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ID
1612336
Banca
PM-MG
Órgão
PM-MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

“Minha empregada é muito abusada”

Rosana Pinheiro Machado


    Esta coluna começou no churrasco de domingo, quando, na fila do supermercado, uma mulher disse: "Minha empregada está muito abusada". Sua interlocutora respondeu: "Nem me fale, a minha também". Ao longo do almoço, eu e meus amigos tentávamos explicar o que significava a palavra “abusada” para um estrangeiro. Como fazê-lo entender que, independentemente da eficiência, a maioria das empregadas brasileiras seria, em algum momento, considerada “abusada”?

    A dificuldade era dimensionar a extensão do conceito. Começamos pela obviedade do significado da palavra “abuso”, que remete a algo de superlativo. Abusar é usar alguma coisa além do limite socialmente esperado. Por exemplo, quando a empregada é abusada por não subir no elevador de serviço, mas no social.

    Prossegui, explicando que se a empregada come muito, se toma muito refrigerante da geladeira ou come as bolachas de chocolate, ela é abusada. Se ela pede uma roupa emprestada, é abusada. Se ela senta à mesa com a família, é abusada.

    De todos esses exemplos, ele concluiu que abusada é aquela que quer mais do que lhe foi dado, que cobiça as coisas da patroa. A conversa ficou mais complexa porque tivemos de responder que “não”, que o oposto também era verdadeiro: uma empregada que quer “de menos” também é abusada. Seguimos explicando que, se a patroa oferece uma roupa velha, furada e fedida e empregada “tem a au-dá-cia” de não aceitar, ela é abusada.

    Ele concluiu, então, que uma boa empregada seria, então, aquela que assume “o seu lugar”: não pede muito, mas aceita de bom grado o que lhe é dado. Colocando o pé para fora dessa faixa muito estreita de atuação, ela é abusada. (...)

    A negação de presentes indignos por parte das empregadas traz à tona diversas camadas complexas de significados. A forma desajeitada como as patroas reagem escancara a profunda patologia social de uma classe média presa ao século XVII – provavelmente, em uma época em que ela se imagina numa casa-grande, cheia de porcelana inglesa e de escravos à volta, preferencialmente com uma negra para cozinhar. Ou melhor, ela se imagina em uma novela da Rede Globo do século XXI, onde a mulher negra ainda é explorada 24 horas por dia a serviço de suas patroas ricas.

   Essas patroas esperam empregadas sem agência, sem protagonismo, sem voz, sem vontade e sem opinião. (...). Elas esperam seres eternamente gratos por receberem restos. Nessa lógica em que, já diria Marcel Mauss, dar é poder, uma empregada que pede mais dinheiro para lavar a privada suja ou exige seus direitos garantidos na Constituição, só pode ser abusada. (...)

    Por tudo isso, eu penso que não aceitar qualquer presente é um marco muito importante na passagem de uma relação servil para a profissional (...). A negação revela a emergência de uma subjetividade repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho. É da negação que surge uma nova era no Brasil, pois ela quebra o círculo da dádiva e rompe com o poder do doador, estabelecendo uma condição de igualdade baseada na troca de serviços – e não de favores.

    As transformações recentes da sociedade brasileira indicam um leve rompimento (...) de uma relação tão pessoal quanto doentia entre patroas e empregadas. Indica o fim do ser humano como posse de outro ser humano. E isso, é claro, causa desespero, lamentação, recalque e conflitos.

    Ainda tem muito a ser feito e conquistado. Muito mesmo. Espero que chegue o dia em que eu não precise explicar o sentido da palavra "abusada". Neste dia, perder-se-á também alguma flexibilidade do modelo de empregadas dentro de casa. Será preciso se acostumar a ouvir “não, obrigada” e aprender a curtir genuinamente as fotos postadas daquela viagem. Neste dia, o serviço da limpeza será mais custoso, mas não há saída: esse é o preço de nosso desenvolvimento e de nossa liberdade enquanto nação.


Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cminha-empregada-e-muito-abusada201d-7617.html - Acessado em 14/05/2014 - Texto adaptado.

“A negação revela a emergência de uma subjetividade repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho”. De acordo com o trecho, é CORRETO afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • Onde o texto diz que "A subjetividade é prejudicial às relações trabalhistas"???

    O texto diz que "não aceitar (negação) qualquer presente é um marco muito importante na passagem de uma relação servil para a profissional"

    Assim, a negação pode alterar as relações trabalhistas, de servil pra profissional, o que não quer dizer que essa subjetividade seja necessariamente ruim. O oposto, o texto mostra que isso pode ser muito bom para às relações trabalhistas.

  • De acordo com o texto entendo que a letra D seja a alternativa correta. Na verdade é a subjetividade e a vontade que podem gerar transformações positivas nas relações de trabalho e isto não é definitivamente prejudicial como aponta a alternativa dada como correta.

  • concordo com os colegas, acho que a D seja a correta.


  • Segundo o texto o gabarito está correto, pois a subjetividade da empregada atrapalha o trabalho... acho! 

  • Questão polêmica


    1. A questão pede que se responda de acordo com o trecho. não é possível chegar a essa conclusão de acordo com o trecho.


    2. se interpretarmos o texto como um todo, me parece ser uma extrapolação, mas é, FORÇOSAMENTE, possível chegar ao gabarito através do seguinte trecho:


    "E isso, é claro, causa desespero, lamentação, recalque e conflitos"


    Minha opinião: questão que merece ser anulada, pois o comando da questão pede que se interprete de acordo com o trecho.

  • Letra (C) A ``negação revela a emergência``

     de uma subjetividade repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho.


  • gabarito D sem dúvidas

     

  • Subjetividade de modo simples significa "opinão pessoal, ponto de vista".

    "A negação revela a emergência de uma "OPINIÃO" repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho” 

    É exatamente a SUBJETIVADE, OPINIÃO PESSOAL, que deve ser descartada nas relações trabalhistas impessoais, pois implica em prejuízos a está.

     

    Ex.: A opinião da patroa (subjetividade) de considerar, definir a empregada como "abusada". (Fere a relação trabalhista.)

     

    Minha subjetivida! 

  • Acredito que o gabarito seja a alternativa D. Vejamos: O subjetivismo e a vontade da patroa sempre estará presente e, com a omissão da opinião por parte da empregada, teremos a relação de posse de outro ser humano, ou seja, poder de dar e a empregada ser grata, dádiva. De outro lado, vale destacar que, se o subjetivismo e a vontade forem sustentados pela empregada, haverá a quebra desse círculo vicioso da dávida e faz com que prevaleca a lógica de prestação de serviços. Portanto, repito, letra D.

  • LETRA D ......SÓ OLHAR O PRONOME RELATIVO E TRANSCREVER A FRASE. .....NÃO TEM COMO SER DIFERENTE

  • concordo plenamente com os colegas.

    questão que pra mim a resposta também seria a alternativa de letra D

    A QUESTÃO

    deveria sim ser anulada pois o enunciado pede com clareza que a questão em si

    fosse respondida de acordo com o trecho .

    E não de acordo com o TEXTO.

  • @PMMINAS

    "TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE"

    C

    Acredito que seja isto. A SUBJETIVIDADE origina-se das péssimas relações trabalhistas, pois decorre de uma relação ruim entre patroa e empregada, E CASO NÃO TENHA ESSA SUBJETIVIDADE SIGNIFICA QUE A RELAÇÃO ENTRE AS PARTES DESSAS RELAÇÕES ESTÁ ÓTIMA.

    Sendo assim, não é boa para as relações trabalhistas a subjetividade, pois remete que algo está errado nesses vínculos .

  • QUESTÃO ESTRANHA

    MARQUEI D