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ID
1626625
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
Instituto Rio Branco
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

        Em setembro de 1916, Fernando Pessoa pensava que o n.º 3 da revista Orpheu ainda poderia vir à luz. E, de fato, chega a entrar no prelo, imprimindo-se apenas algumas folhas. No sumário, como se depreende da carta a Cortes Rodrigues de 4 desse mês, deveriam figurar poemas ingleses do profeta do “supra-Camões” e “colaboração variada” do seu “velho e infeliz amigo Álvaro de Campos”. Vale a pena reparar nos adjetivos deploradores que o poeta junta, nessa data, ao nome do seu heterônimo dileto. Parece-me ser-nos lícito pensar que nesta altura já Álvaro de Campos dá indícios de “velhice” e “infelicidade”, ou seja, que Álvaro de Campos começa a despir a pele que lhe vestiram e, pelo menos como poeta, a tomar consciência de que a mistificação “sensacionisto-futurista” lhe não assenta bem. Daí que ao Fernando Pessoa não de todo desenganado dos “ismos” e ao mesmo Álvaro de Campos doutrinário, o Álvaro de Campos poeta se lhes entremostre “velho” e “infeliz”.

      Seja como for, o certo é que em setembro de 1916, Pessoa, que se tem por “reconstruído” nessa altura, parece decidido a “fazer uma grande alteração na (sua) vida” como confidencia ao amigo micaelense: “vou tirar o acento circunflexo do meu apelido”. Realmente, “Pessôa” aparecera sempre, até então, ortografado com acento circunflexo. Grande alteração na vida: “Pessoa” iria passar a ser ortografado sem esse inútil apêndice! Sempre à beira do paradoxo e da boutade, Fernando Pessoa não perde a ocasião de ir além de si mesmo — de se mistificar a si próprio. Era então o momento de tomar tão grave medida. Com efeito, tendo apenas publicado com o seu verdadeiro nome, a esta data, além das Impressões do Crepúsculo, uns versos mais, o fato de ir publicar agora na Orpheu dois poemas ingleses — “muito indecentes, e, portanto, impublicáveis em Inglaterra” — levava-o a achar melhor “desadaptar-se” de uma partícula que lhe prejudicava a projeção cosmopolita do nome.

    Como a Orpheu 3 não chega, porém, a vir à luz, Fernando Pessoa sem circunflexo tem de esperar pela publicação da revista Centauro, lançada em fins de 1916 (Outubro–Novembro–Dezembro), para aparecer, de fato, como autor dos Passos da Cruz.

    Pormenor chistoso, boutade do incansável mistificador Fernando Pessoa, esta “desadaptação” ao circunflexo corresponde, todavia, a qualquer coisa mais importante do que parece. O poeta de Gládio atinge por esta altura a sua maioridade poética.

João Gaspar Simões. Vida e obra de Fernando Pessoa. Lisboa: Livraria Bertrand, 1981, 5.ª edição, p. 393-4 (com adaptações).

A respeito das ideias desenvolvidas no texto acima, julgue (C ou E) o item subsecutivo.

No texto, o autor informa que o abandono do acento circunflexo no sobrenome representou, para o poeta português, uma revolução estética considerável, que faria do autor de Passos da Cruz um escritor muito mais vanguardista do que antes.

Alternativas
Comentários
  • Errado.

    Pormenor chistoso, boutade do incansável mistificador Fernando Pessoa, esta “desadaptação” ao circunflexo corresponde, todavia, a qualquer coisa mais importante do que parece

  • Errei a questão, por na leitura não ter precisão com os significados de "vanguardista (estar a frente de sua época; modernizar-se" e "cosmopolita (oriundo dos próprios ou grandes centros urbanos)", fazendo interpretação errada do trecho onde estão presentes essas palavras, minha interpretação foi induzida ao erro. E fazendo uma leitura mais precisa é possível perceber que o termo vanguardista seria uma interpretação que extrapolaria os sentidos do texto, pois ele pode até se desfazer do acento para facilitar seu acesso à Inglaterra, mas isso não o garantiria que seria um escritor inovador.

  • Só completando a citação do Everton, o trecho "O poeta de Gládio atinge por esta altura a sua maioridade poética"; deixa bem claro que Fernando está em seu amadurecimento poético e não em momento vanguardista.

    Foco... 
  • Ao retirar o acento de seu nome Fernando Pessoa busca uma afirmação modernista e não um vanguardista.

  • O pior não é interpretar. É ler esse tipo de texto. Inútil.

  • em que pese o texto ser um tanto truncado a resposta pode ser aferida da seguinte passagem : "O poeta de Gládio atinge por esta altura a sua maioridade poética" . A assertiva afirma que houve uma mudança para um patamar de vanguardismo, o que extrapola os limites do texto. Trata-se do erro de interpretação de extrapolação, muito cobrado pelo Cespe 

  • que texto gostoso de ler...

    vontade de passar a lingua na tela.

  • cuidado..

    Vanguardista = adj. Moderno; que apresenta conceitos novos e modernos; em que há inovação de ideias, tendências e opiniões: escritor vanguardista.

  • O texto não fala em sobrenome, mas sim apelido. 

    “vou tirar o acento circunflexo do meu apelido”
  • "No texto, o autor informa que o abandono do acento circunflexo no sobrenome representou, para o poeta português, uma revolução estética considerável, que faria do autor de Passos da Cruz um escritor muito mais vanguardista do que antes."

    ERRADA.

    Fernando Pessoa era um escritor português, apreciador do moscatel, uma bebida. 

    Por ser portador de depressão, Fernando Pessoa tinha suas alterações de humor e de êxtase, mistificando-o.

    O autor do texto denota muito bem o teor debochado do escritor supracitado quando menciona a retirada do acento '^' do Pessôa. 

  • Primeiro que o texto nem momento algum fala sobre vanguarda e segundo que o abandono do acento circunflexo no sobrenome fez com que Fernando Pessoa atingisse "por esta altura a sua maioridade poética."

  • Em primeiro lugar, quero muito saber se só eu viajo com esse tipo de texto, não que eu me concentre tanto nele e viajo no que ele está dizendo. Viajo por nem conseguir ficar nele rsrsr... Texto nojeeeeento (desculpem aí kkkkk).

  • Pra Ex-nunc, apelido quer dizer sobrenome em português luso;

    Guardião, a chatice dos textos do cacd são intencionais...