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ID
1617481
Banca
ZAMBINI
Órgão
PRODESP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                        CAPÍTULO XXVII / VIRGÍLIA?


      Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, – devoção, ou talvez medo; creio que medo.

       Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando estas páginas vierem à luz, – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de hoje e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte não me tornou rabugento, nem injusto.

      – Mas, dirás tu, como é que podes assim discernir a verdade daquele tempo, e exprimi-la depois de tantos anos?

      Ah! indiscreta! ah! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da Terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.


(MACHADO DE ASSIS, J. M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Ediouro, s. d.)

Sobre a personagem Virgília, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • "Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. "

    Aqui, o autor compara a beleza de Virgília com a das moças de seu tempo, sendo assim, é possível concluir que a moça não era a mais bela de seu tempo.

    Letra D.

  • Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. "

    Quando leio, não entendo que "na opinião do narrador, não era a mais bela moça de seu tempo". Entendo que o autor não quer fazer esse tipo de julgo de valor nem comparação, justamente por não se tratar de uma literatura romântica, na qual há essa característica de sobressaltar as qualidades.

  • Acredito que a chave está em no vocábulo primazia.

    Ter a primazia significa possuir o privilégio de algo, assim como ter a prioridade em relação aos outros indivíduos, ou seja, quem está em primeiro lugar ou a frente.

    Se Virgília não detinha a primazia da beleza entre as moças do seu tempo, então não ser a mais bela moça do seu tempo é algo que pode-se concluir, conforme a alternativa d).

    O texto diz "Não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma espinha ou sarda". Se ele não diz que tem, não posso afirmar que ela tinha tais sinais no rosto, o que acarreta erro na alternativa c).