitável e justa
a depreciação crescente dos álbuns de fotografias,
uma vez que se trata de registros familiares, sem
interesse público.
III. No 3o
parágrafo, a expressão em nossa vez de ser
modernos acusa, com alguma ironia, o fato de que
também o nosso momento é passageiro, que não
podemos alimentar a pretensão de estarmos sempre
no mesmo passo em que ocorrem as novidades.
Em relação ao texto está correto o que se afirma APENAS
em