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ID
1626628
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
Instituto Rio Branco
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

        Em setembro de 1916, Fernando Pessoa pensava que o n.º 3 da revista Orpheu ainda poderia vir à luz. E, de fato, chega a entrar no prelo, imprimindo-se apenas algumas folhas. No sumário, como se depreende da carta a Cortes Rodrigues de 4 desse mês, deveriam figurar poemas ingleses do profeta do “supra-Camões” e “colaboração variada” do seu “velho e infeliz amigo Álvaro de Campos”. Vale a pena reparar nos adjetivos deploradores que o poeta junta, nessa data, ao nome do seu heterônimo dileto. Parece-me ser-nos lícito pensar que nesta altura já Álvaro de Campos dá indícios de “velhice” e “infelicidade”, ou seja, que Álvaro de Campos começa a despir a pele que lhe vestiram e, pelo menos como poeta, a tomar consciência de que a mistificação “sensacionisto-futurista” lhe não assenta bem. Daí que ao Fernando Pessoa não de todo desenganado dos “ismos” e ao mesmo Álvaro de Campos doutrinário, o Álvaro de Campos poeta se lhes entremostre “velho” e “infeliz”.

      Seja como for, o certo é que em setembro de 1916, Pessoa, que se tem por “reconstruído” nessa altura, parece decidido a “fazer uma grande alteração na (sua) vida” como confidencia ao amigo micaelense: “vou tirar o acento circunflexo do meu apelido”. Realmente, “Pessôa” aparecera sempre, até então, ortografado com acento circunflexo. Grande alteração na vida: “Pessoa” iria passar a ser ortografado sem esse inútil apêndice! Sempre à beira do paradoxo e da boutade, Fernando Pessoa não perde a ocasião de ir além de si mesmo — de se mistificar a si próprio. Era então o momento de tomar tão grave medida. Com efeito, tendo apenas publicado com o seu verdadeiro nome, a esta data, além das Impressões do Crepúsculo, uns versos mais, o fato de ir publicar agora na Orpheu dois poemas ingleses — “muito indecentes, e, portanto, impublicáveis em Inglaterra” — levava-o a achar melhor “desadaptar-se” de uma partícula que lhe prejudicava a projeção cosmopolita do nome.

    Como a Orpheu 3 não chega, porém, a vir à luz, Fernando Pessoa sem circunflexo tem de esperar pela publicação da revista Centauro, lançada em fins de 1916 (Outubro–Novembro–Dezembro), para aparecer, de fato, como autor dos Passos da Cruz.

    Pormenor chistoso, boutade do incansável mistificador Fernando Pessoa, esta “desadaptação” ao circunflexo corresponde, todavia, a qualquer coisa mais importante do que parece. O poeta de Gládio atinge por esta altura a sua maioridade poética.

João Gaspar Simões. Vida e obra de Fernando Pessoa. Lisboa: Livraria Bertrand, 1981, 5.ª edição, p. 393-4 (com adaptações).

A respeito das ideias desenvolvidas no texto acima, julgue (C ou E) o item subsecutivo.

Fernando Pessoa escreveu poemas que não poderiam jamais ser traduzidos para a língua inglesa, uma vez que na Inglaterra aqueles mesmos poemas seriam considerados muito indecentes.

Alternativas
Comentários
  • ERRADA.

    O texto diz que os poemas são ingleses.

    Ou seja, os poemas estão em língua inglesa, mas são impublicáveis na Inglaterra.

    Portanto, o item extrapola totalmente.


  • Errado,

    Palavra chave -  dois poemas inglesesimpublicáveis em Inglaterra.
    A palava TRADUÇÃO não está no texto.
  • Não seria caso de uma ironia?

  •  “muito indecentes, e, portanto, impublicáveis em Inglaterra” A questão aborda que não poderiam ser traduzidos. (E)

  • Jamais publicar em nenhum momento é  dito, apenas teria que adaptar o texto naquele momento para ser publicado.

  • "poemas ingleses - impublicáveis" A questão extrapola ao dizer da tradução para o inglês, já que os poemas já estão em inglês. 

  • Gabarito: Errado


    Em nenhum momento o texto disse que os poemas precisaram ser traduzidos, somente que não poderiam ser publicados.


    "muito indecentes, e, portanto, impublicáveis em Inglaterra"


    Bons estudos!

  • Típica questão de extrapolação.

     

    GAB. ERRADO

  • Muito cuidado com expressões categóricas pois elas restringem a interpretação. Na assertiva o uso dessa expressão vem pela emprego da palavras JAMAIS.

    O texto informa que Orpheu são dois poemas ingleses, impublicavéis à época NA INGLATERRA por serem indecentes:

     “muito indecentes, e, portanto, impublicáveis em Inglaterra”.

     

    O texto não diz que os poemas não poderiam ser píblicados em língua inglessa.

  • Maldita questão. Eu te excomungo em nome do senhor.

  • JAMAIIIIS! NUNCAAA! JAMAIS!!