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ID
1620979
Banca
IF-PA
Órgão
IF-PA
Ano
2015
Provas
Disciplina
Sociologia

Na exata medida em que a iniciação é, inegavelmente, uma comprovação da coragem pessoal, esta se exprime – se é que podemos dizê-lo – no silêncio oposto ao do sofrimento. Entretanto, depois da iniciação, já esquecido todo sofrimento, ainda subsiste algo, um saldo irrevogável, os sulcos deixados no corpo pela operação executada com a faca ou a pedra, as cicatrizes das feridas recebidas. Um homem iniciado é um homem marcado. O objetivo da iniciação, em seu momento de tortura, é marcar o corpo: no ritual iniciatório, a sociedade imprime sua marca no corpo dos jovens. Ora, uma cicatriz, uma marca, são indeléveis (...) A marca é um obstáculo ao esquecimento, o próprio corpo traz impressos em si os sulcos da lembrança – o corpo é uma memória (CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora S.A., 1988, p.128)


No referido trecho, o antropólogo francês Pierre Clastres, demonstra como nas chamadas sociedades primitivas o corpo tinha o status de uma escritura, sobre a qual as normas, os costumes sociais eram inevitavelmente inscritos. Diante disto, qual a alternativa que NÃO se aproxima do debate por Clastres:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: e

    Pelo contrário, os ritos de iniciação não são para "se livrar". 

    É muito extenso o número de sociedades primitivas que mostram a importância por elas atribuída ao ingresso dos jovens na idade adulta através da instituição dos chamados ritos de passagem. Esses rituais de iniciação constituem muitas vezes um eixo essencial, em relação ao qual se ordena, em sua totalidade, a vida social e religiosa da comunidade. Ora, quase sempre o rito iniciatório considera a utilização do corpo dos iniciados. É, sem qualquer intermediário, o corpo que a sociedade designa como único espaço propício a conter o sinal de um tempo, o traço de uma passagem, a determinação de um destino. Em qual segredo inicia o rito que, por um momento, toma completa posse do corpo do iniciado? Proximidade, cumplicidade do corpo e do segredo, do corpo e da verdade revelada pela iniciação: o reconhecimento disso leva a precisar a interrogação. Por que é necessário que o corpo individual seja o ponto de encontro do éthos tribal, por que o segredo só pode ser comunicado mediante a operação social dos ritos sobre o corpo dos jovens? O corpo mediatiza a aquisição de um saber, e esse saber é inscrito no corpo. Natureza desse saber transmitido pelo rito, função do corpo no desenrolar do tiro: dupla questão em que se resolve o problema do sentido da iniciação. (CLASTRES, 1974, p.125-126)